quinta-feira, 30 de junho de 2011

CARTA ABERTA AO DIRECTOR DO JORNAL DA MEALHADA







Bom dia, meu caro director.

 Como sabe, durante um tempo, escrevi para o Jornal da Mealhada (JM)… como colaborador. Confesso que não sei muito bem o quer dizer “colaborador”. Em princípio, pelo étimo, deve querer dizer “aquele que colabora”, “que participa”, “pessoa que escreve para um jornal ou revista sem pertencer ao quadro da empresa”.
Ora a ser assim, a meu ver, colaborar implica um respeito mútuo, uma reciprocidade na acção: “eu escrevo, tu director da publicação respeitas o meu trabalho”. Mais ainda, em reforço, quando este acto de participação é “pro bono”, gratuito. Isto é, sem qualquer contrapartida.
Acontece, meu caro, que, como disse em cima, durante uns tempos –dois anos?- fui enviando regularmente uns textos para o JM sob o mote “Histórias da minha aldeia”. O último texto saído à estampa foi há cerca de dois meses. Ou melhor, metade da minha história, porque o senhor anunciava no cabeçalho “primeira parte”. Acontece que a segunda metade nunca mais viu a luz. O que é que aconteceu? Interrogo eu. Não sei. Porém, no meu entender, digo que em nome do tal princípio de reciprocidade o meu caro tinha duas obrigações: uma para com os seus leitores –porque deixou a história a meio- e outra para comigo, que, sem passar cartão à tropa, como quem diz ao “militar”, pura e simplesmente, nem publicou nem exarou um pio.
Acontece também que o meu caro, há cerca de um ano, comprometeu-se comigo em fazer um trabalho sobre o estado físico da ponte de Várzeas –depois de um habitante daquela localidade vir ter comigo a Coimbra, de propósito, para que escrevesse sobre este assunto. Debalde. Até hoje o meu caro director esteve a marimbar-se para o assunto, e mesmo depois de eu, há tempos, aí me deslocar à sede do jornal para lembrar o assunto –porque estou em falta com o cidadão da pequena aldeia ao lado do Luso.
Certamente o meu caro director deve estar a pensar que estou muito aborrecido com o seu acto menos nobre, e no qual, pelo cargo que ocupa, está obrigado. Não, não estou, e sabe porquê? Porque já estou habituado a comportamentos iguais aos seus por parte de directores de jornais. Já ando há muitos anos nestas lides jornalísticas. E saberá o meu caro porque é que procedem assim? A meu ver, muito simplesmente porque não pagam essa dita colaboração e então, talvez inconscientemente, desvalorizam a obra. Faz lembrar aquele médico de aldeia “João semana”, que sendo tão boa pessoa, não levava nada aos seus pacientes pobres. Então, perante um resultado menos bom em função de uma consulta, o doente desventurado salta em direcção à cidade em busca de um clínico melhor. Ali, por uma opinião rápida, pagou uma fortuna. Quando saiu a porta do consultório, atirou à sua Maria: “isto é que é um médico a sério. Pagamos, mas somos bem tratados… até já me sinto melhor!”
Bom, meu caro director, tinha de lhe enviar o meu desabafo, porque, apesar da minha insignificância, tenho um orgulho do camano, e não gosto de encher com desaforo, ainda por cima de alguém que está em falta comigo e deveria dar uma explicação.
Naturalmente também já percebeu que a minha colaboração acabou… pelo menos nos mesmos moldes. A partir de agora, em analogia, passe a considerar-me um “médico” de cidade.
Muito obrigado e até á próxima, se Deus Nosso Senhor quiser.



RESPOSTA DO DIRECTOR DO JM



Exmo. Sr. Luís Fernandes



 Depois de consultar os seus artigos, percebi que, impossibilidade de publicar num jornal como o nosso o seu texto "O Onzeiro", de quatro páginas, o tínhamos dividido em partes e que só publicámos a primeira. O texto (o documento) foi classificado como publicado e nunca mais me lembrei dele. Sempre pensei que se houvesse uma falha desse tipo o senhor nos avisaria. Não avisou. A falha foi nossa. Peço desculpa.

Quanto ao caso da Ponte de Várzeas, o senhor deu-nos uma sugestão, e nós ouvimos a sugestão. Uma semana antes de nos ter falado no assunto tinhamos feito uma publicação sobre isso. Entendemos na altura que não fazia sentido publicar logo a seguir um texto sobre o assunto provavelmente a dizer a mesma coisa. O senhor de Várzeas dirigiu-se a si e o senhor Luis Fernandes ouvi-o. Não poderia ter-se comprometido, como certamente não se comprometeu. Se o senhor tivesse vindo à redacção teria tido exactamente a mesma resposta.
Passado algum tempo o senhor Luis Fernandes ligou para o jornal a perguntar pelo assunto e sugeriu ser o senhor a escrever o texto. Na altura - pelo menos tenho assim no meu apontamento sobre o assunto - dissemos-lhe que o escrevesse que nós publicá-lo-iamos. O texto nunca cá chegou e por isso não foi publicado. 

Já no que diz respeito aos nossos colaboradores, a comparação que faz com o João Semana é sua. Eu não me comparo ao utente insatisfeito. Nunca fui atrás de ninguém para escrever para o jornal, exactamente para não poder ser obrigado a escrever tudo o que me mandam e assim que mo mandam. A falta de publicação da continuação do seu texto foi uma falha - que o senhor só desculpa se quiser. Quanto às comparações com outros diretores, também aí a comparação é sua. Eu posso dizer-lhe que respeito tanto os que colaboram no jornal pro bono como os que recebem dinheiro (os funcionários e jornalistas). A única diferença é que aos que recebem dinheiro eu exijo competência, exijo qualidade, exijo cumprimento de prazos. Agradeço a uns e a outros e tanto uns como outros estão sempre à vontade para cessar a colaboração.

Se quisere continuar a mandar-nos textos nós publicá-los-emos. Se não quiser mandar, não mande.

Agradecia que me informasse, no entanto, se faz sentido continuar a publicar as restantes partes do "Onzeiro", ou não.

Com os melhores cumprimentos,
Nuno Castela Canilho

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