quarta-feira, 2 de maio de 2012

FEIRA DO BOTA-ABAIXO, O PARADIGMA DE COIMBRA





  Depois de ser anunciado em primeira página n”O Despertar, na edição de 23 de março, de que “inaugurar a Feira do Bota Abaixo no próximo dia 15 de abril, no mesmo dia em que comemora 123 anos, é o grande desejo da Associação Humanitária” eis que, nesta última segunda-feira, em carta dirigida aos associados, João Silva, presidente da direção dos Bombeiros Voluntários de Coimbra (BVC), anuncia que “com a sensação desconfortável de frustração por não conseguir levar à prática uma iniciativa  que considero poderia ser um contributo positivo para a revitalização da Baixa da cidade (…) não vai avançar com a realização da Feira do Bota Abaixo.”
E qual o motivo da não realização? A resposta está na mesma comunicação: “Acontece que numa reavaliação das implicações que um evento desta natureza implica para esta Associação, tendo em conta as suas capacidades estruturais internas e tendo, sobretudo, verificado uma relevante ausência de respostas positivas, por parte de cidadãos que voluntariamente, no âmbito desta instituição, se dispusessem a colaborar na sua organização (…)”
Antes de prosseguir, como ressalva de interesses, para se entender o que vou escrever, tenho de dizer que esta ideia de realizar uma feira ao domingo na Baixa foi minha. Em 22 de fevereiro, depois de ir pessoalmente ao quartel, apresentei por escrito um anteprojecto de ideias que serviriam para revitalizar o Largo das Olarias e mais propriamente a Baixa no último dia da semana. No dia 29 de março realizou-se uma reunião alargada a todos os associados de modo a conseguir “mão-de-obra” para o certame. Estiveram presentes cerca de uma dezena de sócios. Alguns deles, para além de o considerarem positivo para os bombeiros e para a cidade, manifestaram a intenção de colaborarem no evento, incluindo eu a tempo inteiro. Então, a meu ver, aconteceu o impensável: um dos presentes deu em achar dificuldades em tudo. O dia escolhido, o domingo, era mau; poderia haver pancada; poderia haver artigos roubados; poderia vir a ASAE; como é que se geria a questão dos vendedores ciganos; e se fosse um falhanço a imagem dos bombeiros ficava beliscada, etc., etc. De tal modo foi destruidor que tive de lhe perguntar a razão de tanto pessimismo. Não gostou e saiu espavorido pela porta fora. Na reunião fiz questão de dizer ao presidente que decidisse com liberdade e como entendesse, no entanto, intuí imediatamente que o projeto, por parte dos BVC, tinha morrido ali. Apesar deste sentimento continuei à espera da decisão final. O que me interessou sempre foi a concretização e nunca de quem o realiza. Em 24 de abril enviei um mail a João Silva para que me informasse acerca do ponto da situação. Não me respondeu. Passada uma semana, nesta última informação aos associados, fiquei a saber que não haveria feira.
Ora bem, estou frustrado por os BVC não terem abraçado a ideia? Não senhor, não é isso que me deixa azedo, até porque, como escrevi, já esperava. O que me aborrece deveras é como fui tratado. Ou seja, a ideia foi apresentada em 22 de Fevereiro; a reunião com apoiantes foi em 29 de março. A sentença derradeira foi em 30 de abril. Dois meses e tal, entre o conhecimento do plano e a decisão final, convenhamos, será tempo de mais. A forma como ao longo deste tempo fui recebendo informação foi, no mínimo, deficiente e caricato, para não dizer desrespeitosa. Depois admiram-se que os cidadãos não se envolvam nas causas? Perante casos como este, em que apresento ideias e sou ostracizado, às vezes penso que o problema reside mesmo em mim. Tenho a mania de acreditar nas pessoas e envolver-me. Levo cada sopapo que até fico zonzo. Ou será que isto não se passa apenas comigo e é o paradigma da cidade?
Em suma, afirmar-se que “ninguém se mostrou disponível para assumir responsabilidade de apoiar de forma consistente a organização” -citando o Diário de Coimbra de hoje-, é uma desculpa esfarrapada, gratuita e insultuosa, um mostrar o sol através da peneira, aos cidadãos de Coimbra.

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