quarta-feira, 29 de junho de 2011

QUEM SALVA OS CORREIOS DO MERCADO DE ENCERRAR?




 Ao que tudo indica, amanhã será o último dia que os históricos correios do mercado estarão abertos ao público.
Saliento, segundo o Diário de Coimbra de hoje, a preocupação manifestada ontem na reunião do executivo municipal pelo vereador da habitação, Francisco Queirós. De sublinhar também a preocupação do PCP neste encerramento, com panfletos de alerta à população hoje distribuídos aqui na Baixa da cidade.
Fui então saber o que pensa quem está directamente em contacto diário com este serviço público-privado. Comecei por falar com alguém que ainda trabalha dentro deste importante edifício, quase irmão siamês do Mercado Municipal
-Como é que, trabalhando aqui há tantos anos, vê este encerramento?
-Com muita preocupação. Trata-se simplesmente de uma contenção de custos por parte da administração dos CTT e sem olhar ao necessário e obrigatório serviço de prestação pública.
-Não vai ser a única estação a encerrar em Coimbra, pois não?
-Não senhor. Vão fechar 6 estações. Esta,  daqui do Mercado; a da Universidade; a do Alto de São João; a de Santa Clara; a de Cernache; e a de Taveiro, se a junta de freguesia não lhe pegar, encerrará também.
-E a nível nacional?
-No universo nacional prevê-se encerrarem 150 estações no curto prazo.
-Voltando a este edifício centenário e de tão larga memória, não acha que se deveria rentabilizar melhor os serviços, de modo a abranger outras áreas?
-Claro que sim. Isso é óbvio. Isto é uma tristeza!
Haverá tantos serviços que poderiam ser aqui executados. Olhe, por exemplo… deixe ver… venda de passes para os transportes, venda de bilhetes para espectáculos, como faz a FNAC, lotaria, e tantos outros que agora não lembro.
-Quantos funcionários, ainda, estão aqui a trabalhar?
-Neste momento, somos 9.
-E o que vos irá acontecer, se de facto optarem pelo encerramento?
-Não sei bem. Provavelmente iremos ser distribuídos por outras estações… ou com rescisões à mistura, se calhar…
-E como é que se sente, perante a iminência de a espada de Dâmocles cair sobre este presente de rotina, que tem sido a sua ligação emocional a este serviço, e colocar em dúvida o seu futuro?
-É uma tristeza! Sinto-me muito triste. Não me apetece comer. Sinto um mau estar permanente. Ando a dormir mal. Acordo a meio da noite e não consigo mais pregar olho.
-Vê alguma saída para que este serviço se mantenha aqui próximo do Mercado Municipal?
-Se a administração persistir neste erro, a autarquia deveria abrir dentro da praça um departamento. Eles até ali instalações que pertencem ao Turismo e nem as utilizam. O serviço que prestamos aqui é muito importante sobretudo para os mais idosos, nos pagamentos de reformas, informações diversas. Sabe que há uma faixa da nossa sociedade, refiro os mais velhos, que precisam de quem fale com eles, os olhe nos olhos. Está a compreender? Essa gente que está nos gabinetes, que não contactam com o público em geral, pensa que todos têm acesso à Internet. Uma tristeza… meu senhor!

E O QUE PENSA UMA VENDEDEIRA DO MERCADO?

 Deolinda Santos, cujas rugas no rosto contam as passadas na vida, está a vender no Mercado Municipal produtos da horta há muitas décadas. Tantas que já lhe perdeu a conta. Quando lhe pergunto se sabe que os correios em frente irão encerrar neste fim de mês, abre os olhos de espanto.
-O quê? Não sabia! Mas não avisaram ninguém. Lá na porta não está nenhum aviso, pois não? Começaram por encerrar ao sábado. Agora isto?! Ai, não me diga tal!...
-Sabendo agora deste fecho iminente, a seu ver, que consequências pode trazer para o Mercado Municipal?
-Ó senhor, nem quero pensar! Isso é mesmo muito mau. Os CTT são assim uma espécie de âncora neste barco… que é o mercado. Muita gente deixará de vir. Sobretudo os mais velhos, vinham aqui aos correios pagar os recibos de água e luz, ou receber a reforma –como por exemplo o meu marido- e depois vinham às compras. Assim, se encerram esses serviços, é evidente que deixarão de vir.
Olhe lá, mas essa gente quer acabar com tudo isto? É isso que querem?
E até para a Baixa este encerramento será muito mau.
E a Câmara Municipal não vai fazer nada? Eles deveriam intervir…

E O QUE PENSA O VENDEDOR DO QUIOSQUE AO LADO?

 José Luís está há pouco tempo no quiosque ao lado dos CTT do Mercado. Quando lhe pergunto se já sabe que os correios irão encerrar no fim do mês, responde assim:
-Já sei sim. É muito mau para todos. Para o meu negócio, para a Baixa, para o próprio Mercado Municipal. Isto vai ter um grande impacto por aqui…
-Teme pelo futuro do seu negócio?
-Claro. Tenho muitos clientes que iam ali aos correios e, ao passar aqui, compravam o jornal ou uma revista.
O que vai ser dos velhinhos que vêm aqui receber as reformas?
A Câmara Municipal deveria fazer uma grande força para que este histórico serviço não fechasse. O Mercado Municipal está cada vez pior, com cada vez mais lojas a encerrarem, ainda por cima se acabarem com este serviço… não sei não!
-A seu ver o que espera da autarquia?
-O que eu espero e o que todos esperamos. É preciso que a Câmara se interesse verdadeiramente pelo futuro da Baixa, pelo nosso futuro. Quem aqui trabalha precisa de sentir que a edilidade está preocupada com esta situação de cada vez mais abandono. É preciso que a Câmara mostre trabalho de casa. Venha ao terreno, inteire-se dos nossos lamentos, das nossas angústias e a seguir é preciso que aja em prol do interesse de todos. É isto que espero da minha autarquia.

E O QUE PENSA UMA COMERCIANTE DA RUA MARTINS DE CARVALHO?

 Elvira Magalhães vende leite do dia na antiga Rua das Figueirinhas há meio século.
Quando a interrogo para saber de tem conhecimento do encerramento dos CTT ali próximo e um oásis emergente deste deserto comercial em que se transformou esta artéria nos últimos anos, responde:
- Então não sei?! Querem acabar com o resto. Quando retiraram os transportes dali de baixo –e aponta a Praça 8 de Maio-, foi a grande machadada neste outrora grande canal de vida comercial. A seguir foi a modificação do mercado. Realmente aquilo estava muito mau a nível de aspecto, mas, na transformação da obra, fizeram aquilo tão luxuoso que foi pior a emenda que o soneto. E esta rua, como leproso, foi caindo aos bocados. Agora é o encerramento dos CTT. Querem que eu me vá embora de vez, não é? Pois, podem crer, eu faço-lhes a vontade. Ai se faço?!
A Câmara Municipal, se os “tivesse no sítio”, nunca deveria deixar que encerrassem!

E O QUE PENSA UM COMERCIANTE DA BAIXA?

 Arménio Pratas um activo comerciante da Rua da Sofia, que anda sempre em luta para que a Baixa não morra afogada em solidão como morreu há dias uma reconhecida figura típica, não tem papas na língua: “nós andamos por aqui na luta –como doidinhos- para que venham mais comércios e mais serviços para o Centro Histórico e até a imaginar sempre mais iniciativas que possam revitalizar e para que a Baixa se mantenha à tona da água, e acontece uma coisa destas? Isto é uma vergonha. Escreve lá no blogue. É preciso indignação. A Câmara Municipal deveria ter neste processo de encerramento uma intervenção marcante. Bem sei que não está nas suas mãos esta decisão ultrajante para a nossa zona comercial, mas esperava muito mais da edilidade. Muito mais. Não se pode compreender este encerramento. É um absurdo fechar um espaço histórico desta envergadura,”

E O QUE PENSA O PRESIDENTE DA APBC?

 Armindo Gaspar é o presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra. Perante este pontapé no traseiro de quem tem desenvolvido um bom trabalho na revivificação da Baixa, o que pensa o Armindo?
“É mais uma machadada na Baixa se forem, mesmo, ao cúmulo de encerrarem este espaço histórico. O que lamento é que há uns anos os CTT, conjuntamente com a Telecom, que é a proprietária do edifício, tiveram uma proposta para instalar ali uma Universidade, salvo erro a Miguel Torga, e não aceitaram. Agora vão encerrar. Quem é que pode compreender isto? Eu não!
A autarquia tem de se empenhar profundamente. Deve ter uma intervenção no sentido de entender que os correios do mercado são um pólo dinamizador de toda esta zona histórica.”

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