terça-feira, 1 de março de 2011

O SOL ACARICIADOR






Deveriam ser quatro do tardar,
estando a Dona Milú no seu terraço,
resfolgada, com seios ao ar,
quando sentiu um abraço,
repenicado de calor a desafiar,
dedo a subir pelo espinhaço,
no princípio, a estranhar,
parecia ter vergonhaço,
mas aquele bom gozar,
provocava-lhe um inchaço,
sem saber se havia de chorar
ou sorrir deste arregaço,
lá deixou a coisa avançar,
nem lhe causava embaraço,
ai que saudade de um abeiçar,
lambendo o corpo já lasso,
memória de um acordar
nos braços de um devasso,
quem dera o tempo a recuar,
e pudesse atrasar o passo,
Milú faria tudo por abusar,
só se arrepende do escasso,
do que não fez, a pensar,
que iria ser o espicaço,
nas voltas do povo a falar,
que pena agora ser ameaço,
antes um amante a acariciar,
mas é bom sentir no corpaço
os raios do astro-sol a beijar.

 

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