Passavam poucos minutos das nove quando o
telemóvel tocou. Era o senhor Olímpio Medina, o proprietário do mais
identificativo estabelecimento, com o mesmo nome, de instrumentos musicais da
Baixa. “Alô, Luís? Queria pedir-lhe um
favor. É o seguinte: ontem ligou para aqui um senhor de Miranda do Corvo a
dizer que leu no jornal O Despertar o que você escreveu e tem um órgão para
oferecer ao Luís Cortês mas que só o pode trazer para Coimbra quando vier cá.
Acontece que o Cortês anda desesperado, até já me quer comprar um órgão de
qualquer jeito –sei lá onde vai ele buscar o dinheiro? Precisa de trabalhar e
ganhar. Entende-se! Então liguei ao senhor de Miranda a propor-lhe ir
lá buscar o órgão mas ele, como não me conhece, pareceu receoso. Então pensei
que se você fosse comigo seria mais fácil. Íamos no meu carro. Pode ir comigo?”
E, como dois catraios em busca de uma solução
que pode ajudar a salvar um amigo, lá fomos
–interessante como, por algo que consideramos bom, largamos tudo sem olhar
a tempo e a despesas. É como se, passando o devido exagero, corrêssemos em
busca de um medicamento que pode salvar uma vida –foi isto mesmo que senti no
entusiasmo manifestado pelo senhor Olímpio.
Chegámos a Miranda do Corvo e ligámos ao
benfeitor que se tinha disponibilizado para oferecer o instrumento ao Luís Cortês.
Veio então o senhor Jorge Santos com um teclado Yamaha debaixo do braço. Pelas feições,
reconheci-o de Coimbra, já lá vão muitas décadas. Disse-nos que estava aposentado
por invalidez e que ao ler o apelo no jornal ficou muito sensibilizado. Por que
o podia fazer, tinha muito gosto em contribuir para um dia-a-dia melhor do
músico de rua, da Baixa de Coimbra. Mesmo contra a sua vontade -por não gostar
de publicidade, disse-, lá consegui tirar uma foto do momento. Expliquei porque
o fazia. Este seu gesto pode levar outras pessoas a fazer o mesmo para
situações análogas. Comportamento gera comportamento. Apenas por isso e nada
mais. Um agradecimento do tamanho do mundo para este benemérito, Jorge Santos,
e um grande abraço para o senhor Olímpio. Hoje, durante a tarde, o Cortês já
manifestava um sorriso de felicidade. Não é tão bom quando tudo acaba bem?
1 comentário:
É bom???
Isso é pouco!
É do melhor!!!
Abraço e parabéns pela iniciativa, coragem e "força nas canetas". Como bem saberá, erra força interior ajuda a ultrapassar as eventuais agruras que a vida nos vai dando.
Aquele abraço!
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