sexta-feira, 24 de junho de 2011

VALHA-NOS O ESPÍRITO SANTO...




 A mulher arrasta as pernas com alguma dificuldade. Ao andar, parece uma roda quadrada. Ora se inclina para um lado, ora tomba para o outro. Começa a subir a Rua Martins de Carvalho, antiga das figueirinhas. De repente enfia um pé dentro de uma tampa de saneamento que perdeu todo o seu interior de pedra calcária e agora com uma profundidade de cerca de uns quatro centímetros. A mulher, a esbracejar, pôs as mãos ao vazio, começou a arranhar o ar, como se estivesse à procura de fios invisíveis de sustentação que a permitissem amparar. Como por milagre de algum santo da vizinha igreja de Santa Cruz não caiu. No fim desta prestação mímica em equilíbrio, como velha locomotiva a carvão já cansada pelo tempo, começou a arfar que parecia coisa do demo.
Interpelo a Lena, proprietária da Tabacaria Espírito Santo, mesmo ali ao lado. 
-Quantas pessoas já caíram ali no buraco? Interrogo.
-Muitas, já nem tem conta. Responde.
Até já torceram um pé, mais do que uma –remata a filha.
-E já comunicaste à Câmara, Lena? –que dista uns escassos vinte metros em linha recta.
-Eu? Porquê eu? Sou a única que trabalho aqui na rua? –começa por recalcitrar em defesa.
Acho que sim, que já comunicaram. Isso já está assim há tanto tempo! -remata a vacilar.
-Mas sabes, Lena, que, por acaso –ou não- nestes casos, sempre que alguém comunique, a edilidade responde muito rápido e com eficácia?
-Sei… sei!...


(ATRAVÉS DO E-MUNÍCIPE FOI FEITA A COMUNICAÇÃO. APOSTO QUE, O MAIS TARDAR, TERÇA-FEIRA ESTARÁ REPARADA)

Sem comentários: