São 17h40 desta sexta-feira 21 de
Dezembro, data que a civilização Maya, há cerca de 3000 anos, deixou escrito
que hoje seria o fim do mundo. Há quem diga que é tudo uma questão de interpretação.
Pelos vistos, o que a civilização "mesoamericana" - diz na Wikipédia, significa
aproximadamente de “América intermédia” e que ficavam ali para o sul do México,
não sei se estão a ver- queria dizer é que hoje é o fim de um ciclo e o
princípio de uma nova Era, em que os habitantes da Terra
podem sofrer uma transformação espiritual. Ou seja, para os Mayas, hoje
começaria um novo tempo. Faz ou não sentido? Claro que faz! No fundo, não é o
que todos estamos à espera?
Fosse ou não por isso, o “Johny
B. Goode” –é a alcunha de um dos muitos personagens que vagueiam por estas ruelas
estreitas da Baixa diariamente e que a foi furtar ao Chuck Berry, numa célebre
canção de 1958-, acompanhado com a sua bicicleta e a tocar a campainha –e cuja “duas
rodas” está para ele como a guitarra estava para o Chuck Berry- aos quarenta
minutos para as 18 horas, com a Rua Eduardo Coelho praticamente às escuras
porque os candeeiros públicos só despertam para a noite quando ela já invadiu
completamente o Centro histórico, decidiu apanhar hoje uma grande “carraspana”,
para não variar. Ora bem, sendo sério e levando à letra o calendário Maya, não
sei se o “Johny” estará a despedir-se de uma nova vida para entrar noutra igual
ou não. O que sei é que o “B. Goode” procura uma namorada. Disse –me ele ali
mesmo a cru, neste fim de dia, que parece ser o fim do mundo por ter tão poucas
pessoas a passar nesta outrora movimentada via. Assim com cara séria, porque com
sentimentos e desejos alheios não se pode brincar, ainda lhe atirei: diz-me lá,
“Jonhy” que género de mulher procuras? Isto pode parecer “badalação” mas não é.
Conheço por aqui algumas raparigas, quem sabe eu não pudesse fazer a ponte
entre os dois? Bolas, estamos no Natal! O que uma pessoa puder fazer pelos
outros nesta altura faz. É ou não é? Nem que seja para alimentar a alma perdida
de alguém. É ou não é? Mas o “B. Goode”, sei lá se não me levou a sério ou por
dificuldades em distender a língua que estava meia entaramelada, como se
tivesse comido laranjas já velhas, mirradas e sem sumo, assim como algumas
figuras do PSD, não respondeu e continuou a tocar a sineta. Eu seja ceguinho se
ele não me pareceu o Paulo Portas a chamar atenção dos eleitores que não tem
nada a ver com as medidas deste Governo em cortar nas pensões sociais. É lógico
que com as devidas distâncias. O “Johny” só quer mesmo uma namorada e não quer
saber patavina de política.
Podemos também ser acometidos de
uma pertinácia: por que razão me veio o rapaz falar de um “arranjinho” com uma
futura namorada? Então eu sei lá? Faço cada pergunta a mim próprio que até fico
burro. Palavra! Posso aventar que à medida que o mundo gira em direcção à
meia-noite, em torno do seu imaginário eixo, ainda faltam umas horas e tudo
pode acontecer. Por outro lado, especulo, ninguém fala com o “B. Goode”, anda
tudo tão absorvido pela crise, num certo clima egoísta. Mesmo nos poucos que
passam, cada transeunte leva consigo o seu pequeno mundo, dentro deste universo
que ainda pode acabar hoje, fechando-se hermeticamente nos seus pensamentos,
embrulhando as angústias em papel pardo de tristeza, cortando os seus sonhos
com tesoura grande, de alfaiate, e rendendo-se ao declínio das suas ambições. Com
tantas preocupações, como é que alguém pode ter tempo para falar com o homem?
Se ele ao menos estivesse bem vestido, com roupa de cerimónia, e, em vez da “bicicle”
pintada a trincha tivesse um Mercedes para a substituir –assim como o sucateiro
lá do norte, que foi empurrado para a rua pelo bancário, e que logo mesmo a
seguir chamou as televisões e até conseguiu mandar gravar em filme o soldado GNR e tudo-,
ainda vá que não vá. Se fosse dono de um "carrão" e, às vezes, em vez de se fazer
escoltar com um cão cheio de carraças e pulgas, tivesse um puro “Serra da
Estrela” a dificuldade em arranjar uma amante estava excluída. É que uma pessoa
não vale apenas pelo que tem mas também pelo que aparenta.
Por que é que comecei a escrever
estas linhas sinuosas e que não se entende nada onde quero chegar? Não faço a
mínima ideia. Se calhar será pela eventualidade de o mundo ainda acabar hoje.
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