(IMAGEM DA WEB)
Não preciso dizer que poucos me conhecem –isto é mesmo La Palisse. Dizer também que não risco nada cá no burgo, é chover no molhado. Sinceramente também não procuro ser conhecido. Com franqueza, acho que não preciso e até me dá um certo gozo. Para os famosos cá da minha aldeia gigante que é Coimbra, sabem bem do que escrevo. É uma vantagem uma pessoa ir a qualquer lado e ninguém olhar duas vezes para nós. Em contrapartida, talvez por este vício de escrever e de ler jornais, que me há-de acompanhar até à sepultura, memorizo um rosto com uma facilidade de máquina fotográfica. Sem exagero, creio, conheço todas as pessoas que ocupam cargos de relevância política ou administrativa –desde que a sua foto passe nos jornais.
Não é que isto interesse muito a quem lê este apontamento, mas vou contar uma coisa interessante –ou talvez não. Já escrevo para os jornais há mais de 30 anos. O primeiro texto que assinei foi logo a seguir ao 25 de Abril de 1974. Tenho uma vaga ideia que era sobre uma qualquer obra pública que custava… (vejam lá bem!)… 12 mil contos, 60 mil euros hoje. Fosse lá porque fosse, sei que aquilo me indignou. Depois, sejamos sérios, escrever para um jornal e ver o nome no fim do texto é assim uma espécie de um clímax, uma masturbação plena. É como se nós, mentalmente, estivéssemos a fazer amor com aquela artista boazona…ai… como é que ela se chama?...Bom, não me lembro e também não interessa nada para o caso. Já viram bem onde quero chegar, que quem me lê é muito mais inteligente do que eu.
Bom, continuando, então dizia eu, que ver o meu nome lá no jornal era o máximo sonhado para um humilde campónio… que gostava de escrever… mas não sabia nada da poda. Talvez uma minoria não vislumbre, mas para se escrever bem tem de se treinar todos os dias. E, mesmo assim, de vez em quando é cada calinada na gramática que parece coisa má. Pelo menos é o que se passa comigo.
Dizia eu então, que nunca andei numa Faculdade de Letras, aprendi a escrever pelo gosto e pelo que lia nos outros, que nos primórdios das minhas escrituras assinava “Luís Fernandes”, que era um nome mais comum –já que, tirando outros nomes piores, me chamam António Luís Fernandes Quintans. Hoje, cá no meu bairro, felizmente ou infelizmente, a maioria sabe quem é o “Luís Fernandes” –mas não o conhece pessoalmente- e desconhece quem é o “Luís Quintans”. É giro isto, ou não é? Quer dizer a vulgaridade –do “Fernandes”- transcendeu a originalidade do “Quintans”, que é quase uma singularidade em Portugal. Pelo menos, parece-me, há poucos.
Espero que você, leitor, ainda não tivesse adormecido. O que me levou a deslizar neste meu rio da alma, a desfazer-se em afluentes de confissão, foi que, volta e meia, passando a imodéstia, escrevo textos de reflexão sobre a cidade –quer dizer, eu penso que são, mas não devem ser não. Eu é que ganho manias como o meu Silvano -é o meu jumento. E então o que faço a seguir? É assim, como todo o tipo importante que se preze, também tenho uma página no Facebook. Sem ofensa para ninguém, como qualquer idiota que vive de ilusões, igualmente, também tenho cerca de três centenas de amigos. Estes dividem-se em cerca de pouco mais de uma dúzia que conheço bem e os restantes são amigos que parecem ser mas não são. São conhecidos, pronto! Uma pessoa olha para as suas fotos lá no mural do Facebook e faz lembrar aquele produto azul que dá tusa… (ai, como é que se chama?)… um gajo toma um comprimido daqueles e fica à espera… e desespera, porque o efeito é igual. Quer dizer, nem aquece nem endireita, não sei se me faço entender. Depois lá vem a explicação: o tal comprimido só actua em quem não tem mesmo tusa nenhuma. É só mesmo para quem está carente. Pronto, e uma pessoa fica mais aliviada.
Então os amigos do Facebook, penso eu, deve ser a mesmíssima coisa: só são para quem não tiver mesmo nada, nada, nada e estiver numa profundíssima e altíssima solidão… não sei se estarei a ser claro.
Bom, continuando lá nos meus amigos do Facebook, eu sou um gajo muito bem relacionado, aliás, como manda a sapatilha… e a tolerância democrática, porque também é importante. Tenho amigos desde o PNR, passando pelo CDS/PP, pelo PSD, Bloco e até ao PCP. Umas vezes sou eu que peço amizade, noutras lá me aparece um a querer juntar-se ao meu grupo. Quem me solicita, deve olhar para o tal comprimido azul, aliás para os meus amigos, e deve pensar: “é pá! Este é dos meus!” E lá tenho eu mais um amigo –aqui confesso a minha falta de escolha: aceito toda a gente no meu grupo. Ou seja, deixo-os entrar, mas à mínima coisa que me chateei dou-lhes um pontapé no cu.
Ainda agora fiz mais uma limpeza cá no escritório. Eu vou explicar melhor para não me tomarem assim como um qualquer Valentim Loureiro, quando o major era mais novo e aparecia lá nos bonecos: “quantos são… quantos são?”
Então é assim, dizia eu que volta e meia escrevo uns textos de reflexão sobre a cidade e como tenho muitos amigos (faz de conta, é claro!) políticos cá no lugar, o que é que eu faço? Tentando-me enganar a mim próprio, coloco os textos que escrevi lá na página destes importantes personagens para eles lerem, e, quem sabe, com o seu poder de influência, até possam ajudar a resolver, sei lá?! E então o que é que acontece?! Não querem ver que estes meus amigos do peito –ou devo chamar-lhes asnos?-, passado um bocado, quando lá vou ver, já apagaram o que lá coloquei? Então isto não é para uma pessoa calmíssima, relacionadíssima, importantíssima como eu, ficar furibunda? Claro! E então o que é faço?! Interrogou? Olhe, dou-lhes um pontapé no cu! Faço bem, não faço? E o prazer que dá? Sabem lá? É pá! É fantástico! É assim, como hei-de explicar? O mesmo que vir de propósito a Coimbra o secretário-geral da ONU para me cumprimentar e eu não o receber.
Perceberam porque é que escrevi este texto? Não fui muito chato, pois não? Também me parece que não!
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