Hoje, cerca das 15h00, Abdus
Shamid, cidadão do Bangladesh, inquilino do restaurante onde durante décadas
funcionou o “João Brasileiro”, na Praça do Comércio, alegadamente, teria sido
agredido pelo seu senhorio. Segundo declarações de Shamid, “eu abri o restaurante
em 10 de Fevereiro, último, com uma renda mensal de 1300 euros. Tenho tido
muita dificuldade em cumprir o pagamento. Neste momento estou a dever um mês de
renda em atraso. Tenho tido problemas com o Alvará na Câmara Municipal e com a
licença do estabelecimento. Estou também com problemas na chaminé e não me
aprovaram a instalação do gás. Comuniquei tudo isto ao senhorio e até à data
nunca me resolveu estes problemas. Como estou a fazer 70, 80 euros por dia, não
tenho conseguido cumprir com a minha obrigação contratual. Há dias, no dia 12,
apareceu-me no restaurante o dono do prédio a dizer que eu tinha de fechar
porque estava com a renda em atraso. No dia seguinte a mesma coisa e acabei por
não abrir mais. Hoje recebi um telefonema dele a dizer que queria falar comigo,
e para nos encontrarmos no restaurante. Fui lá, entrei, e a seguir entrou ele
com outro sujeito. Lá dentro, disse-me que se eu não saísse imediatamente
colocava tudo na rua. Puxou de uma folha e queria que eu a assinasse. Como eu
percebo mal a escrita portuguesa, disse-lhe que, primeiro, tinha de levar o
documento ao meu contabilista para ele ler. Perante a minha recusa, o senhorio
colocou as mãos no meu peito, na camisola, e, brutalmente, atirou-me para o
chão. Depois retirou-me as chaves do estabelecimento.”
O QUE DIZ O SENHORIO?
Por coincidência, à mesma hora,
passei no local. Como ontem tinha escrito um texto sobre o recente encerramento
deste restaurante, vi a porta encostada e, lá dentro, o Shamid acompanhado por
dois indivíduos. Assim que me viu, e antes de eu fazer qualquer pergunta, o
cidadão indiano, como a apoiar-se em mim e talvez inferindo que eles não
gostaram da minha presença, foi dizendo para os dois homens: “este senhor
conhece-me!”
O homem mais velho, creio que o
senhorio, repetia: “se não pagas a renda, tens de ir embora!”.
Perante aquele quadro, para mim,
pouco dignificante, fiquei sem saber o que fazer –tinha sido apanhado naquele
turbilhão de emoções. Foi então que o Shamid, abrindo o casaco, mostrou a
camisola toda rasgada e, ao mesmo tempo que me mostrava dois dedos feridos,
dizia: “queria que eu assinasse o documento à força, mas eu não percebo bem
português. Então atirou-me ao chão e tirou-me as chaves.”
O senhorio retorquia: “eu
tirei-te as chaves? Tu é que mas deste! Além de mais deves dois meses de renda.
Se não pagas tens de ir embora!”
Saímos os quatro para a rua. Não
é preciso ser presciente para pressentir que estava perante um cenário pouco edificante. Em conflito, rapidamente, comecei a interrogar-me: o que é faço?
Então virei-me para os dois homens e disse: “pode ser certo que o Shamid tenha
a renda em atraso –ele mesmo o confirma- mas o senhor não pode resolver as
coisas assim pela força, argumentei. Os dois homens, perante o meu
contraditório, pareceram ter sido picados por uma vespa: “que tem o senhor a
ver com isso?”. Fecharam a porta, puseram as chaves no bolso e ainda atiraram
para mim: “és uma porcaria de gente, pá!”
QUEIXA APRESENTADA NA PSP
Shamid apresentou queixa na PSP,
contra o seu senhorio, por ofensa à integridade física.
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3 comentários:
É extraordinário... Esta gente ainda se atreve a chamar porcaria de gente aos outros... Espero que a agressão não fique sem ser punida.E, já agora, o dono da casa andou com o seu inquilino na escola? É que o tratamento por tu é também significativo e explica muito do que se passou, não?
Obrigada por ter comentado, Helena. Isto é triste. Muito triste mesmo.
Tu és um grande amigo e um defensor da baixa e do comercio.
Tu não levas a mal que te tratem por tu.
Tu não é má educação, sabe bem melhor que um Srº ou Srª Doutora ou Doutor.
Tu Luís continua a seres "TU".
Assinado :
Um TU que também sou EU.
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