“O senhor não pode mesmo ser boa pessoa, ainda agora estava a falar em si aqui com a senhora Maria” –e aponta a mulher ao lado. “O senhor tem de escrever acerca desta miséria humana que está á frente dos nossos olhos. É esse negro que dorme aí junto à farmácia. Olhe que ontem, domingo, só queria que você sentisse o cheiro imundo e visse a lixeira que ali estava –e aponta para o cabo da rua. Olhe que o apanhei de cócoras a defecar à frente de toda a gente. Este homem está doente. Será que as autoridades não vêem?”. Quem assim me falava era a senhora Maria Helena Costa, que mora na Rua do Paço do Conde já há muitas luas e conhece e trata qualquer pedra da calçada por tu.
Lá lhe fui explicando que ando há 5 meses a tentar sensibilizar as autoridades portuguesas para este assunto. Já comuniquei à Segurança Social, à Câmara Municipal e ao Ministério Público. Como o Anildo é natural de São Vicente, Cabo Verde, embora naturalizado português, contactei o jornal Liberal daquele país para ver se chegava às pessoas certas. Para além disso, na procura de familiares, enviei um e-mail ao presidente da Câmara de São Vicente, a um vereador, à Embaixada de Cabo Verde, em Lisboa, e ao Presidente da República de Cabo Verde. Até agora, que eu saiba, não se avançou um milímetro neste caso do Anildo.
De qualquer modo, lá fui transmitindo à senhora Helena, olhe, como estamos a uma semana da reunião pública do executivo, prometo que irei lá levar o caso.
Na próxima segunda-feira lá estarei a ver se consigo sensibilizar o presidente da Câmara e os vereadores para este caso que, tudo indica ser, um axioma –verdade sem contestação- positivista jurisdicional. Ou seja, como o Anildo não se pode queixar, não preenche os requisitos previstos pelo legislador, logo, a solução é o abandono puro e simples. Pouco importa que esteja ou não doente. O que conta é um inflexível sem recurso relatório médico psiquiatra a atestar que está pleno das suas faculdades mentais. Tudo o que o Anildo possa fazer ou não, não interessa. Se o relatório atesta que comer do lixo e defecar em qualquer canto é um costume social, quem sou eu para dizer o contrário? Às tantas, não se admirem, eu é que preciso de tratamento. Até poderia ir a uma consulta, mas, tendo em conta os antecedentes do Anildo, temo mesmo que subscrevam que estou muito bem psicologicamente. Portanto não vale a pena.
Falando sério, tudo até estaria bem se o Anildo entendesse que não anda a fazer nada de útil por aqui e poderia fazer um favor a todos… … que era morrer. Mas qual quê? Quem é que o consegue fazer entender isto?
1 comentário:
O Anildo devia defecar era num sitio que eu cá sei mas não digo, já anda por ai o SIS, talvez assim não digam que defectar na rua, como comer do caixote do lixo é um costume social.
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