sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

DO BARULHO ENSURDECEDOR ATÉ À VITÓRIA FINAL




 Hoje, cerca das 9h00 e junto à porta da Câmara Municipal de Coimbra já eram visíveis largas dezenas de alunos do ensino secundário. Numa manifestação ruidosa, com recurso a buzinas e a megafones, em que, pelo alarido, ninguém ficaria indiferente, era impossível não dar por ela.
Cerca das 11h30 o número de manifestantes já tinha aumentado significativamente. A poucos minutos do meio-dia já seriam centenas. Segundo o que poderia ser lido nos cartazes, estavam em causa os cortes na educação e o aumento dos passes sociais.
No meio da multidão o Adelino Paixão, um corredor de fundo destas ruas estreitas, não perdia pitada do que ali se passava. Estava um pouco ensimesmado. Especulando, perante todo aquele barulho de encenação, em face de vários miúdos estarem com garrafas de cerveja de litro na mão e a beberem, dos vários alunos adolescentes a lançarem ao vento nuvens de fumo dos cigarros, o que pensaria o Adelino daquilo tudo? Será que estaria a comparar a vida destes putos com a sua? Não se sabe, mas é provável. O Adelino, juntamente com a companheira, está a dormir diariamente num resguardo junto à Loja do Cidadão. Muitas vezes, estou certo, se deitarão na pedra fria, envoltos com um cobertor que mal lhes cobre a aceitação do pouco que têm, e com a barriga a dar horas. É certo que ambos foram presenteados pela natureza com uma anomalia psíquica, mas mesmo assim, se calhar, o Adelino pensará que entre o reivindicar destes jovens, com uma vida materializada plena de tudo, e o viver que lhe calhou em sorte há uma grande falta de equidade. É certo também, continuará a pensar o Adelino, que cada um sofre e sente à sua maneira, conforme os seixos pontiagudos lhe ferem os pés descalços. Quer dizer, para quem andar descalço, mas ele olha em volta, para o chão, para o calçado que os juvenis têm nos pés e vê sapatilhas de marca e caras. Mas, afinal, porque reclamam estes moços? Será porque são uns sortudos e não sabem? –interroga o Paixão com seu casaco que já viu melhores dias e umas alpercatas que já foram.


2 comentários:

Melissa Pereira disse...

é de lamentar que uma pessoa aparentemente tão instruida não saiba separar as coisas. as aparencias iludem. desvalorização do que fazem os jovens?
obrigada mas não. onde se admite que pessoas com reformas de 485€ (outras menos) paguem um passe de 51€?
se calhar a si não lhe pesa, que deve ganhar muito.
esses alunos a que se refer especificamente (quanto ao facto de estarem a beber cerveja) não falam por todos, além de que isso ocorreu após o protesto. nós lutamos por outra causa, esta foi só mais uma delas. há dois anos troquei a minha vespera de natal acomodada por sorrisos e abraços de sem abrigo. passei horas a distribuir comer e agasalhos pelas ruas, até roupa que tinha vestida dei. quer falar sobre isso?
não seja retrogrado e não desvalorize o trabalho dos outros. não somos todos iguais, a verdade é essa.

LUIS FERNANDES disse...

http://questoesnacionais.blogspot.com/2012/01/um-comentario-recebido_28.html