sábado, 8 de maio de 2010

O FANTASMA DA CENSURA À SOLTA NO CAFÉ SANTA CRUZ




 Por ocasião da comemoração do 87º aniversário o Café Santa Cruz –o último reduto dos velhos cafés de tertúlia da Baixa de Coimbra- apresentou um vasto programa de animação e iniciativas de reflexão.
 Passavam poucos minutos depois das 16 horas, com uma sala razoavelmente bem composta, deu-se início a um debate organizado pelo Sindicato dos professores da Região Centro e sobre o lema: “Liberdade de expressão e Imprensa”.
 No painel, como moderador Mário Nogueira. Como convidados, o jornalista da SIC Notícias Mário Crespo, e Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos jornalistas.
Depois de feitas as apresentações por Mário Nogueira, deu-se a palavra a Mário Crespo, que foi desfolhando o rol terrível de censura em que nos encontramos –que, lá no lugar em que me encontrava sentado, até dei por mim a pôr a mão no peito e a mandar um grito rouco que só eu senti: “Ai, mãezinha!”.
Lá foi carpindo as mágoas da sua crónica não ter sido publicada no Jornal de Notícias e até disse: “já lá vão 3 ou 4 meses e ninguém me convidou para escrever noutro jornal!”. Como eu o entendi bem! A mim já vão décadas que ninguém me convida para escrever…a pagar.
Lá foi escarnecendo nesta longa noite escura em que vive a imprensa e deu até um exemplo: “ como é que podemos encarar a sério esta gente?”, falando sobre o caso do furto dos dois gravadores, aos jornalistas da revista Visão, feito por Ricardo Rodrigues, deputado do partido Socialista.
E Mário Crespo disse mais: “vivo com bastante receio”, referindo-se, em analogia, a um caso de um jornalista que conheceu na África do Sul e foi metralhado à porta do jornal. Na minha cadeira, de assento de couro, cada vez me encolhi mais, e, mentalmente, lá fui pensando mau, mau! O melhor é nem escrever nada no blogue do que se passou aqui.

DE SINDICATO PARA SINDICATO

 Alfredo Maia foi o segundo orador do debate que se iniciaria mais tarde. Lá foi dizendo que “a apropriação dos gravadores, executada por Ricardo Rodrigues era “larvaz”, como quem diz larval. E por acaso é verdade. Eu senti isso. Ao meu lado estava um tipo, que não sei se era jornalista ou não, com uma boa máquina fotográfica e então não é que eu fui tentado pelo diabo em lhe “dar a palmada”? A sério! É que a minha não vale um pífaro! Valeu-me um santinho dali ao lado da igreja de Santa Cruz, que –com a pressa até me esqueci de lhe perguntar a graça- mentalmente lá me foi dizendo “não faças isso Toino, que às tantas ainda está para aí alguma câmara a gravar e acontece-te o mesmo que ao outro”. E foi o que me valeu.
 O Alfredo Maia –falando assim tu cá, tu lá, de colega para colega- lá foi dissertando sobre “o medo cala a consciência e uma consciência calada é uma voz crítica que se apaga”. Bonito. Gostei.
 Lá foi esclarecendo os ignorantes como eu que “o cartel da mão-de-obra da informação que está aí para quem o quiser ver. A possibilidade de um jornalista voltar a arranjar emprego, depois de despedido, é ínfima. 1/5 de oportunidade de emprego está queimada”, referindo-se ao facto de os maiores jornais estarem na posse de grandes grupos económicos –mentalmente fui pensando que fiz bem em, aqui no blogue, estar tudo na mesma família. É o director Luís Fernandes, é o director-adjunto António Quintans, é o Editor executivo António Fernandes e até o chefe de redacção é da casa, que é o Fernandes Quintans. Assim está protegido. Ah, pois não, brincamos ó quê?

MÁRIO NOGUEIRA ENTRE O AMOR E O ÓDIO À IMPRENSA

 Para contemporizar, Mário Nogueira lá foi dizendo que temos de viver com ela, a imprensa. E até nem é tudo mau, até tem “o mérito de trazer para a opinião pública o conhecimento da indisciplina que grassa nas salas de aula" –referindo-se ao continuado até à exaustão das notícias sobre um caso ocorrido lá para as terras do Norte, em que um aluno filmou com um telemóvel o que se passou na sala de uma escola portuguesa...com certeza.
 Já não ouvi o debate entre a assistência. Calculei que a coisa ia descambar para o ressabiamento. Não sei, mas fiquei com a impressão que o painel, para além das rosas vermelhas, estava muito a cair no vermelhusco. Não é que isso me incomode alguma coisa, mas gosto de ver num debate uma “salguinhada” de ideias e de cores. Aquele estava muito amorfo, assim a cair no unanimista…não sei se me faço entender…

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