segunda-feira, 20 de junho de 2011

UMA BAIXA E UMA BAIXINHA



 De vez em quando tenho paranóias. Como não sei o que se passa com os outros, por enquanto, ainda não inscrevi este meu comportamento no caderno de encargos do bom senso.
Não é a primeira vez que escrevo aqui que, logo a começar pelo departamento da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra -e já de longe, não é só de agora- há muita boa gente que acha que as Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, em modelo, serão a Baixa, a verdadeira, a turística do postal ilustrado. Como filho de um Deus menor, as ruas estreitas, para todos os efeitos, serão a constituição e o paradigma da "baixinha". Aquela zona mais pobre e desgraçadinha, onde até os pombos, sem pedirem licença, defecam em cima da careca do senhor Alfredo e até o Sol, cheio de manias, só beija o chão na primavera. 
É certo que do ponto de vista histórico, a cidade, com os seus cidadãos de estatuto, começava para além-portas de Almedina e subia até à Universidade. Aqui em baixo, incluindo as ruas da calçada, era onde morava o operariado das fábricas, as lavadeiras, os carregadores dos barcos que desciam o Mondego desde Penacova. Portanto, quer dizer que, em emancipação, estas duas vias largas venceram a sua própria memória de antanho e passaram para o grupo dos eleitos estatutariamente.
E porque é que estou para aqui a debitar "faladura" que mais pareço o "Aspirante" quando está com um "grão na asa"? É que já por várias vezes me apercebi que nestas duas artérias o lixo é seleccionado pelos funcionários da recolha e coadjuvados por alunos internos da APPCDM, Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, e na restante "baixinha" nem vê-los. Então a pergunta que me leva a pensar em discriminação  é porque existirá lixo de luxo e lixo de ralé?
Às vezes tenho cada uma. Só estou aqui para chatear. É óbvio. Mas tenho desculpa: é da paranóia!

1 comentário:

Jorge Neves disse...

Sem duvida que o pessoal da baixinha tem muito mais valor do da baixa. Ficou bem demonstrado na ultima Noite Branca.