Lendo o título até parece que vou contar uma história e vou começar por “Era uma vez”. Embora seja de facto uma história, não é ficcionada, trata-se de uma realidade. Conta e mostra a insensibilidade de pessoas, que estando à frente de empresas públicas, não têm o mínimo respeito, condescendência e sensibilidade pelos privados.
A história que aqui vou contar tem dois personagens, a Metro
Mondego, uma sociedade do sector empresarial do Estado e uma loja, de nome
Joaninha, que durante cerca de três décadas existiu na Praça 8 de Maio, em
Coimbra, até Setembro do ano passado. Este estabelecimento de brinquedos, com o
João Monteiro como timoneiro à frente de vários empregados, durante os cerca de
trinta anos de existência, foi o anfitrião da visita amiúde de muitos
conimbricenses acompanhados dos seus filhos e netos.
Segundo conta o João Monteiro, como o traçado do futuro Metro
de superfície, em princípio, iria passar por aquele espaço, depois de
anteriores tentativas goradas de negociação entre aquela empresa e o gerente da
Joaninha, nos começos de 2008, recomeçaram as pressões por parte da empresa
“Metro”, com recurso a ameaças de que “ou
aceita o que lhe propomos ou vamos para a expropriação”. “De tal modo foram obstinados e insistentes
que acabei por aceitar o acordo, ainda que à partida soubesse que para além de
me ser desfavorável, e que neste contrato –que assinei em Julho- perdia trinta
anos de vida, tinha noção de que estava a ser “coagido” a assinar pelas
constantes ameaças do tribunal”, desabafa comigo o João Monteiro.
Continua o João, “depois
de ter assinado, queriam que eu saísse logo em Agosto, porque havia estudos
geológicos para fazer, argumentaram. Eu disse que era impossível, pois tinha a
loja cheia de mercadoria e não podia, de um dia para o outro, agarrar naquilo
tudo e pôr, sabia lá onde. Argumentei que me fosse permitido continuar lá até
ao Natal para ver se escoava o máximo de produtos. Disseram-me: “então, vá-se
deixando estar que depois avisamos. Fiquei convencido que ia poder fazer a
época natalícia. Meia dúzia de dias antes de terminar o mês de Setembro recebi
um ultimato: tinha de sair até ao fim do mês, porque iriam começar os estudos
geológicos. À pressa, tive de retirar tudo, pedindo a vários amigos que, nas
suas garagens, espalhadas pela cidade, me guardassem a mercadoria. Como a
contrapartida que recebi mal deu para pagar aos fornecedores os artigos que
pensava poder vender no estabelecimento até ao Natal, hoje tenho imenso artigo
e, devido às obscenas rendas pedidas na Baixa, não consigo uma loja na zona
histórica onde possa escoar os meus brinquedos”.
Continua o João Monteiro, “repara,
estamos em 14 de Janeiro, ou seja, passados quatro meses, e, na minha antiga
querida Joaninha, o amor da minha alma, tudo continua na mesma. Até agora, nada
lá fizeram. Porque me obrigaram a sair assim a correr?” –interroga o meu
amigo João, com as lágrimas prestes a desabar daqueles olhos sem brilho e
esmorecidos. “Estou a baixar os braços de
dia-para-dia. Estou sem forças. Esses fulanos deram cabo da minha vida. Porque me fizeram isto?”, repete sem
cessar.
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