quinta-feira, 12 de novembro de 2009

UMA HISTÓRIA DE ENCANTAR





Quando "ele" nasceu, deixem-me lembrar,
o papá não gostou muito: era menina,
mamã ficou contente, começou a chorar,
dois em uma, para ela era a Francelina,
para ele, no sonho, passou a ser o Edmar;
Mamã dava-lhe bonecas, papá um carrão,
foi crescendo na ambiguidade do ser,
sem saber o que fazer, emendou a mão,
começou a vestir homem sem pilinha ter,
calças, colete e gravata, e até um jaquetão;
Cortou o cabelo à escovinha, tudo a parecer
um lindo homem, menos no seu coração,
morreu a Francelina, mamã tratou de esquecer,
sobreviveu o Edmar, sem barba, sem tesão,
paizinho aceitou a performance sem nada dizer;
Mas Edmar, mulher, tinha um segredo guardado,
a ninguém podia contar, nem à mãe nem ao pai,
se lhes dissesse, o homem caía fulminado,
com um ataque de coração, e nem diria um ai,
que mistério teria Edmar para não poder ser revelado?
Mas, para alegria geral, Edmar tinha uma namorada,
e até estavam apaixonados, mas "ele" não queria casar,
ela, virgem, não entendia o “rapaz”, era só marmelada,
queria muito mais, ir para a cama, chegava a estranhar,
nunca passava das promessas, um beijo, e mais nada;
Um dia, de Outono cinzento, Edmar desfechou a torneira,
Abriu o peito, a alma, tirou a roupa, começou a chorar,
contou seu segredo, era mulher, à sua companheira,
se ela gostasse “dele”, poderiam viver, mas nunca casar,
ela aceitou, são felizes, tem um lar, junto ao mar, na Figueira.

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