sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

"PISO DA ALTA MAIS SEGURO"





Segundo o Diário de Coimbra, de 21 deste mês, “O Gabinete para o Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra só está à espera do parecer do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) para avançar com a primeira fase de um conjunto de intervenções que pretende tornar o piso da zona da Alta do Centro Histórico, nomeadamente entre o Arco de Almedina e a Sé Velha, mais seguro e menos vulnerável às frequentes quedas.”
Está em marcha mais um atentado ao património da cidade. Eu sou um leigo na matéria e ainda mais na cultura, mas penso que não é preciso ser “expert” para ver que se prepara mais uma tremenda asneira. Estando há vários anos a ser preparada a candidatura à Unesco da Alta da cidade a património mundial, pergunto-me, como é possível não verem que esta alteração será uma profunda adulteração à paisagem urbana desta zona monumental?
Argumentar que as quedas são frequentes pela falta de aderência do piso é um raciocínio com tanta falta de imaginação que até mete pena.
Afinal o que quer o Gabinete para o Centro Histórico? Quer uma zona monumental velha, com um casario de vários séculos e monumentos medievais, com pisos novos, em calçada portuguesa e lajes de granito? -continuo a dizer, e não levem em conta o que estão a ler porque eu não percebo nada de construção civil. Além de mais, será lógico e terá algum cabimento, em nome da comodidade, ir-se substituir um calcetamento em pedra calcária com vários séculos por umas inestéticas passadeiras modernaças?
O que se passou aqui na Baixa, se quem manda estivesse atento, daria para ver que foi um tremendo erro a substituição das ancestrais pedras calcárias por troca de calçada portuguesa misturada com lajes de pedra branca, há cerca de uma década, ao abrigo do programa Procom. A diferença entre custo e benefício salta à vista, pesando mais o primeiro. Basta olharmos para o chão, ao longo das ruas estreitas, para vermos grandes crateras na calçada e imensas lajes de pedra calcária quebradas. Têm sido imensas as quedas de transeuntes a tropeçar nestas armadilhas. Algumas, com gravidade, tiveram de receber assistência médica.
Economicamente, estas substituições e manutenção serão um desastre financeiro para a autarquia. Basta atentar e interrogar o custo de substituição das imensas lajes de pedra, no ano passado, nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz e Praça 8 de Maio. Falando nesta praça…o piso foi o pior arranjo urbanístico que se fez na cidade no último século. Tentem passar lá por estes dias de chuva com sapatos de sola e verão o que estou a dizer: para se conseguir andar, só se for passo-entre-passo, muito devagarinho, caso contrário escorrega e dá, como se diz na gíria, um valente “bate-cú”.
A mudança para este lajeado foi simplesmente criminoso. E quando refiro esta terminologia não é por acaso: uma senhora minha conhecida, de Almalaguês, logo a seguir às obras nesta praça, numa das rampas, escorregou, bateu com a cabeça e veio a morrer no hospital. A família, pelas dificuldades em provar o nexo de causalidade, entendeu não levar o caso a juízo, mas ficaram sempre na convicção de que o desaparecimento precoce do seu familiar se deveu aquele horrendo projecto arquitectónico de um arquitecto de renome que olvido intencionalmente. Como se sabe, depois disso, e ao longo dos anos, estas rampas já levaram tantas “plásticas” para as tornar seguras que mais parece a saga do Mikael Jakson.
Os antigos, os nossos ancestrais, aqueles cujos corpos foram enterrados em igrejas, devem estar a rir-se de tanta pacovice e falta de inteligência destes “arquitectos” modernaços, cujo objecto da sua existência consiste em só pensar na comodidade e aderência de quem passa. Mas se as cidades, nas suas zonas velhas, estão cada vez mais vazias de transeuntes para que serve substituir um piso por outro?

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