sábado, 17 de janeiro de 2009

UM ABRAÇO DE CRIANÇA CRESCIDA


(AQUI, COM O PEPINO, O GERALDO IMAGINA UM MICRO E DIZ MESMO "UM, DOIS, EXPERIÊNCIAS")



(AQUI JÁ ESTÁ O GERALDO EM PLENA PERFORMANCE)



(AQUI JÁ ENSAIA COM A HARMÓNICA)




(E ENTÃO "AQUELE" ABRAÇO, QUE SÓ A IMAGEM PODE DESCREVER)




 O Geraldo é uma daquelas personagens típicas que existem nas cidades. Mas esta tem uma particularidade especial: possui um vozeirão de tenor que não deixa ninguém indiferente. Já anteriormente aqui falei dele e lhe tirei uns retratos, inclusive.
O Geraldo, aparentemente, detém uma leve deficiência mental, um ligeiro “atraso”, como se dizia antigamente. Só assim se entende que este homem percorra as ruas da Baixa a cantar. Mas não é um cantar qualquer. Este homem “encanta”. Para além do seu vozeirão, sabe utilizar a sua voz e entoar os mais variados trechos musicais. Como é pacífico, que me conste nunca fez mal a ninguém, a verdade é que quando o avistamos, nas suas poses reais, mas que parecem teatralizadas, não podemos evitar um sorriso. É como se avistássemos a figura do Pai Natal, com toda aquela candura e informalidade.
Como já me conhece, e hoje, mais uma vez, não resisti a tirar-lhe umas fotos, veio ter comigo e, com aquela voz grossa, num corpo de homem, mas na timidez de uma criança, pediu-me: “não me dás três euros?”
Para que queres os 3 euros? Interroguei. “Para comprar uma harmónica ali na praça, naquela casa de música”. 
Como tinha “nas minhas coisas” uma velha harmónica Honner, talvez com mais de cinquenta anos, fui buscá-la e dei-lha em mão para ele a experimentar. Começou a tocar a flauta de beiços e a dançar, parecia uma criança. “Dás-ma? Dás?”. Quando disse que sim, abraçou-se a mim aos beijos, conforma a foto demonstra. Lindo! Foi mesmo lindo. E lá foi ele encantado porque ganhou o dia e eu também pela lição recebida.
Talvez não pareça bem estar aqui a contar o que fiz, mas, a não ser assim, não conseguiria escrever esta “estória”, nem justificar aquele abraço apertado do homem de corpo gigante e alma de criança.
Quando se cruzar com o Geraldo numa destas ruas da Baixa, pare por um momento e, se possível, dê-lhe uma palavra. Verá como é uma doçura…de criança crescida.

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