segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O (A)POLITICAMENTE CORRECTO





Já muito se escreveu sobre a decisão do executivo municipal de Coimbra acabar com a presença de jornalistas nas reuniões de trabalho, exceptuando as primeiras de cada mês, abertas ao público.
Caiu o Carmo e a Trindade no burgo dos direitos adquiridos. Hoje, no Diário de Coimbra (DC), ao ler a crónica de João Silva –ex-deputado pelo PS, no mandato de Manuel Machado-, com o título “Uma câmara escura”, entre outros assuntos lá vem, mais uma vez a sua contrariedade contra esta medida: “É sabido que desde o Engº Moreira que todas as reuniões da Câmara, que eram semanais, eram abertas à comunicação social e que isso representava, muitas vezes, um enorme ónus para quem governava, mas tinha a enorme vantagem de dar transparência aos actos, de levar conhecimento do que ali se fazia, das alternativas partidárias, do confronto de ideias e da lisura de propósitos. No escrutínio do poder pelos cidadãos a comunicação social tem hoje um papel fulcral e se a sua presença nas reuniões da Câmara é “perturbadora”, porque incentiva a controvérsia, a verdade é que as reuniões só são caóticas e pouco rentáveis porque quem as dirige não o sabe fazer.”
Penso que dá para ver que a verve do cronista do DC enferma de duas doenças que grassam por aí e que, ao que se sabe, ainda não existe vacina: a demagogia e o politicamente correcto.
Nos tempos que correm, em que a informação, pelo exagero, deforma, é normal uma grande maioria embandeirar em arco, não pensando, e, como carneirada, seguir as indicações dos “opinion makers”. Talvez por isso, hoje se assista, cada vez mais, a ignorantes disfuncionais que se limitam a deglutir o que lhes o que lhes colocam no prato da informação e pronto-a-comer.
Mas vamos então à questão em apreço, que é para eu não perder o fim à meada. Como sou um bocado para o “cabeça-dura”, confesso que não consigo ver muito bem que benefício trará o facto de os jornalistas estarem presentes nas reuniões do executivo. Bom, espere aí, há uma: no dia seguinte temos logo as notícias plasmadas nos jornais. Não estando presentes, passamos a ter um dia de atraso. Ah…espere aí, pode-nos também dizer se, no calor da discussão de uma medida, determinado deputado franziu o sobrolho ou coçou as partes baixas em desacordo.
Confesso que não entendo João Silva quando fala em “vantagem de dar transparência aos actos”. Mas que transparência? Já agora podia defender a instalação de uma câmara de filmar e, em directo, para ser projectado em ecrã, com som e tudo, na Praça 8 de Maio. E, em coerência, deveria também defender que as reuniões do conselho de ministros também deveriam começar a ser cobertas por jornalistas.
Quanto a mim, o papel fulcral da comunicação social no escrutínio do poder pelos cidadãos é importantíssimo no Estado de Direito. Porém tem de haver limites para essa mesma comunicação. Quando se perde a noção de fronteiras e se lhe deposita toda a esperança, fazendo dela a espada de Dâmocles, significa que a Democracia fica refém dessa mesma comunicação social.

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