domingo, 10 de abril de 2011

EDITORIAL: VER MUITO PARA ALÉM DA NUVEM

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO. EMBORA JÁ PUBLICASSE VÁRIAS, ESTA, É A PRIMEIRA VEZ QUE A MOSTRO AQUI. ESTE TALENTOSO FOTÓGRAFO DESAPARECEU DO MUNDO DOS VIVOS HÁ CERCA DE TRÊS ANOS. DEIXOU-NOS A TODOS IMAGENS INTEMPORAIS. É APENAS UMA SINGELA HOMENAGEM) 




  Quem faz o favor de ler o que componho, certamente, já se apercebeu há muito que gosto de escrever. Mas ao fazê-lo, como se estivesse imbuído de uma ilusória responsabilidade –podemos até considerar isto mania, loucura, vaidade, ou simplesmente uma outra forma de dar nas vistas- tenho um cuidado muito grande no teor da minha comunicação. Não porque o meu universo de leitores seja muito grande –são umas escassas centenas. Mas até poderiam ser milhares, e, enquanto puder, continuarei a fazer o mesmo. 
Não é a primeira vez que o digo, para mim, quem redige tem uma dupla responsabilidade de ser sério naquilo que defende. Não é, nem precisa de ser, melhor do que qualquer um. Comete os mesmos erros, tropeça nas mesmas indecisões, que outro qualquer. No entanto, se usa um talento que lhe foi concedido pela natureza, ou por Deus –para quem acreditar-, deve-o fazer de uma forma proactiva, limpa, e, acima de tudo, tentar que, esclarecidamente, os seus leitores vejam as coisas de forma diferente. Isto é, se eu conseguir que quem leia este texto, no fim, diga para si mesmo: “engraçado, nunca tinha pensado nisto!”, tenho a certeza de que ganhei o propósito que encetei ao começar a primeira frase. Ou seja, gostando eu de escrever, e tomando este desejo como “missão”, ao fazer com que o leitor veja de um outro prisma, tenho a certeza, valeu a pena o tempo que demorei a plasmar esta crónica.
Hoje vivemos na era da informação. Já toda a gente sabe. Claro que é uma frase sem substância e em jeito de cliché. Apesar deste oceano de comunicação, as pessoas, bem no fundo, estarão mais esclarecidas? Tenho a certeza de que não. A maioria consome as notícias da mesma forma que se come um croquete. Ingere-se apenas para tapar um buraco de fome no estômago. Não se aprecia o seu sabor, porque não há tempo. E para nos deleitarmos com algo não pode ser a devorar. Precisamos de tempo, e, pelos vistos, a maioria de nós, usamo-lo mal. Ora já dá para ver onde quero chegar. Quero dizer que a todos nos preocupamos em saber o que se passa à nossa volta, mas não nos preocupamos em conhecer. Ora o saber é apenas olhar o horizonte e tomar a árvore pela floresta. Já o conhecer implica colocar-se a caminho, entrar dento do matagal, subir à árvore e ver como é que ela está no meio de outras. Numa frase: é preciso pensar. E hoje, neste mundo de informação em barda, desonerando-se de uma obrigação natural, estamos a deixar que outros o façam por nós. Os anúncios saem e, ou esperamos que alguém comente –normalmente sempre num único sentido, que é o de provocar consenso-, no caso os “opinion makers”, ou então, sem perder um minuto a reflectir, enveredamos todos pela auto-estrada da facilidade.
E depois deste longo prólogo, vou então directo ao que me levou a escrever. Nestes últimos dias aconteceram dois casos que me fazem ir então para detrás do espelho. Até poderia dizer atrás de um matagal, mas não vou por aí. Digo atrás do espelho, porque é a metáfora que uso, como se realmente conseguisse ver analiticamente quem se quer fazer reflectir no vidro.
O primeiro caso, foi há dias quando José Sócrates foi “apanhado” pelas câmaras da TVI a proclamar a célebre frase: “ó Luís, vê se fico melhor assim…para este lado, ou para aquele?!”.
Caiu o Carmo e a Trindade na aldeia dos inconscientes. Ninguém parou um pouco para pensar que o que se passou ali, naquela transmissão televisiva, é uma coisa vulgaríssima. Todos os chefes políticos recorrem à passagem de uma representação cénica no pequeno ecrã que não corresponde à realidade. Todos eles têm assessores para os ajudarem a melhorar e a “venderem” credibilidade. Toda a gente sabe que uma boa imagem de político na televisão convence o eleitorado. Estou a dizer alguma coisa de novo? Nada disso. Então por qual a razão deste escarcéu todo? Simplesmente porque Sócrates está demissionário. Mais ainda, quem incute esta falsa verdade, não são mais do que aqueles que aspiram vir a ocupar o lugar dele…e a fazer exactamente igual.
Podemos culpar a TVI por colocar aquelas imagens no ar? Tenho dúvidas, mas inclino-me que sim. Transmitir aquelas imagens é o mesmo que apanhar Maria Cavaco Silva, nua, dentro da sua própria casa-de-banho. Acho que, cada vez mais, a informação prestada pelos “media” é em pacote de hipermercado. Tem uma boa aparência de novidade, mas, o seu conteúdo, não presta. E isto é intencional, no sentido de desonerar o espectador de pensar. Está a faltar um código de ética à imprensa nacional. Se continuamos assim, não tardará muito, não haverá ninguém que queira ocupar um qualquer cargo político.
Outro caso, este ainda quente nas notícias, Fernando Nobre aceitou fazer parte das listas do PSD. Um escândalo na capoeira. “Vejam bem! Rendeu-se ao inimigo. Quer é tacho”, dirão outros. Ninguém se lembra que, quase todos os dias se escreve a pedir a alternância, novos rostos fora do sistema, e independentes para a política. Ninguém se lembra que este homem, que não conheço, pode ser um bom elemento para ajudar Portugal. Não senhor! O que todos vêem é que o homem quer um lugar político. Mas, vamos lá ver, se ele concorreu à Presidência da República é mais que certo que tem um projecto de mudança. Como não foi eleito, como castigo, as suas ideias devem morrer com ele. É assim? Então não queremos pessoas honestas, com bom passado, nas listas partidárias? Ou será porque ele aderiu ao PSD? Se aderisse ao Partido Socialista, ao Bloco de esquerda, aos Verdes ou ao Partido Comunista, já o poderia fazer?
Que diabo, meu povo, vamos lá a usar a cabeça. Sinceramente, fico até contente em vos alertar, mas ficaria muito mais se não se deixassem manipular por alguns que, ao apontar os erros dos outros, mais não querem do que o seu lugar.
A política é o único instrumento possível para se atingir o desenvolvimento perene. É através da negociação que se alcança a paz entre grupos conflituantes.

2 comentários:

Jorge Neves disse...

Amigo Luis como sabe fui Mandatário Concelhio de Fernando Nobre e fiz umas horitas de camapnha de rua com ele, ouvi e participei em conversas que não foram publicas e por isso não são para aqui chamadas.
Posso lhe garantir que muitas das frases e ataques que Nobre lançou foram contra as politicas de direita e contra o candidato apoiado pelo PSD.Uma das bandeiras de Nobre é que nunca se misturaria com esta gentinha actual da politica. Afinal não passou de um bom actor e já tenho serias duvidas se foi lançado para as Presidenciais pelo Mario Soares como se diz, ou se foi lançado pelo PSD para tirar votos aos partidos de esquerda.Tambem sou independente, mas não se pode confundir politica local com a nacional.Como tenho mania de pensar uns anitos à frente, quase que aposto que este convite do PSD a Nobre tem por finalidade dar-lhe traquejo politico para daqui a 4 anos ser o candidato do PSD às Presidenciais no lugar de Cavaco.
Mais resumidamente NOBRE fartou-se de tratar mal a direita e o PSD na ultima campanha Presidencial e acabou por lhes mostrar o rabo.
É natural que quem o apoiou e lhe deu o voto se senta traido.

Jorge Neves disse...

2 de Abril de 2011, via Facebook de Fernando Nobre:
«Quanto a dar um qualquer sentido de voto: nunca o farei.
Respeito-vos demais para cometer tal erro. O voto é só vosso.»

13 de Março de 2011 via Facebook de Fernando Nobre:

«Sei o que vou fazer em matéria de civismo e de cidadania activos, em suplemento à minha acção humanitária de décadas, e a esse respeito já tomei a devida providência institucional. Repito: em Maio, terminada como espero a apresentação e o pagamento das contas da minha Candidatura, tornarei pública a decisão que,repito, já tomei. Ela exclui em definitivo, como já deixei bem claro, a formação de um partido político assim como a aceitação de qualquer cargo de nomeação politico-partidária.

Até lá apoiarei todas as iniciativas cívicas desde que se enquadrem numa inequívoca independência partidária,..."