(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Segundo o anunciado na imprensa,
em Janeiro a electricidade vai aumentar 2,8% para os consumidores domésticos.
Também o gás natural verá o seu custo agravado em 2,5%. Como será óbvio, tendo
em conta que as Águas de Portugal preparam a fusão de várias empresas
municipais, incluindo as Águas do Mondego, tudo indica que esta verticalização
não será para bem dos consumidores e no futuro próximo teremos a água mais cara
também.
Já sem falar no desemprego, numa
altura em que os rendimentos das famílias descem vertiginosamente, com os
cortes já realizados e outros que, a partir de Janeiro, com o novo Orçamento
Geral do Estado (OGE), serão levados à prática é legítimo interrogar: que
destino quer dar o Governo aos portugueses? Costumo olhar as reformas com algum
cuidado de análise. Isto é, não gosto de criticar apenas porque é “politicamente
correcto”, é giro e fica bem a qualquer “Maria vai com as outras”. A meu ver muitas
delas são necessárias, o problema é que já deveriam ter sido encetadas há pelo
menos uma década. Só para ser mais claro, entre outras, a lei do arrendamento,
a lei laboral, a actualização predial, a reforma fiscal, a reorganização administrativa.
Em completo contra senso, a toda a pressão, pela imposição da Troika, em apenas
um ano tenta fazer-se o que não se fez em dez. E o mais grave é que é numa
altura em que a maioria dos portugueses não estão em condições financeiras para
poderem corresponder a esta reestruturação legislativa e social. Nestas
circunstâncias o Governo surge como uma entidade odiosa que, sem olhar a meios,
em vez de dar modos aos cidadãos para se organizarem, pura e simplesmente confisca
sem tomar em conta as circunstâncias de cada um. Ora se levarmos em conta que
estamos em democracia representativa –estamos, não estamos?-, que é o acto de,
através de sufrágio, eleger uma pessoa ou um grupo para nos representar, e ao verificarmos
que estes trabalhos exercidos por quem foi eleito por nós para nos defender nos
está a conduzir à ruína colectiva, o que deveremos depreender? O que está a falhar?
O sistema em si mesmo na forma, que permite laivos ditatoriais, ou na
circunstância em que tolera que os seus dirigentes, tomados de espírito divino imperial,
abusem do cargo para que foram escolhidos? E não vale a pena argumentar que andámos
todos muitos anos a viver acima das nossas possibilidades. Ainda que tal
premissa seja atendível e razoável, neste momento grave em que aumenta o
suicídio, se amplifica cada vez mais a indigência e grassa a fome, não é compreensível
para explicar a irracionalidade das medidas draconianas que, como guilhotina
que cai sobre o pescoço do sentenciado à morte, sem julgamento se condenem
milhões de pessoas à pobreza.
O exercício de derrubar todo um
edifício para construir um novo no seu lugar é um modelo esgotado de um tempo abastado
que passou. Ora, olhando a analogia, da mesma maneira, o Governo, sem olhar à
recuperação social, está a fazer exactamente o mesmo: para construir uma
sociedade nova, está a deixar morrer os mais velhos e, pelo ostracismo, a matar
os mais novos.
E o Presidente da República, que
também faz parte da democracia representativa, não faz nada? Veja-se a sua
posição de, mesmo tendo dúvidas, promulgar o OGE e só depois, em fiscalização
sucessiva, pedir ao Tribunal Constitucional que se pronuncie, segue a mesma
linha de pensamento e destruidora de vidas de uma grande maioria de portugueses.
Com o fundamento estafado do “soberano interesse do país”, por decreto,
abandonam-se milhões de pessoas à sua sorte. O que é isto?
Sem comentários:
Enviar um comentário