Perante um Outubro vermelho, como quem diz um dia calorento de modorra veraneia, e com a Baixa praticamente toda encerrada, realizou-se, nas Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, a Feira de Artesanato Urbano.
Promovida pelo pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, deu para notar que foi muito mal publicitada. Sem exagero, estou em crer que a maioria dos operadores comerciais a trabalhar aqui na Baixa não teriam sabido –é certo que se soubessem o resultado, provavelmente, teria sido igual, porque em dia da comemoração da República não se deve trabalhar. Até a Lena, do quiosque Espírito Santo, junto ao Café Santa Cruz, uma das poucas comerciantes que diariamente está sempre aberta, logo de manhã, me interrogava: “ó Luís, sabias desta feira? Eu não sabia. Não tinha ouvido dizer nada!”
Já escrevi aqui, num outro texto, acerca deste assunto, a Câmara Municipal e mais particularmente o pelouro da Cultura tem de apostar mais na divulgação destes eventos. Deve utilizar todos os meios ao seu alcance para levar ao conhecimento público estas festas que são de interesse maior para a Baixa. O que dá a parecer, para quem anda por aqui há muitos anos, é que estes acontecimentos são feitos para cumprir calendário. Nota-se pouco empenho de quem os realiza e pouca promoção. Acima de tudo, não podemos esquecer os artesãos que, muitos deles vindos de longe, vêm à procura de ganhar o seu pão. E só quem sabe –e eu sei- o que custa montar uma exposição, estar todo o dia ao Sol e depois desmontar a tenda e partir de novo com a frustração de não ter dado para a despesa, pode entender o grande esforço desenvolvido. Ora se quem realiza estes certames não corresponder às expectativas criadas está a faltar ao respeito de quem está a trabalhar, embora no seu legítimo interesse egoísta, mas também para o bem comum. Não podemos esquecer que estes, como outros artesãos, quase a custo zero para as autarquias, são actores de um espectáculo cénico na cidade. As autarquias, porque realizaram a festa, ficam sempre bem na fotografia, mas quem leva as calosidades, os espinhos e a transpiração de lágrimas sofridas, são estes e outros vendedores. Haja muito respeito por eles.
E COMO É QUE CORREU A FEIRA?
São 14h30. O Sol, apesar de fustigar quem o afronta, na Rua Visconde da Luz, do lado direito, concede um grande rasto de sombra. Vamos lá ver o que dizem os expositores.
Começo, pelo lado direito, por um casal de vendedores que veio de Tábua. Embora respondendo-me com evasivas e sem quererem ser identificados, mesmo depois da minha apresentação -sei lá, quem sabe se eu seria algum espião ou agente do SIS-, lá foram dizendo “que o negócio está muito bem. Não tínhamos nada para fazer e viemos. Já vendemos qualquer coisinha, sim!”. Quando lhes pergunto se valeu a pena, um pouco secamente, respondem: “Vale sempre a pena!”
Em frente, do lado esquerdo, com o Sol a fazer carícias, está a bonita Dárcia Eunice –sorte a do astro-rei. Quando lhe pergunto de onde vem, diz-me que partiu de Matosinhos, Porto. Está a gostar muito. Foi a feira em que encontrou mais estrangeiros. Foram estes que lhe compraram umas peças, porque “a malta portuguesa só vê”. Quando a interrogo sobre se valeu a pena, enfatiza: “Vale sempre a pena, nem que seja pela experiência.”
Mais à frente está outra senhora que não quer ser identificada. Quando lhe pergunto como é que está correr, responde: “muito fraco. Só vendi, até agora, duas peças. Mas, como o dia ainda é uma criança, ainda tenho esperança. Mas, olhe, como sou de Coimbra, a despesa também não é muito grande.”
Mais à frente esta a Vina e o Zito Almeida. São de Coimbra. Quando lhes pergunto como é que estão a ver a feira, em termos de afluência, dizem em coro o seguinte: “Olhe na praia deve estar mais gente!”. Já venderam uma peça. E valeu a pena? Interrogo? “Vale sempre a pena”, respondem novamente em coro.
Mais para cima está a Elisabete, que vem de Soure –tem uma página na Internet com o nome de “Volta meia volta”. “A verdade é que, apesar de estar um dia de praia, nem está mal de todo. Estava à espera de não vender nada e já vendi meia-dúzia de bonecos. Vale sempre a pena!”
Mais à frente está a Isabel Miranda. Veio de Mira –também tem um blogue “fofuras em crochê". Já vendeu umas coisinhas, embora sem grande relevância.
E mais para acima, ainda, está a Simone. Veio de Ílhavo –tem também uma página na Internet "Balão Mágico. Diz-me que já vendeu qualquer coisa, embora, a nível de valores, seja de pequeno montante. “Vale sempre a pena. É uma forma de estarmos juntos. E também é bom por causa dos contactos”, confidencia-me.
E lá mais para cima estão a ruiva –e que pensei ser nórdica- Fátima Silva e a Isabel Barbas, da Figueira da Foz. Já venderam qualquer coisa, embora nada de relevante. “ A feira está fraca. Vendemos muito pouco. Mas, apesar disso, vale sempre a pena. O convívio entre nós, vendedores, é muito bom. Conhecemo-nos todos. Valha-nos isto”, enfatizam em coro.
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