sábado, 14 de novembro de 2009

COMÉRCIO, ARRASTANDO A INDÚSTRIA, PARA ONDE VAIS?


(ESTA BONITA LOJA DE BOM ARTESANATO NACIONAL VAI ENCERRAR PARA O MÊS QUE VEM)




Já o escrevi aqui várias vezes; pessoalmente, nada me move contra a implantação dos comerciantes chineses em Portugal e nomeadamente na Baixa de Coimbra, que é a zona onde me encontro e ganho a vida. Conheço alguns pela sua simpatia, e, reconheço, tenho uma profunda admiração pelo seu abnegado esforço.
Não podemos esquecer que os portugueses são um povo de emigrantes que estão espalhados pelos cinco continentes. Logo, ao falarmos contra a vinda dos chineses para Portugal, antes de mais, deveremos relembrar o facto de termos sido recebidos de braços abertos pelo mundo inteiro.
Depois de referir este pormenor importantíssimo à laia de ressalva de valores, vou então continuar e explanar o meu ponto de vista. Esta semana abriu outra loja na Rua da Gala. Por sinal um bonito estabelecimento de pronto-a-vestir. Se não fosse a empregada ter os olhos rasgados e falar mal a língua lusa, dir-se-ia ser pertença de portugueses. Para além de ter bons artigos de média qualidade, todos ostentam a etiqueta de “made in Italy”.
Uma outra grande loja de chineses estará prestes a abrir junto ao “Pingo Doce”. Esta, pelo aspecto, pressuponho, parece ser de artigos vários decorativos.
Tenho conhecimento de que até Janeiro próximo, cerca de meia-dúzia de estabelecimentos, entre eles alguns de roupa, vão encerrar. Só aqui próximo, na Rua Eduardo Coelho, duas sapatarias vão de vela. Uma delas, implantada há largas décadas.
Então a questão que levanto é o que vai acontecer ao centro histórico e mais amplamente, no futuro, ao comércio e à nossa indústria? Sabe-se que sem comércio não haverá indústria. São dois irmãos siameses que não podem separar-se. O Comércio está para a indústria nacional como um rio está para o mar. Ambos, para coexistir, não podem passar um sem o outro. Claro que, para esvaziar consciências e arranjar um culpado, logo se diz que os comerciantes, perante esta desertificação, serão os responsáveis. Podem ter a sua quota-parte, admito, mas elegê-los como vilões principais é demasiado linear.
O futuro das Baixas das cidades irá ser preenchido essencialmente com comércio do outro lado do mar?
É preocupante o estado de abandono a que está a chegar a nossa indústria tradicional. Ainda há dias aqui contei o que aconteceu no verão passado a uma fábrica com seis década de existência.
É preocupante, sobretudo, o “deixa-correr” das entidades competentes que olham para esta invasão com alguma apatia e displicência. Bem sei que, devido aos nossos compromissos assumidos com a União Europeia e esta com a Organização Mundial de Comércio, estão amarrados de pés e mãos e pouco podem fazer. Mas alguma coisa terá de emergir. Nesta situação, como é que se cria emprego?

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