terça-feira, 22 de maio de 2012

MÁ-SORTE SER INQUILINO COMERCIAL NA BAIXA

 Hoje, cerca das 15h00, Abdus Shamid, cidadão do Bangladesh, inquilino do restaurante onde durante décadas funcionou o “João Brasileiro”, na Praça do Comércio, alegadamente, teria sido agredido pelo seu senhorio. Segundo declarações de Shamid, “eu abri o restaurante em 10 de Fevereiro, último, com uma renda mensal de 1300 euros. Tenho tido muita dificuldade em cumprir o pagamento. Neste momento estou a dever um mês de renda em atraso. Tenho tido problemas com o Alvará na Câmara Municipal e com a licença do estabelecimento. Estou também com problemas na chaminé e não me aprovaram a instalação do gás. Comuniquei tudo isto ao senhorio e até à data nunca me resolveu estes problemas. Como estou a fazer 70, 80 euros por dia, não tenho conseguido cumprir com a minha obrigação contratual. Há dias, no dia 12, apareceu-me no restaurante o dono do prédio a dizer que eu tinha de fechar porque estava com a renda em atraso. No dia seguinte a mesma coisa e acabei por não abrir mais. Hoje recebi um telefonema dele a dizer que queria falar comigo, e para nos encontrarmos no restaurante. Fui lá, entrei, e a seguir entrou ele com outro sujeito. Lá dentro, disse-me que se eu não saísse imediatamente colocava tudo na rua. Puxou de uma folha e queria que eu a assinasse. Como eu percebo mal a escrita portuguesa, disse-lhe que, primeiro, tinha de levar o documento ao meu contabilista para ele ler. Perante a minha recusa, o senhorio colocou as mãos no meu peito, na camisola, e, brutalmente, atirou-me para o chão. Depois retirou-me as chaves do estabelecimento.”

O QUE DIZ O SENHORIO?

 Por coincidência, à mesma hora, passei no local. Como ontem tinha escrito um texto sobre o recente encerramento deste restaurante, vi a porta encostada e, lá dentro, o Shamid acompanhado por dois indivíduos. Assim que me viu, e antes de eu fazer qualquer pergunta, o cidadão indiano, como a apoiar-se em mim e talvez inferindo que eles não gostaram da minha presença, foi dizendo para os dois homens: “este senhor conhece-me!”
O homem mais velho, creio que o senhorio, repetia: “se não pagas a renda, tens de ir embora!”.
Perante aquele quadro, para mim, pouco dignificante, fiquei sem saber o que fazer –tinha sido apanhado naquele turbilhão de emoções. Foi então que o Shamid, abrindo o casaco, mostrou a camisola toda rasgada e, ao mesmo tempo que me mostrava dois dedos feridos, dizia: “queria que eu assinasse o documento à força, mas eu não percebo bem português. Então atirou-me ao chão e tirou-me as chaves.”
O senhorio retorquia: “eu tirei-te as chaves? Tu é que mas deste! Além de mais deves dois meses de renda. Se não pagas tens de ir embora!”
Saímos os quatro para a rua. Não é preciso ser presciente para pressentir que estava perante um cenário pouco edificante. Em conflito, rapidamente, comecei a interrogar-me: o que é faço? Então virei-me para os dois homens e disse: “pode ser certo que o Shamid tenha a renda em atraso –ele mesmo o confirma- mas o senhor não pode resolver as coisas assim pela força, argumentei. Os dois homens, perante o meu contraditório, pareceram ter sido picados por uma vespa: “que tem o senhor a ver com isso?”. Fecharam a porta, puseram as chaves no bolso e ainda atiraram para mim: “és uma porcaria de gente, pá!”

QUEIXA APRESENTADA NA PSP

Shamid apresentou queixa na PSP, contra o seu senhorio, por ofensa à integridade física.

3 comentários:

Mª Helena Dias Loureiro disse...

É extraordinário... Esta gente ainda se atreve a chamar porcaria de gente aos outros... Espero que a agressão não fique sem ser punida.E, já agora, o dono da casa andou com o seu inquilino na escola? É que o tratamento por tu é também significativo e explica muito do que se passou, não?

LUIS FERNANDES disse...

Obrigada por ter comentado, Helena. Isto é triste. Muito triste mesmo.

Anónimo disse...

Tu és um grande amigo e um defensor da baixa e do comercio.
Tu não levas a mal que te tratem por tu.
Tu não é má educação, sabe bem melhor que um Srº ou Srª Doutora ou Doutor.
Tu Luís continua a seres "TU".

Assinado :
Um TU que também sou EU.