ABRIR A PESTANA NO DESENRASCANSO À PORTUGUESA

(IMAGEM DA WEB)

 Há cerca de três semanas um comerciante daqui do Centro Histórico veio ter comigo e disse: “já sabes a última? Aquele chinês, ali naquela loja, está a vender maços de sacos pretos do lixo a um euro cada, com o logótipo da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), e que vai buscar à junta de freguesia gratuitamente.

Como não tenho os olhos em bico, mas sou totó, em vez de tomar uma outra qualquer atitude, fui ter com o comerciante chinês e avisei-o de que não continuasse a vender aquele artigo que recebera gratuitamente. Deixei-lhe bem claro que era um crime e que, tendo em conta o pouco valor, não compensava arriscar. O homem ficou atrapalhado, bateu-me nas costas, e, na sua linguagem a cantar, soletrou: “m’ta brigade”… m’ta brigade”. Eu fiquei ciente que tinha feito o que devia e arrumei o assunto.

Segundo Carlos Clemente, presidente da junta de freguesia de São Bartolomeu, esta semana uma munícipe foi queixar-se à junta de que adquirira no mesmo chinês um maço de sacos de lixo por um euro e, aquele, continuava a vender ao público. Pegando nas declarações de Clemente, “sei que ele, nesse dia, teria vendido 7 maços. O assunto já está entregue ao Gabinete jurídico da autarquia. Isto não pode continuar. Os sacos são descarregados na junta pelos serviços da edilidade. Ora, se as pessoas os vão lá levantar em grande quantidade só poderá ser utilizando o nome de outros comerciantes ou moradores. Vou cortar de vez com estes abusos. Não pode ser! É o nosso dinheiro que está a alimentar estas almas vorazes.”

Sabe-se, por aqui, que, alegadamente, também há pessoas a levarem para casa sacadas enormes de sacos pretos. Para que servem é um mistério. Como são muito finos, até parecem latex... hum... não... não pode ser, são muito grandes para enfiar na carapuça. Pressupõe-se que possam servir para as vindimas. Não sei, mas que devem ter alguma utilidade lá isso deve.

Para quem ler este artigo, e esta é a intenção, daqui para a frente, é melhor utilizar esta dádiva com alguma correcção e respeito. Mas, batendo numa tecla muito minha, nada deve ser dado gratuitamente. Se fosse eu que mandasse estes sacos começavam a ser cobrados, ainda que a um preço mínimo, mas começavam a ser pagos. Só assim se atingirá a eficiência e respeito pela coisa doada. Há um princípio da utilidade pública que todos conhecemos, para além de perder o valor económico, o que é dado não presta nem custa nada. Por isso mesmo, para ser tratado com racionalidade e lhe ser dado valor, é preciso que seja onerado.

Até aposto que o chinês –sendo mais inteligente do que eu- já tinha chegado a esta conclusão há muito tempo. Não seria assim? Ora, concordando que assim seja, porque nos abriu os olhos a todos, proponho que, em vez de uma admoestação pelos serviços jurídicos da CMC, no próximo 4 de Julho, Dia da Cidade, seja distinguido com uma medalha de latão brilhante –que de ouro é impossível.

Mais ainda, outra coisita, se as pessoas iam comprar os sacos plásticos à loja, quer dizer que não se importarão de os pagar também na junta de freguesia. Certo?


(TEXTO ENVIADO PARA CONHECIMENTO À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)