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Há dois momentos na vida de uma pessoa que são sempre iguais: o nascimento e a morte. Poderão as circunstâncias ser diferentes em qualquer dos casos, como a assistência, por exemplo, mas o facto de “per si” será sempre similar para todos. Curiosamente, nos dois casos, mesmo que muito acompanhado, o acto em si, é sempre profundamente isolado e de retiro, quer para quem entra, quer para quem parte.
Especulando, considerando o nascimento como o início de uma acção e um caminho de solidão, mesmo considerando que o homem é um ser social e associal ao mesmo tempo, parece que os humanos nascem destinados para sofrer. Aliás, penso que não haverá estudos sobre isto, mas, ao longo da existência, o homem será mais tempo infeliz do que detentor de felicidade –esta é uma espécie de raio solar no Inverno.
Socorrendo-me da teoria de Rosseau e Hobbes, em que o homem nasce bom e é a sociedade que o conspurca e torna mau ou o contrário, a verdade é que vem ao mundo desprovido de sentimentos. Evidentemente que o reconhecimento da bondade e da maldade é imanente à condição. Facilmente distingue o calor de uma carícia ou a dor de uma pancada. Apesar disso, dessa destrinça aparentemente fácil, tem dificuldade em estabelecer um conceito-padrão de bem e mal. O bom, ainda que geral, nunca o será para todos. Para uma minoria será sempre menos bom ou mesmo mau. A tristeza de um será, em oposto, a alegria de outro.
Uma coisa é certa, e parece não oferecer contestação: o meio ambiente, abastado ou empobrecido, em que se é criado será quase sempre condição “sine qua non” para a escolha entre pobre ou rico, malfeitor ou benfeitor. Incluindo a possibilidade ser ou não bem sucedido, ser ou não mentalmente desenvolvido na sua inteligência reflexiva.
Sabe-se também que, embora sem livro de instruções, traz associado um elevado instinto de preservação. E, curioso, é aqui, quando necessário e em clima de grande ameaça pessoal, que o benfeitor se transforma num igual a qualquer outro bandido. Pode até dizer-se que não senhor, que os princípios e os valores adquiridos ao longo da vida serão uma espécie de linhas condutoras na adversidade. Nada de mais falso. O homem, intrinsecamente, é um predador do seu próprio interesse egoísta. É um ser só. Em caso de perigo, é nele que pensa primeiro e em mais ninguém. Claro que há derivas emocionais. O instinto maternal, mas apesar de intuitivo não deixa de se dividir com a salvação extrínseca.
O homem, sozinho, luta, desbravando a terra até à exaustão, para matar a fome aos filhos. Rouba, vigariza, mata se preciso for para assegurar o bem-estar da sua prole. Mais tarde ou mais cedo esta virá a abandoná-lo sem qualquer delonga ou sentimento de protecção paternal e, tal como nasceu, acabará só.
Com a sua companheira ou companheiro a mesma coisa. É o espírito de sobrevivência e multiplicação da espécie que os une num contrato escrito ou verbal e, mais tarde ou mais cedo, nem que seja na hora da morte, ficará só para sempre… tal como veio ao mundo.
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