Mesmo que andemos por andar na Rua Sargento-mor, isto é, de olhar vago e perdido no geral, quando chegamos aos números 7, 9 e 11, de repente passamos ao pormenor das montras de bom gosto que ressaltam na paisagem urbana. Não é porque ao lado os bonitos estabelecimentos vizinhos não façam o mesmo. É simplesmente porque estamos perante uma nova loja de artigos diferentes dos demais e que abriu a semana passada.
Na parede, por cima das montras, como bastião, as letras “EMPÓRIO GOURMET” impõem-se ao transeunte.
Transpomos a porta e imediatamente somos envolvidos por uma atmosfera de sonho. Nas prateleiras, tudo arrumadinho com minúcia, os bens parecem querer saltar para os nossos braços. Somos recebidos pela anfitriã Janette Baracho. Pelo sotaque, sem mais delongas, apreendemos que é de origem brasileira. Vamos então começar por aqui, ou seja, o que faz uma natural de terras de Vera Cruz abrir uma loja de artigos de grande qualidade “gourmet” no Centro Histórico?
-Estou em Portugal há mais de uma dezena de anos. Sou casada com um filho de Coimbra. O meu marido nasceu na Alta.
Ao longo desta última década, estive a trabalhar em várias empresas, mas o meu ideal era abrir uma lojinha amorosa como esta, está vendo? Volta e meia lá dizia ao meu Eduardo que deveríamos arriscar um negócio aqui na Baixa. Até já era para ser há mais tempo, mas por questões de logística e também burocráticas, não aconteceu mais cedo. Quando encontrámos este espaço foi logo amor à primeira vista. Sabe, preenchia o nosso imaginário. Toda a decoração foi feita por nós.
-E como é aconteceu ir para produtos “gourmet”? Interrogo.
-É assim, nós queríamos uma loja diferente em tudo. Isto é, logo a começar na decoração, que fosse simples e atractiva. Depois queríamos apostar num ramo que não tivesse muita concorrência –não quero dizer que esta mesma concorrência não seja necessária e saudável, digo é que a Baixa será tanto mais rica quanto conseguir gerar uma diversidade de actividades. No meu entender não vale a pena continuar a apostar em ramos dos quais todos constatamos haver excesso de oferta. Daí nascer o “Empório”…
-Já agora explique o que significa mesmo “empório”, uma vez que em Portugal não é um nome muito comum?
-“Empório” é um estabelecimento comercial onde se vendem víveres, secos e molhados, e outros artigos que fazem falta numa casa. Podem ser artigos finos ou populares, nacionais ou importados. No Brasil usamos muito esta denominação.
-Certamente tem noção de que estamos a viver um período económico complicado…?
-Sim, claro! Mas sabe? Sou brasileira… e optimista por natureza.
Tudo na minha vida é… um dia de cada vez.
Crise é a massificação da imprensa. As pessoas vão ficando temerosas. E como sabe, uma mentira tantas vezes repetida acaba por se tornar verdade…
-Quer dizer que não teme o “papão”?
-Ora bem, não vou dizer que não me preocupe, porém não vou ficar parada à espera que ela passe. Os muros não começam a serem construídos de cima para baixo, mas, ao contrário, temos de começar pelos alicerces. Não é verdade?
-Eu gosto muito dos portugueses, acredite mesmo –e não é por estar casada com um que é um amor. Em cada um, costumo dizer, há uma graça natural e um pouco de arte, é na gastronomia, é na pintura e em tantas actividades, meu Deus!, mas tenho de confessar que são um pouco derrotistas. Olhe que já me têm entrado aqui clientes a interrogar porque é que eu abri um negócio nesta altura. Palavra. Até me dá vontade de rir. Claro que não é por mal. É a forma de manifestarem a sua preocupação.
Se o negócio vai dar? O futuro a Deus pertence. Um dia de cada vez –e termina com uma grande gargalhada, que já não vejo uma assim há muito tempo.
Parabéns à Janette e ao Eduardo pela coragem e forma de estar na vida. Muito interessante. Interessante de mais. Muitas felicidades para eles e sejam bem-vindos ao nosso meio comercial.
1 comentário:
Boa noite Luis
Quero expressar-lhe o nosso agradecimento pelo amável texto que teve a oportunidade de publicar sobre a Empório Gourmet.
Com amizade, atentamente
Eduardo Csta
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