“O CEGUINHO”
Quantas vezes, nos últimos 15
anos, já o escutaram na Rua Eduardo Coelho com a sua lamúria: “tenham dó e
caridade de auxiliar o ceguinho, com uma esmola, para quem não vê a luz do dia,
senhor”?
É o Eduardo Ventura Neves, de 58
anos, e é cego de nascença. Vive em casa dos pais, nos Casalinhos, em Soure. É
solteiro e bom rapaz. Recebe 140 euros da Segurança Social, talvez uma pequena
reforma por invalidez, não sabe. No princípio custou um bocado estar a apelar
ao óbolo, com o “ajudem o ceguinho, senhor!”, mas agora, já se habituou. “Se
pudesse, não estaria aqui”, confidencia-me. Sobretudo agora, que, com a crise,
as pessoas dão tão pouco.
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