quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A VOLTA E MEIA DO DRAGÃO




  Hoje abriu um novo estabelecimento de venda de frutas na Rua Eduardo Coelho. “E depois”, pensará você, leitor, para si mesmo. “Ainda bem. Significa que a Baixa, apesar da crise, com algumas lojas a encerrar e apesar do seu ar um pouco triste, como uma viúva entrada nos “entas”, continua a ser apetecível.
Mas se lhe disser que esta nova casa comercial é de um chinês, já tem o seu quê de especial, e nesse caso o amigo já olha para o que estou a escrever com um pouco mais de atenção. Pode também acontecer você pensar “lá vem este gajo com teorias”.
Ora bem, comecemos pela identidade do comerciante: é o Pan, proprietário da loja aberta ao público em 2009, nos antigos Marthas, na Praça do Comércio.
Como normalmente faço, quando abre um novo estabelecimento, e sempre que tenho tempo, vou trocar umas impressões com quem ousa arriscar no momento económico que estamos a atravessar. Vamos lá ver o que diz o Pan.
-Estás bom, Pan? Parabéns, pela coragem. Então, o que te fez enveredar, agora, pelo ramo das frutas?
-Sabes que não posso parar. Tenho 3 filhos, e tenho de continuar a trabalhar. E ali, como te disse há tempos –estivemos a conversar há uns meses sobre a crise que se abate no comércio em geral, e, mais concretamente, no seu espaço comercial, na Praça do Comércio-, na minha loja, o negócio está fraco. A renda é muito cara. Ora, não posso cruzar os braços… entendes, não é?
Claro que entendo e, se já considerava o Pan, fico admirá-lo mais ainda, pela forma como ele luta para sobreviver num país estrangeiro que não é o seu.
Bem sei que, perante esta nova abertura de um comerciante chinês num novo ramo, devido essencialmente ao pouco trabalho que toca a todos, os medos, como mola desencadeante de irracionalidade, vão saltar e fazer uma série de interrogações acerca do futuro dos nacionais que aqui, tal como o Pan, lutam para suportar as despesas diárias. Mas não podemos deixar de ver neste homem a coragem, a resistência e a luta para conseguir aguentar-se neste mundo comercial que cada vez mais é um cemitério de mortos-vivos que ninguém consolará.
Pode não ser unânime esta minha posição, mas, para mim, que escrevo sobre o que se passa aqui no tecido comercial, cabe-me olhar para qualquer um da mesma forma, sobretudo os que cumprem as regras do jogo e se batem de igual para igual. O Pan é um deles, e há muitos como ele. O Sol quando nasce é para todos. É neste princípio que acredito. É assim que ajo no meu dia-a-dia.
Muitas felicidades para este nosso amigo chinês deste nosso bairro. Que a vida lhe sorria e que as forças não o desamparem.

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