terça-feira, 1 de março de 2011

O QUE FAZER COMIGO?

(IMAGEM DA WEB)



 Cada vez estou mais desgostoso com a minha pessoa. Nem sei bem se será do tempo…já tenho muito, pelo menos atentando no espelho. Já corri Seca e Meca; já passei veredas e trilhos; já andei por onde não queria e já quis andar por onde não logrei alcançar e pisar terra. A verdade é que, contrariamente ao aforismo de que a idade traz bom senso, cada vez me sinto mais diferente e o problema é que duvido que esta desigualdade seja para melhor.
E deu-me para estar para aqui a largar talhadas de lágrimas secas, como se fossem postas de bacalhau cortado na grande guilhotina da venda do senhor António, porquê? Porque sim, pronto! Nem sei se deva contar. Você nem me parece um grande ombro para eu desabafar! Mas, está bem, não faça essa cara, que eu conto. Então lá vai. É assim: estou farto de receber e-mails a mandarem-me arrumar a trouxa, para no próximo dia 12 rumar até Lisboa e me juntar ao “Milhão de pessoas na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política”. E sabe qual é o meu maior problema? É que ainda nem sequer procurei a mala. É grave, não é? Pois é! Então se toda a gente acha que eu devo ir para Lisboa porque é que eu não vou? E mais, quem me ordena, na generalidade, até são meus amigos. Pior ainda, não acha? Pois é. Já está a ver a minha preocupação, não está? Porque é que eu não sou bem mandado? Diga-me? Pensando bem, eu sempre fui assim. Ao longo dos “séculos e séculos”…sempre fui assim. O problema já vem de trás. Muito detrás! Por isso é que o meu pai dizia que eu era um “cabeça dura” e nunca seria nada na vida. Vendo tudo o que não alcancei é que vejo que ele estava carregado de razão. Eu sei lá os planos que arquitectei para a minha pessoa. Tanta coisa: ser músico, advogado, ser poeta, ser escritor, ser rico, ter um castelo, ter uma quinta com cavalos…e nada! Bem tinha razão o meu pai. Deve ser desta minha mania de estar sempre a implicar com quem me manda. Deve ser isso. Só pode!
Mas por que raio é que não vou eu para Lisboa gritar para a Avenida da Liberdade? Custa-me muito? Custa? Que raio, ao menos uma vez na vida eu poderia fazer o que os outros querem que eu faça. E porque é que não faço? Diga-me?! Se esta ordem até é por uma boa causa? Não está tudo farto da classe política? Então, está certo! O melhor é mesmo pedir a sua demissão…é ou não é? Então porque raio não abalo eu para Lisboa? Será que tenho algum familiar que é político? Não, senhor. Então?!?...
Pois, aqui é que se calhar a porca torce o rabo…é que eu sou político. Sim, não faça essa cara, alma de Deus, sou mesmo. O que é que eu estou a fazer agora mesmo ao manifestar-me contra uma ordem que me deram?...Exactamente isso mesmo: política. Então vou para Lisboa pedir a minha própria demissão? Não posso. Nem devo.
Bem sei que estou muito baralhado, mas é assim, por exemplo, se se fosse pedir a demissão do Governo, sei lá, pedir que o Louçã não lançasse mais tiros de pólvora seca, ainda vá lá. Não sei se estou a ser claro, mas era divergente, estava-se a pedir a cabeça de alguém em concreto, mas no caso em apreço é diferente, pede-se a cabeça de todos sem apontar ninguém. Ora, desculpe lá se o estou a aborrecer com esta lengalenga, mas isto deixa-me em pulgas. Fico inquieto. Eu seja ceguinho se até não estou a ganhar suores frios. Não sei mesmo se me está a entender. Eu confesso que não percebo nada do que estou para aqui a escrever…mas, mesmo assim, acho que, procurando bem no fundo do malote da minha argumentação, devo ter uma qualquer pontita de razão. Não sei bem, mas esta equação transporta-me para a matemática…”mais com mais dá mais”…não é assim que dizem? O que quer dizer, cá nas minhas contas, que se pedem a demissão de “mais” (todos), logo este dado “mais” conduz a “mais”. Não percebeu nada? Nem eu! Mas o meu raciocínio deve estar certo.
Eu vou tentar ser mais claro, mas é assim: se querem pedir o fim das mordomias; a redução dos deputados à Assembleia da República; acabar com os institutos e fundações; acabar com as empresas municipais e os administradores; reduzir as juntas de freguesia; acabar com o financiamento aos partidos; acabar com a distribuição de carros aos presidentes e assessores; acabar com os motoristas particulares; acabar com os funcionários públicos…que nunca estão no local; acabar com as administrações dos hospitais; acabar com os pareceres jurídicos pagos a peso de ouro; acabar com várias reformas do Estado; perseguir os Rendeiros, os Loureiros; acabar com os salários da RTP e da TAP; acabar com as PPP, Parcerias Públicas Privadas; criminalizar o enriquecimento ilícito, perseguindo os biltres; controlar a actividade bancária; perseguir os malfeitores de colarinho branco; pôr os bancos a pagar impostos; etc., etc., etc!
Então digam-me lá, não era mais fácil nacionalizar tudo? Sei lá, pedia-se o encerramento do país por 24 horas, formava-se um governo popular e está de andar! Então não era mais fácil? Não sei se percebe o que eu escrevo, mas aqui, nestas premissas reivindicadas, vê-se, a olho nu, que se pede de menos…muito menos. Ora lá voltamos outra vez à matemática: “menos com menos…dá menos”! Logo, no meu superior raciocínio, esta manifestação em Lisboa não dá nada.
Percebeu alguma coisa do que eu escrevi? Não? Deixe lá, eu também não. Razão tinha o meu pai…

1 comentário:

RC disse...

Eu acho que percebi alguma coisa do que escreveu e está de parabéns pelo excelente texto que redigiu.
Por outras palavras, o meu "amigo" não deseja ser como aquela ovelha que segue o rebanho...