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Meu caro Alexandre Soares dos Santos espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde e melhor disposição –que, pensando melhor, nem era preciso colocar em dúvida quer uma, quer outra forma de estar. Desculpa lá, que, de repente, até me esqueci que eras o homem mais rico de Portugal, e, assim sendo, logo, podes comprar a saúde e estares sempre a sorrir, adivinho de quem… destes tolos, bacocos, teus compatriotas –por acidente, é claro!-, obviamente.
Lembrei-me de te escrever, porque, calculo, apesar de conseguires comprar tudo com o teu dinheiro, se calhar, hoje, estarás deprimido e sentir-te-ás apenas simples humano como eu. Adivinho a tua frustração ao não conseguires calar estas bocas reaccionárias que hoje te caíram em sorte. Mas não ligues, são uns invejosos do caraças. Como dizia o meu avô Crispim –que, estou convencido, não conheceste-, para estarem no teu lugar, davam o cu e cinco tostões. No entanto, naturalmente como não podem, azucrinam-te a cabeça. Sim, a inveja, que é uma moléstia dum raio, até se entende, porque ALEXANDRE, “escrito com letras gordas”, até hoje só houve dois, “O Magno”, da Antiguidade, general extraordinário, conquistador desde os Balcãs até à India, e que viveu entre 356 e 323 Antes de Cristo e tu ALEXANDRE Soares dos Santos, “O Grande”, o maior Imperador económico da actualidade, além-mar e intra-solo, cujo império se estende até terras da Polónia –repara que até só pelos teus apelidos, SOARES e SANTOS –o primeiro, o maior da alma portuguesa e o segundo, o maior do Céu-, já era motivo para cobiça, sabendo nós, tu e eu, como é esta gentinha: não podem ver um rico de camisa lavada.
Sabes que estou ao teu lado, aliás, pelo que vejo, devo ser o único que entende a tua acção de transferires a sede fiscal da tua empresa para a Holanda. Mas, aqui, no que escrevo, estou a ser sincero: acho que estás apenas a fazer o que te obrigam. Ou por outras palavras, limitas-te a surfar a onda. Não foram estes “armadores, de posta grossa”, que te deram todas as condições para pescares à tua vontade e de modo a seres o que és hoje? Não foram eles que se puseram de cócoras perante o teu arremesso e ambição? Não eram estes grandes conquistadores dos mares que diziam que tu e mais meia-dúzia de gabirus iam criar emprego e desenvolver o país? Quem são os culpados de tu e mais alguns terem rebentado com todo o comércio tradicional e terem mandado milhares de famílias para a miséria? Não sabes pois não –pareces querer dizer-me encolhendo os ombros? Ah, mas eu sei! Todos sabemos. E agora, perante o facto consumado de teres levantado voo lá para o paraíso fiscal da Holanda, parecem virgens indignadas por terem sido violadas? -Não sei se estou a ir depressa demais. Se estou, faz sinal, que escrevo mais devagar.
Dizia eu então que estes “grandes economistas políticos” se puseram a jeito para serem enrabados e agora, como putas finas e púdicas, fazem um escarcéu do camano. É ou não é? Desculpa lá a minha irritação, mas é-me difícil disfarçar. É mesmo assim! Puseram-se a jeito, sabendo que o Capital está para o lucro como um pedófilo para uma criança. Ou seja, come tudo sem ética, sem princípios, ou consciência dos seus actos. A obsessão é mais forte. O vício comanda a mente.
Portanto, meu caro Alexandre, “O Grande”, durante uns dias irás ouvir cobras e lagartos acerca do teu negócio pingo doce, mas isso, como sabes, é para entreter e fazer desviar as atenções. Passa depressa. Se fosse a ti usava as mesmas armas panfletárias. Se estivesse no teu lugar –que, infelizmente e contrariamente, estou numa afundação- usava a tua Fundação Soares dos Santos para desviar as atenções. Sei lá, ó pá!, por exemplo, anunciavas publicamente, através da cadeia dos teus supermercados, o abastecimento ao Banco Alimentar durante um ano. Não sei se estarás a ver a coisa, mas “os sem-abrigo estão na moda” –esta frase não é minha, que, como sabes, não tenho inteligência para criar coisas assim.
Tinha muito mais para te dizer, mas como calculo que estás em polvorosa para apanhar o avião lá para a Holanda, vou ficar por aqui. Recebe um grande abraço cá do teu colega António –sinónimo de “pobrete”, basta lembrares António Vieira, António de Bulhões, escrevi “Bulhões", António Salazar- que apesar de ser um “pé-rapado”, que não tem onde cair morto, nem um paraíso fiscal onde se acolher, te estima. Estima e compreende, porque tu és bem o paradigma do português desenrascado -que para além de ser educado e estar a fazer o que o Governo manda indo para o estrangeiro-, e aproveitando todas as oportunidades, fala bem para os outros… como eu –não sei se estás a ver a coisa?!
1 comentário:
Uma solução pouco ética mas legal, que esperava o nosso governo?
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