(OS MOLDES ERAM DE PEÇAS HISTÓRICAS COMO ESTAS)
A "Cicade" era uma fábrica de faianças de Coimbra. Estava implantada em Coselhas, ali mesmo ao lado da Estação de Coimbra B.
Escrevi “estava” porque morreu no ano passado. Pode até o leitor pensar: “e o que terá isso demais? Afinal morrem empresas todos os dias!”. Pois, é verdade. Simplesmente, estamos a falar de uma empresa com cerca de seis décadas e que possuía moldes com quase um século…e que foram pura e simplesmente destruídos no verão passado.
Segundo o senhor Reis, um dos sócios da outrora fábrica, que encontrei à hora do almoço junto à Câmara Municipal, quando lhe perguntei o que fizeram aos moldes da fábrica, respondeu: “partimos tudo. Ninguém se interessou. Ainda tentámos que um grande empresário lá perto de nós nos desse a mão, mas não ligou nenhuma. Encerrámos e destruímos tudo para entregar a casa ao proprietário”.
"E vocês, antes de destruírem tudo, tentaram ao menos contactar a autarquia para a preservação dos moldes", interroguei. “Há cerca de três anos, contactámos o pelouro da cultura, na pessoa do vereador Mário Nunes, no sentido de ajudar a fábrica, pelo menos que nos adquirissem as “Rainhas Santas” para as festas da cidade, mas nunca nos deram resposta. Não tivemos outro caminho”, diz-me, enfaticamente, sem tomar consciência do acto de lesa-cultura, no atentado que fizeram contra a memória industrial da cidade.
Entre aqueles moldes, alguns com mais de oitenta anos, estariam alguns de mestre Eliseu, um dos maiores santeiros da cidade e, se calhar -quem sabe?-, alguns de Teixeira Lopes. Segundo parece, estes mestres colaboraram na “Nova Decorativa de Coimbra”, que esteve instalada junto à Manutenção Militar até aos anos de 1950. Por que é que a Câmara de Coimbra não manda fazer com urgência o levantamento industrial da cidade para não acontecer casos escandalosos como este?
Podem não acreditar, mas quando o senhor Reis me disse que tinham destruído tudo, foi como se tivesse levado um murro no estômago. Eu conhecia bem todo aquele acervo de riqueza cultural.
Quem vamos culpar deste atentado? Acho que não vale a pena arranjar “bodes espiatórios”. É preciso é não deixar repetir. Isto não devia ter acontecido. É demasiado grave.
Todos somos culpados. A começar por mim. Se calhar devia ter pensado que isto iria acontecer e deveria ter alertado a autarquia -se é que alguma vez me dariam ouvidos. A seguir os consumidores, que só compram porcaria nas lojas de chineses em marfinite e outras "badalhoquices" e em detrimento dos nossos barros e obras saídas dos poucos mestres oleiros que ainda restam.
Porca miséria!
1 comentário:
Para os lugares certos deveriam estar as pessoas certas, não aconteceu para já o mesmo com o espólio da foto gaspar porque há anos que persigo as entidades da cidade e parece que finalmente apareceu uma luz ao fim do tunel.y
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