Ao ver hoje, logo de manhã, na televisão, que, perante a subida drástica dos cereais, é eminente a falência em massa de padarias no país, não pude deixar de pensar que a história, enquanto ciclo de vida, se repete.
Não tenho dúvida de que, em face deste aumento desmesurado, iremos voltar a ver o fumo a sair dos velhos fornos de lenha, que julgávamos obsoletos e já fora do seu período de utilidade. As pessoas voltarão a cozer a broa e o pão que tanto marcou a geração de 1940 e 1950.
Engraçado como a Terra no seu Movimento de Rotação, em volta sobre si mesma, e no Movimento de Translação, círculo em forma de elipse em redor do Sol, em analogia com os anais do Tempo, parece teimar em, mais tarde ou mais cedo, passar sempre no mesmo sítio. Ainda que o contexto não seja o mesmo a génese da evolução da humanidade, em avanços e recuos, lá permanece imutável.
Veja-se o facto de os “Homens da Luta” ganharem o Festival Nacional da Canção com uma cançoneta de intervenção. Quem diria que, passado mais de 35 anos, quando se julgava o pendor revolucionário arrumado num qualquer sótão e cheio de teias de aranha, aí está novamente o tema, retomando a canção como arma de crítica social, a ganhar importância.
Basta olhar para o que está acontecer com o aumento continuado dos combustíveis para podermos pensar que o transporte de locomoção animal e “velocipédico” já estão a ensaiar para entrar em acção. Como num regresso ao passado, assim a pensarmos na vingança do fantasma, estes serviços aparentemente enterrados, tudo indica que, como Fénix, irão ressurgir em força. E se tivermos dúvida, atentemos no recomeço da agricultura de subsistência que aí está com os motores ligados a toda a força.
A meu ver, haverá passagens da história que, pelo seu prejuízo ambiental, e pela facilidade de substituição, não se repetirão. Em exemplo, refiro o regresso às velhas máquinas a vapor, em que a combustão de carvão era demasiado pernicioso para a colectividade. No entanto, não tenho dúvida que o comboio, através de catenárias eléctricas, irá ressurgir em força e a ocupar um espaço que, pelo desmazelo, pela omissão, pela falta de visão política no país foi perdendo nos últimos 30 anos.
O engraçado é que esta dinâmica do tempo, aparentemente anacrónico, por força de premissas várias, como se surgisse através de linhas tortas do destino, acaba por obrigar a recuperar parte de um passado que se julgava arcaico e já sem aparente importância económica. Em especulação, será como se o antigo, maltratado e ofendido, saísse lá dos confins do provecto e, através de múltiplos acontecimentos, obrigasse os vindouros a curvarem-se à sua vontade. E não deixa de ser interessante, porque já sabemos que mesmo que não acontecessem estas roturas, estes fenómenos de corte com um desenvolvimento implantado e julgado de pedra e cal, mais tarde ou mais cedo, através da mudança dos costumes, estas alterações, provavelmente, aconteceriam na mesma maneira. Ou seja, estes cataclismos evolutivos e pontuais apenas apressam um desfecho previsível. É como se a Natureza, sem intenção e assente em meros acasos, corrigisse os excedentes que caíram no seu seio.
Em suma, se alguém tiver dúvida de que os centros históricos irão renascer a toda a força, perante esta revolução mundial e sobre que está acontecer, fique com a certeza de que a sua recuperação estará eminente. Não se sabe quanto Tempo terá este tempo, mas uma coisa nos apercebemos: a mudança está à frente dos nossos olhos e a acontecer todos os dias e mais rapidamente do que se pensaria.
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