(Imagem da Web)
Tendo em conta o momento aflitivo
que o comércio de rua está a passar, em 13 de Fevereiro, último, um grupo de
comerciantes, em qual eu estava incluído, deslocou-se à reunião pública do
executivo municipal a reivindicar o cumprimento da promessa transcrita na acta
de 14 de Outubro de 2002 em que, em compensação pela aprovação do Fórum
Coimbra, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) prometia ceder um terreno para a
construção da “Casa do Comerciante".
Nesta sessão pública, de 13 de fevereiro, foi verberado por
toda a vereação, incluindo a oposição, que, para além de serem
necessárias políticas de revitalização para a Baixa, é preciso tomar atenção
aos comerciantes que aqui exercem a sua actividade sobretudo “nesta situação de
crise profunda como a que vivemos”. Pelo presidente da CMC, João Paulo Barbosa
de Melo, foi dito –e está escrito em acta- que iria cumprir a deliberação e,
juntamente com os comerciantes e os presidentes de junta de freguesia, se
encontraria um espaço para a “Casa do Comerciante” na Baixa da cidade.
O tempo foi passando –neste caso
três meses- e eu fiquei à espera de ser contactado por alguém da autarquia.
Debalde. Até hoje não mais merecemos qualquer comunicação para dar cumprimento
à palavra dada. É certo que poderemos especular que o presidente disse que iria
cumprir, mas não quando. Mas, perante esta promessa pública, poderemos
interrogar: quanto vale a palavra dada de um presidente de câmara? Vale alguma
coisa? Vale muito? Vale pouco? Não vale nada? –Mas, se cairmos neste redutivismo,
nesse caso, por inerência, também não vale nada a palavra de uma instituição
pública, do Governo. É certo que temos mesmo à mão dezenas de exemplos a
mostrar esta forma de estar na vida pública, mas, nesta modorra, temos de
interrogar: afinal não andamos todos a batalhar exaustivamente contra este
estado comportamental dos políticos? E o curioso é que, se atentarmos, isto é
uma cadeia viciada. Ou seja, o cidadão acusa o presidente da edilidade de não
cumprir, mas entre si, interpares, também não quer saber do que disse
anteriormente. O presidente da Câmara Municipal, perante o cidadão não efectiva
o que disse –mostrado neste exemplo que trago à colação. Esquecendo o que faz
na sua cidade e para com os seus munícipes, acusa o Governo de mau-carácter –pode
servir o modelo de Barbosa de Melo juntamente com colegas irem para Lisboa
reivindicar a reposição do Metro Ligeiro de Superfície. Por sua vez o Governo
acusa Bruxelas de ter dois pesos e duas medidas com o país. Ou seja, todos defendem
para a frente e pugnam pelo cumprimento da palavra dos outros, mas, em face do
seu próprio caso subalterno, na sua casa, não realizam a obrigação por si dada
em verbe.
MAS AFINAL O QUE É QUE SE PASSA?
Dando corpo ao que escrevi em
cima, é evidente que, tendo ido à autarquia em Fevereiro e como já estamos em
fim de Maio, estou em falta com os comerciantes. Por conseguinte, se,
individualmente, com o nosso comportamento projectamos e servimos de modelo a
outros, naturalmente, não poderia ficar quieto. Da minha parte, considero, está
um prosseguir com a acção, um dar continuidade, em notória falta.
Antes de continuar, saliento a
intervenção de Carlos Clemente, presidente da Junta de Freguesia de São
Bartolomeu, na última Assembleia Municipal em que interveio e, embora ficasse
sem resposta, disse o seguinte: “ (…) nós, junta de freguesia, manifestámos ao
senhor presidente com a criação da Casa do Comerciante, promessa feita pelo
anterior presidente, Dr. Carlos Encarnação, em campanha eleitoral, mas a
verdade é que não foi dado passo nenhum. Sei que na última reunião pública da
Câmara vários comerciantes vieram a esta casa levantar esta questão. (…) É
urgente que seja aproveitado o espaço que existe na Travessa da Rua Velha,
chamada Telha Amiga, cujo projecto foi magnífico, a ideia foi genial, só que as
pessoas não aderem, uma obra que estava prevista levar 12 utentes, tem lá 4
utentes. A própria Casa de Repouso de Coimbra já equaciona a revogação do protocolo.
Poderíamos pensar ali, transferir e fazer uma obra magnífica, para Coimbra para
apoio ao comerciante, que era a criação da Casa do Comerciante, com lar com as
valências, porque temos comerciantes na Baixa de Coimbra no risco da miséria.
São estes apontamentos que queria
aqui deixar, sendo certo penso que o senhor presidente passou ao lado do que eu
disse mas eu a proxima, cá voltarei outra vez, a chamar a atenção.” –Extracto da
acta da última Assembleia Municipal de Coimbra.
Continuando com a exposição, há
cerca de um mês foi constituída uma “Comissão de Instalação” e apresentado
entre os seus membros os “Estatutos para a Casa do Comerciante da Cidade de
Coimbra. Ou seja, está tudo pronto para a sua promulgação em Diário da
República como sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos.
Por proposta de um dos membros da
“Comissão Instaladora” entendeu-se que, antes de avançar para a publicação no órgão
oficial, se deveria dar conhecimento, em primeira mão, ao presidente Barbosa de
Melo. Em 15 de Maio, através dos procedimentos protocolares com pedido escrito,
foi solicitado um pedido de audiência. Até hoje, dia 31, nem uma palavra por
parte da edilidade foi comunicada para receber esta comissão.
QUANTO VALEM OS COMERCIANTES PARA
A CMC?
Não é preciso ser especulador
para entender que, nesta apatia da CMC, estamos perante uma enormíssima falta
de respeito e desconsideração para com todos os profissionais do comércio. Era
bom lembrar o presidente da edilidade, João Paulo Barbosa de Melo, que esta
classe, nas últimas décadas, mesmo prosseguindo o seu legítimo interesse
egoísta, ajudou a desenvolver a cidade. Os mercadores, ao longo dos séculos,
foram sempre uma profissão respeitada e reconhecida. Hoje, sabemos todos, a
maioria está nas ruas da amargura. Será por isso que a CMC não se digna receber este grupo que visa apenas assegurar um futuro digno e defender os seus colegas? Sim,
porque, diz o povo que quando uma pessoa está na miséria até os cães vêm mijar
nas rotas alpercatas.
Os comerciantes da qual faço
parte não fazem política partidária –aliás essa premissa está bem expressa nos
estatutos. Então por que razão o presidente, Barbosa de Melo, que sucedeu a
Encarnação, não se demarca do seu antecessor e, mesmo com alguma evidente
ambição política, faz diferente? Ou terá medo deste grupo de comerciantes e,
neste provocador ignorar, é uma forma de mostrar que estas pessoas não valem um
pífaro? Acontece que estes indivíduos, cidadãos, na qual me incluo, não andam
nisto pelo protagonismo ou para ganharem dinheiro. Querem levar esta
ideia para a frente porque, ao irem em Fevereiro à CMC, tomando o compromisso
perante os restantes camaradas de profissão, são pessoas de palavra. Apenas
isso. Só isso e nada mais.
No próximo dia 11 de Junho
estarei, mais uma vez, no executivo municipal onde, publicamente, direi o que
aqui vai escrito. Não se admite esta postura deste executivo, ou outro que venha, perante uma classe
que deveria merecer todo o respeito. Bolas, nem que fosse pela política partidária.
Para o ano há eleições. Será que se esqueceram?
(TEXTO ENVIADO À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)
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