sábado, 3 de janeiro de 2009

O QUE FAZER COM ESTE ESTADO LAXANTE?



O senhor Rui é o proprietário da papelaria e tabacaria Papyrus, na Avenida Fernão de Magalhães, mesmo ao lado dos Bombeiros Voluntários, em Coimbra. É a terceira vez que falo aqui dele, infelizmente. Durante o último mês do ano de 2008 foi assaltado três vezes. Apesar das suas fortes grades em ferro de protecção e alarme, na noite de 27 de Dezembro, depois de rebentarem os cadeados e as fechaduras de segurança da grade, levaram-lhe cerca de 2000 euros de artigos, entre eles, até a máquina registadora. Só em tabaco foram cerca de 1500 euros.
Na última noite da passagem do Ano Novo, mais uma vez foi assaltado: levaram-lhe mil e tal euros de tabaco. Ontem, quando estive com ele estava uma lástima. De olhos lacrimejantes, parecia que, animicamente, tinha sido trucidado por um comboio.
Conheço este homem há muitos anos. Para além de passar as “passas do Algarve” para chegar até aos dias de hoje, a vida, como para tantos outros, foi sempre madrasta. Já fez mil e umas coisas para sobreviver e andar de cabeça erguida.
Embora, como ele, já sentisse na pele o sabor amargo de ser visitado pelos amigos do alheio, ao falar com ele ontem, faltavam-me as palavras. Achei que o melhor era estar calado perante aquele quadro triste.
Eu sei, quase que adivinho, quem lê este blogue, certamente, quando “posto” mais um assalto na Baixa, pensa: fogo! Lá vem este tipo com mais notícias tristes. Mas, entendam: eu não posso calar a revolta que sinto, quer pessoalmente, quer a cólera que vejo nas pessoas que são vilipendiadas no fruto do seu trabalho. A sua maior raiva é que sentem-se num ponto sem retorno. Num tubo em que não podem voltar para trás. Por um lado, devido à sua idade, cerca de 50 anos, não arranjam emprego, por outro, se desistirem dos seus negócios não têm subsídio de desemprego. E, por outro ainda, para além de saberem que estão votados ao abandono, sentem, e isto é o mais grave, é que estão a trabalhar para o boneco. Estão completamente à mercê desta cambada de ratos, que, depois do anoitecer, saem das suas tocas e invadem a cidade adormecida e, à vontade, roubam o que lhes apetece.
Este Estado sistémico, em que vivemos, transformou-se numa instituição laxante, uma espécie de purgante que facilita a evacuação das fezes -entenda-se aqui “fezes”, a facilidade e a liberdade de actuação dos energúmenos. Uma Nação que não defende quem trabalha e cria riqueza não pode ser chamado de Estado. Quanto muito uma república –sem espírito republicano- das bananas, um Estado africano, cuja política social, a continuar assim, é a “formação” de ratos, a viverem em guetos, onde a violência, inevitavelmente, vai disparar. Bem pode apelar o presidente da república ao aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Neste clima de insegurança, quem pode?

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