(Se as câmaras de videovigilância estivessem já a funcionar, em princípio, conhecer-se-ia o corajoso conspurcador de fachadas)
Hoje, de manhã, quem passou na Rua de Sargento-mor, na Baixa, foi surpreendido pelas extensas manchas de óleo queimado num prédio com os números de polícia 7, 9 e 11. Quem o fez saberia muito bem que as pedras porosas, que revestem a fachada do edifício, jamais irão perder aquela marca de conspurcação negra.
Mas o que levará desconhecidos, sobre o manto diáfano da noite, em acto cobarde, a atentar contra um património recentemente restabelecido? Poderíamos fazer a interrogação. Ódio. Simplesmente rancor de alguém que, não sendo capaz de dar a cara, actua a coberto da escuridão.
Mas vamos lá contar a história. Este prédio é da professora Leónidas, que já por diversas vezes foi ao executivo camarário reclamar das obras feitas no exterior do seu prédio. Esta sua propriedade, em paredes-meias, fazia parte do conglomerado existente na Travessa dos Gatos e que, em Dezembro de 2006, ruíram dois edifícios.
A partir daí, procurando o seu legítimo interesse, a D. Leónidas, tem feito a vida difícil ao pelouro de habitação do anterior vereador Gouveia Monteiro, da Câmara Municipal de Coimbra. Umas vezes, devido a infiltrações no seu prédio, outras vezes porque o terreno ao lado, apelidado de “ground zero”, em analogia com o das torres gémeas de Nova Iorque, é uma fonte de lixo ou estava cheio de automóveis. Crê-se que esta sua reivindicação levou a autarquia a vedar o terreno para impedir o estacionamento anárquico.
Safando-se como pode da intrépida munícipe, o vereador cessante lá foi remediando aqui, colando acolá, mas a verdade é que a senhora tem mais fibra que uma fábrica de confecções. Há quem diga aqui pela Baixa que Gouveia Monteiro largou o pelouro da habitação só para se ver livre das reclamações constantes da persistente proprietária.
Mas vamos lá saber o que se passou. Vamos falar com os vizinhos, para tentar arranjar explicação para as manchas de óleo.
À pergunta, porque é que isto aconteceu, uma proprietária de uma loja ao lado, que pediu o anonimato, respondeu: “é incrível, a maioria dos vizinhos não gosta dela”. E porquê? Interrogo. Ela faz uma marcação cerrada a quem imobiliza os automóveis junto à sua porta. Chega a telefonar para a polícia para virem multar os veículos. O problema é que os carros estão mesmo mal estacionados e às vezes até impedem que a senhora tenha acesso à sua loja. Às tantas foi mesmo por causa disso”, enfatiza a comerciante.
Interrogo outro. Diz-me ele: “Está mal. Quem fez isto não o deveria fazer. Eu não gostaria que me fizessem o mesmo. A senhora é um bocado para o autoritário, mas temos de respeitar a sua maneira de ser”.
Diz outro: “É uma pessoa com um feitio muito especial. É egoísta. Ela, ela, e só ela. Esquece-se que houveram pessoas que perderam tudo na derrocada”.
Outro ainda: “tem uma forma muito pouco equilibrada de lidar com as pessoas. Se foi professora não parece. Mas claro que não posso concordar com este atentado ao prédio. Se ela não tinha razão, depois deste acto cobarde, passou a ter”, replica o meu depoente que pediu também para não ser identificado.
Para a única comerciante que deu a identidade, a senhora Maria Hermínia do “Cantinho da Anita”, “Este acto não tem classificação. É assim: perante os carros que estacionam em frente à porta da sua loja, impedindo a entrada, tem razão. O problema é que implica com todos, mesmo até os que estão parados lá à ponta junto à entrada do beco. É uma pessoa de trato difícil: quem não está a seu favor é contra ela. Mas, saliento, o que lhe fizeram é uma baixeza que não tem classificação!”.
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