(IMAGEM DA WEB)
Eu tenho vários “distúrbios” de personalidade, mas vou aqui falar apenas de dois. O primeiro, por exemplo, é que se vir qualquer coisa de estranho na paisagem, um magote de gente, uma ambulância parada, é fatal como o destino: tenho de ir saber o que se passa –está bem, pode ser curiosidade, isso sei, obrigado. O segundo, e quase em contraposição com o primeiro, é quando alguém me quer dar alguma coisa, ou vejo toda a gente a caminhar para o mesmo destino, imediatamente, há qualquer coisa dentro de mim que me suplica: cuidado, não aceites nada dado nem vás atrás dos outros. Bem sei que pode até ser natural, isto é, uma desconfiança anormal que ao longo da vida me evitou muitos problemas.
E isto vem a propósito de quê? Deste unanimismo obsessivo na hostilização ao Governo e mais propriamente ao Primeiro-Ministro José Sócrates.
Uma pessoa liga a televisão ou abre um qualquer jornal, seja ele aparelhado com a esquerda ou direita e, como fado, lá estão todos os articulistas a malhar no “pobre” homem. Basta dar uma olhadela hoje no PÚBLICO, através de José Manuel Fernandes e Pulido Valente –em que este lhe chama “Um tiranete da Beira”. Vamos para o EXPRESSO online e, através de Daniel Oliveira, lemos ser apelidado de “mitómano”. Ontem, na SIC Notícias, no programa “Quadratura do Círculo”, Pacheco Pereira, sendo menos diplomata que Daniel Oliveira, chamou-lhe pura e simplesmente… “mentiroso”.
Ora é exactamente esta nuvem radioactiva de achincalhamento político que está a tomar todos os “media” e, em consequência, a opinião pública que me levou a escrever este pequeno apontamento. O homem pode ser lá o que seja, teimoso como um burro, e outros defeitos que, aparentemente, muitos julgam ter noção –eu não sei nada, não o conheço-, mas, obviamente na sua condição de humano, terá também muitas qualidades. Logo aqui surge-me uma interrogação, porque razão só sobressai a sua imperfeição e, pelo que ouço igualmente em contrabalanço, nunca as suas qualidades?
Mais ainda, as eleições legislativas foram há cerca de um ano e meio, como quem diz em Outubro de 2009. O Partido Socialista (PS) alcançou 36,55% do eleitorado. Teve 2.077.695 votantes. Onde estão agora estas pessoas que votaram no executivo de Sócrates? Eu, com toda a sinceridade, não votei PS. Este número de votos alcançados corresponde a 1/5 de toda a sociedade portuguesa. Porque não se manifestam e dizem qualquer coisinha? Estarão todos arrependidos? Se pudessem pediriam a devolução do boletim? Será assim? Ou, especulando, poderemos supor que progressivamente a mancha negra de perniciosa influência, com a informação escrita e falada, acabou por condicionar a opinião destes eleitores? Como entender que todos os partidos à esquerda do PS apelidem o Governo de “direita”? Como entender que à direita os dois maiores partidos apelidem o Governo de “neoliberal”?
Como entender que o Presidente da República, eleito há escassos três meses, que deveria ser o garante da estabilidade do país –num momento grave como este que estamos a viver e em que a serenidade política, acima de todos os imperativos deveria ser uma constante-, nesta altura, seja o maior pólo desestabilizador? Numa conjuntura económica em que sobre as nossas cabeças paira a lâmina da guilhotina do FMI fará sentido um apelo surdo de Cavaco Silva para irmos para eleições proximamente? Será que o Chefe de Estado, na sua função soberana de árbitro isento de moderador, não terá responsabilidade de convocar todos os partidos e, no mínimo, apelar à convergência política? Será que o actual ocupante do Palácio de Belém não deveria sensibilizar o PS, nomeadamente Sócrates, o chefe do executivo, para, através de negociação, procurar o entendimento de Passos Coelho, do PSD?
Não há dúvida de que estes políticos não servem Portugal. Facilmente se vê que são “servilistas” do seu próprio interesse e dos partidos que representam. Precisamos de novos políticos, sérios e entregues à causa pública.
Para mim, que tenho este “distúrbio” de personalidade, estes eleitos irão continuar a lançar o país cada vez mais para o caos e a desgraça. Entretanto os eleitores, como bola de pingue-pongue, continuarão a saltar de um partido maioritário para outro e, como jogo de poker, vão persistir em apostar na esperança –que, a continuar assim, nunca se concretizará-, esquecendo que, acima de tudo, é preciso alguma serenidade e lealdade ao povo que os elegeu.
Assim, a perdurar com estes maus exemplos de quem os deveria dar, não se está só a queimar a fé num amanhã melhor, está-se a incinerar em lume brando a democracia. É isso que querem? Façam o favor de continuarem!
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