sábado, 14 de novembro de 2009

LIMPAR PORTUGAL? NÃO ME LIXEM!





Acabei agora mesmo de receber uma mensagem de telemóvel para participar numa reunião do “Limpar Portugal”. Para quem não souber do que se trata, foi uma iniciativa nascida de um projecto na Estónia, em 2008, criada por um grupo de amigos que resolveu contactar outros, através de e-mail, para limpar o país de detritos abandonados e contra o ambiente, num só dia. A verdade é que se inscreveram vários milhares de pessoas e foi mesmo um sucesso.
Se eu estivesse para aí virado, para o politicamente correcto, até distribuía loas e escrevia que esta iniciativa, em Portugal, era extraordinária. Até ia mais longe: esta diligência era de tal modo notável que os seus promotores deveriam ser agraciados no próximo 10 de Junho.
Mas acontece que estou mesmo mal humorado –fiquei assim depois de ler num jornal quem a propunha em Coimbra- e não estou minimamente inclinado para abraçar esta questão ambientalista. É claro que, como ressalva de interesses, tenho de dizer que não sou grande espingarda como militante destas causas. Abracei a causa da defesa do Choupal, através da Plataforma, porque, esta Mata Nacional faz parte do espírito de Coimbra, e, em nome do desenvolvimento “estradístico” de alcatrão, não deve, nem pode, sofrer constantes atentados que levarão à sua morte. Só por isso aderi.
Mas você quer saber porque não alinho na “limpeza de Portugal”? Está bem eu conto.
É óbvio que não quero ser injusto, mas quando se escreve irritado, em juízo de valor, é mais que certo que sai porcaria. Eu por mim sei, porque é sempre assim. Eu tenho quase repulsa à simbologia de "um dia para isto", "um dia para aquilo". Está bem!, até admito que chama a atenção, mas não passa disso mesmo. No dia seguinte já poucos se lembram, e passada uma semana já está arrumada nas catacumbas da memória.
Continuo a apelar que tenham alguma compreensão para a minha irascibilidade, mas ninguém me tira da cabeça que por detrás destas iniciativas estão sempre interesses ocultos. Vários mesmo, e lá no fundo da escala, se não houverem outros, está a sede de protagonismo.
Para mim são acções panfletárias, tipo tiro isolado de “snnipper”, cuja acção é apenas desencadeada no momento e nada mais. Porque senão vejamos, comecemos pela limpeza das matas, que é o que é proposto pelo Clube de Empresários de Coimbra para o próximo dia 20 de Março, segundo reza o Diário de Coimbra de hoje. Limpam-se as matas num dia, e então nos outros dias, o que vai acontecer? Cabe ao governo criar políticas, através de legislação, que vise desencalhar o problema -por exemplo, com recurso a desempregados, porque não? Ora, o que têm feito os executivos governamentais, este e os anteriores? É colocarem o problema para detrás das costas, ou então, para mostrar que se faz alguma coisa, estabelecem-se coimas para os agricultores que não as limpem. É lógico que é pior a emenda que o soneto, sobretudo porque os agricultores estão descapitalizados, por um lado, e, por outro, devido à PAC (Política Agrícola Comum) este ancestral ramo tão importante no país arrasta-se pelas ruas da amargura e não dá nem para mandar cantar uma serenata à menina Efigénia à sombra de um sobreiro.
Se pensassem em limpar Portugal da corrupção, da miséria -limpando a pobreza- limpar a insegurança –que diariamente, em consequência, desfaz postos de trabalho-, limpar algumas cabeças, que só têm teias da aranha, assim já me poderiam convidar. Agora para limpar matas tenham lá santa paciência, mas esse trabalho provoca-me calosidades nas minhas mãozinhas delicadas. Desculpem…lá!

1 comentário:

Lapa disse...

É uma atitude coerente.