quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
ATÉ AO FIM DO MÊS, DALINE!
A Daline, um pronto-a-vestir com fabrico
próprio e demais conhecido na cidade, vai encerrar no fim deste mês, de Fevereiro. A funcionar há 21 anos no Largo do Poço, no rés-do-chão do edifício do
Jazz ao Centro e onde, durante décadas,
funcionou o mítico Salão Brazil, este enorme estabelecimento, que em 1994 veio
ocupar o antigo espaço da AGA, António Gomes António, vai mandar cinco
funcionários para o desemprego. Pela enorme área de venda, é um dos últimos ícones
como modelo de uma Baixa comercial desaparecida.
Segundo alguém que sabe do que fala mas que
prefere não se identificar, “em princípio,
pelo menos foi ventilado, será uma restruturação. Falou-se que a marca irá
funcionar num espaço mais pequeno para conter os custos. Repare que numa altura
em que não há negócio a renda são cerca de 1500,00 euros e ordenados para cinco
funcionários. É a crise! Vai tudo para o desemprego! A fábrica é em Leiria e,
como todas as unidades de produção, atravessa graves problemas. O culpado disto
é o Governo que, em vez de ajudar, prefere que vá tudo para o charco. Com juros
a 30 por cento para quem se atrasa no pagamento do IVA quem é que aguenta? É o
Estado que nós temos!”
A SAGA CONTINUA
Nesta última segunda-feira encerraram duas lojas. Uma
de roupas, na Rua das Padeiras, paredes-meias com a Peixaria Pinguim e outra de
perfumes na Rua Adelino Veiga. Segundo uma vizinha desta perfumaria, “já há uns tempos que se falava no seu fecho.
Já não tem artigos lá dentro para venda. Já viu isto? Onde vamos parar?”
Também no fim do mês, na Praça do
Comércio, vai encerrar uma loja de artigos decorativos a funcionar no antigo
espaço d’O Cordelinho.
FALECEU A SENHORA ALBERTINA
Quem passou este fim-de-semana na Praça 8 de
Maio estranhou o Quiosque Espirito Santo estar fechado. Um estabelecimento que
está diariamente aberto e só encerra nos dias de Natal e Páscoa, onde a Lena é sentinela, para acontecer
o contrário algo grave ocorreu. E foi mesmo! A mãe do Jorge, Albertina de Jesus
Martins, de 87 anos, pessoa muito estimada e que durante décadas trabalhou na
Rua do Corvo, deixou-nos.
Quem nos vai falar da falecida é o comerciante
Henrique Ramalhete que a conheceu bem. “A
senhora Albertina era empregada doméstica de Berta dos Santos Silva –pessoa muito
activa e ligada ao Movimento Nacional Feminino, organização de apoio à Guerra Colonial,
com o suporte do Estado Novo entre 1961 e 1974. Era esta senhora que, neste
período e na Baixa, recebia e distribuía os aerogramas provindos e destinados aos
militares no ex-Ultramar Português. Então, fosse pela filosofia da casa ou não,
a verdade é que a dona Albertina, mesmo sendo empregada, chamava os marçanos do
comércio, como eu a trabalhar na Rua do Corvo e originário de gente muito
humilde, e presenteava-os com um suculento lanche. Um gesto de bondade que
nunca esquecerei. Onde ela estiver, o meu agradecimento e que descanse em paz.”
Em nome da Baixa, para o Jorge Martins e
esposa Lena e para toda a família, uma mensagem de condolências e um grande
abraço nestes dias de tristeza.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
O CORTÊS JÁ TEM OUTRO "ORGON"
Depois de, há cerca de duas semanas, Jorge
Santos, um benemérito de Miranda do Corvo, ter oferecido um órgão ao músico de
rua Luís Cortês, na quarta-feira, da semana passada, um energúmeno deu-lhe a “palmada” na Praça 8 de Maio. Em
princípio, segundo testemunhas que o viram carregar o instrumento, o gatuno estará
identificado pela PSP. O problema, como se compreende, é a prova. E sem
aparecer o instrumento é complicado.
Por que no meio de bandalhos como o ladrão que
surripiou o ganha-pão do Luís há sempre gente boa que emerge e que nos dá
esperança num mundo melhor, hoje à tarde, uma senhora, acompanhada do neto,
entregou um órgão novo ao Cortês. Disse quem viu que, perante a surpresa, o
músico de pobreza reconhecida deu em chorar desalmadamente. Um gesto deste altruísmo
é bonito de mais! Salienta-se. Em nome de todas as pessoas de boa-vontade, muito
obrigada. Mesmo no desleixo do músico invisual, que ao não cuidar bem do que
lhe oferecem com tanto amor causa alguma irritação por parecer não dar valor ao
esforço dos outros, temos de ter uma compreensão maior e o que deve prevalecer
é o sentimento de generosidade. Uma boa lição que esta nobre benfeitora e o
neto deram. Bem-haja!
NÃO SOMOS A GRÉCIA MAS...
"Há cada vez mais famílias sem dinheiro para comprar comida e pagar as contas da água e da luz. O alerta é feito pelo Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, no dia em que a instituição faz 150 anos."
sábado, 21 de fevereiro de 2015
CARTA À PROCURADORA GERAL DA REPÚBLICA
Cara Joana Marques Vidal, Procuradora Geral da
República, espero que esta minha carta vá encontrar Vossa Excelência de boa
saúde na companhia de todos os seus e em paz com o fantasma do segredo de justiça, esse desterrado e desalmado
espectro invisível que se torna materializado num estalar de dedos, e que, apesar
da sua luta, teima em atentar o seu magistério.
Porque não nos conhecemos, apresento-me: Luís
Fernandes, um pacato cidadão já com algumas rugas e muitos cabelos brancos que,
sem ímpeto legalista ou de justiceiro, faz da escrita uma espada a desbravar o
denso manto da ignorância das coisas simples e banais. Uma espécie de vento
rasteiro a mostrar que depois da passagem dos grandes eventos anunciados fica
sempre uma sedimentação calcada e sem história, uma injustiça latente nos macerados
mas sem voz para se defenderem das atrocidades tantas vezes disfarçadas de
legitimidade.
Enquanto garante da promoção da defesa da
legalidade democrática, escrevo-lhe esta missiva por dois motivos: o primeiro,
para levar ao seu conhecimento o teor de um acontecimento. O segundo, para a
interrogar como pode esta (in)justiça continuar aos seus e nossos olhos?
Embora já tivesse escrito a
primeira parte desta história, ou nefasto acontecimento, no mais antigo
semanário de Coimbra O Despertar, naturalmente sem identificar as partes e sem entrar no caso concreto, principio por lhe
contar que se trata de um processo de violência doméstica. Tudo teria começado
numa cidade do litoral, há cerca de uma dúzia de anos, quando Maria, na altura
com 25 anos, funcionária pública e moçoila
bonita, depois de um casamento falhado, se enamora de um novo companheiro.
Desta nova ligação apaixonada nascem dois filhos, actualmente um com 12 e outro
com meia-dúzia de anos. Ao que parece, com o passar do tempo, a mulher foi-se
apercebendo de algumas escapadelas e facadas no matrimónio e pouca vontade de
contribuir para a despesa caseira e começou a reclamar. Alegadamente, a resposta
por parte do parceiro ao longo dos anos foi umas contundentes bofetadas
embrulhadas em vapores etílicos, de vez em quando. Fosse por vergonha ou medo, Maria foi calando
e nunca apresentou queixa nas instituições para o efeito. Até que, presumivelmente,
há cerca de um ano começou a pensar em, conjuntamente com os filhos, abandonar
aquela vida de sofrimento. A opressão física e mental aumentou e agora
acompanhada com chantagem de lhe serem retirados os rebentos. E Maria, na casa
e sua propriedade do anterior enlace, continuou a calar. Até que há cerca de
três meses mudou para outro quarto e passou a dormir com o rebento mais novo.
Estava aceso o rastilho de mais violência já por ela sobejamente conhecida.
Pouco depois do Natal, a meio de uma noite e presumivelmente tomado pelo álcool, o companheiro
irrompeu e à frente da criança de seis anos violou e obrigou-a manter relações
sexuais. E Maria foi apresentar participação na PSP local. O denunciado foi sinalizado
e contactado pela polícia. Em resposta aumentou a pressão sobre a sua
comparte, retirando-lhe os cartões de crédito e o telemóvel.
Entretanto, por esses dias, sob
ameaça de morte, submeteu a mulher, e os filhos, a entrar no automóvel e
obrigou-a a consultar uma vidente numa localidade com praia ali próximo. A
visionária, perante os dois, sentenciou o fim daquela união e o agressor, ficando fora de si,
ameaçou matá-la juntamente com os filhos. Em desespero de causa, a sequestrada,
por telefone, conseguiu contar à mãe e descrever-lhe o cenário de horror e
violência que, juntamente com os seus rebentos, estava a decorrer. A progenitora
contactou a PSP e foi montada uma operação de resgate. Aberto o processo de inquérito,
foi aconselhada a sair imediatamente com os filhos da habitação familiar –recorda-se
que o locado está em seu nome. O tirano, como se nada se passasse, manteve-se onde
sempre esteve e a vítima foi viver para casa de uma amiga. Durante duas semanas
esta prole desfeita e em frangalhos viveu um calvário sem precedentes,
sobretudo pela impunidade e liberdade de movimentos do déspota que, apesar da
medida de coação imposta de não poder aproximar-se da ex-companheira, para
além de tentar resgatar os filhos na escola, continuou a intervalar com a
mulher juras de amor e intimações de morte.
PARTIDA PARA LOCAL DESCONHECIDO MAS NEM TANTO
Depois de duas semanas em casa de amigos, sem
meios necessários ao bem-estar, como roupas para os miúdos e largando o seu trabalho, no
âmbito da APAV, Associação de Apoio à Vítima, foi remetida para local
totalmente desconhecido até para a sua própria mãe –que se imagina como estaria
nessa altura a viver a odisseia de terror da sua única filha. Depois de uma semana
numa localidade de articulação, a ofendida, acompanhada dos seus dois filhos,
foi transferida para uma casa comunitária de apoio à vítima numa cidade a cerca
de 250 quilómetros, a sul.
Há mais ou menos duas semanas, numa noite
aparentemente igual a outras onde o silêncio e a angústia imperavam e só quebrados no ranger
das tábuas centenárias, por volta das quatro da manhã, foi acordada pelo
barulho e gritos da responsável pela casa. A tocar à campainha do edifício
estava o miúdo de 12 anos acompanhado com o pai e este com mais duas pessoas. O
que teria acontecido? Maria, presumivelmente, a tomar soporíferos para dormir e
tentar aguentar tanta sorte indigesta de mau fado, não deu conta da saída do
seu filho mais velho a meio da noite. Apesar de não ter telemóvel o adolescente
ausentou-se e, através de uma cabina pública, telefonou ao pai e deu-lhe conta
da localização. Ou seja, a mulher estava à mercê do agressor. Não aconteceu uma
tragédia porque, é de antever, não era a intenção do algoz desencadeá-la por
hora. Está de ver que, levando duas testemunhas consigo, perante as frágeis
provas de agressão física, pretendia provar a negligência grosseira maternal da ainda esposa.
Pergunta-se: estando o ofensor proibido de se
aproximar da vítima, não seria suposto ter uma pulseira electrónica e
controlado à distância? Interroga-se ainda, havendo filhos não será normal
acontecer um desfecho assim, de contacto entre as crianças e o progenitor? Para os serviços habituados a lidar com situações
análogas, não deveria ser evidente e assegurar o princípio da precaução? Que segurança é transmitida a quem é obrigada a abalar de trouxa às
costas do seu habitat e com os filhos a tiracolo? Ainda outra
interrogação: ao fazer deslocar a vítima e mantendo o agressor no seu meio,
como nada se passasse, não estaremos perante uma escandalosa beneficiação do
infractor? Estão erradas ou não as regras judiciais? Se estão certas, parece-me, alguém
foi negligente e não cumpriu com o que estava obrigado. Refiro, obviamente, a investigação e o juiz de instrução, este, que é o
garante dos direitos, liberdades e garantias de todos os sujeitos processuais,
sejam arguidos, assistentes ou ofendidos.
Mas ainda não acabou o calvário
desta sentenciada e a penar antes do julgamento, senhora Procuradora Geral da
República. Há uma semana, em face do desgaste psíquico que
tudo isto deve estar a causar e se adivinha no adolescente, o rapaz “passou-se”. Depois de agredir
verbalmente a mãe, empurrando a psicóloga e a assistente social e destruindo os
objectos à sua mão, em descompensação, acabou internado, em psiquiatria, num hospital de Lisboa.
Sem qualquer estratégia e harmonização de cuidados de segurança dos serviços envolvidos na salvaguarda
da integridade física de Maria, esta deu de chofre com o seu ex-companheiro na
mesma sala do hospital.
Para finalizar, senhora Procuradora Geral da
República, interrogo: estes procedimentos, tendo em conta que há vidas humanas
em jogo, não são uma espécie de roleta russa, pois não? É que se forem -e esperamos que não e este caso fosse pontual-, não é
de admirar que, segundo a UMAR, União
Mulheres Alternativa e Resposta, tenham ocorrido mais de quatro centenas de
mortes na última década!
UMA CARTA PARA SE LER

"SE NÓS NÃO SOMOS A GRÉCIA É PORQUE SOMOS PARVOS"
"O “nós não somos a Grécia”, repetido por esta maioria como um mantra, é das frases politicamente mais estúpidas que me foi dado ouvir. É claro que nós somos a Grécia a partir do momento em que quisemos ser europeus e porque a Grécia é a Europa: foi a Grécia que fundou a civilização europeia ao abrigo de cujos valores queremos continuar a viver. (...) CONTINUE A LER AQUI.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
LEIA O DESPERTAR...

LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "REFLEXÃO: UM DIA DE NAMORADOS", deixo também as crónicas "UMA PALMADA DE LESTE COM CLASSE"; "O CORTÊS JÁ TEM UM "ORGON"; "FURTARAM O "ORGON" AO CORTÊS; "ABRIU O CAFÉ DA LOJA; e "FALECEU OSVALDO FERNANDES"

REFLEXÃO: UM DIA DE NAMORADOS
O dia 14 de Fevereiro é considerado o Dia dos
Namorados. Quem for casado ou conviva em união de facto, pelo menos nesta data,
ofereça uma rosa ao seu amor. Se puder, leve-a a jantar fora ou, no mínimo, ao
cinema –e por que não “As 50 sombras de
Grey”? Ainda não vi este filme que estreou recentemente. Sobretudo nos
casamentos longos, temos tendência, todos, homem ou mulher, a esquecer as
gentilezas, os pormenores, que transformam uma relação diferente a dois.
Acomodamo-nos. Achamos que a/o comparte está conquistado e já não é necessário
fazer nada para o manter. Erro crasso para tantos de nós! O amor é como um
jardim, se não for continuamente regado, fenece e morre.
Para quem não tem namorada, ou companheira,
por ser viúvo, divorciado, solteiro, sozinho, pode ser um dia muito triste e a
defesa para muitos, creio, é o álcool. Para estes solitários é um dia de
enterrar a cabeça no travesseiro, no etílico, nas sobras de um passado,
empoeirado e cheio de sombras, que não volta, para esquecer um tempo que teima
em vir ao de cimo e sobrepor-se a todas as recordações. Para estes muita
coragem e ganhem esperança de que há sempre alguém à espera. Não se escondam
atrás do reposteiro ou dos efeitos alucinogénios para aguentar o mundo que
parece ter aterrado em cima dos seus ombros. Vão à luta. Para muitos destes,
sobretudo pessoas com alguma idade, o facto de serem info-excluídos, não
saberem lidar com computadores, pode ser uma enorme barreira. Apesar de haver
muitas instituições de apoio à terceira idade, penso, ainda não se dá o devido
valor a este facto e o quanto a sua ignorância pode contribuir para a solidão e
infelicidade de tantos.
Há pouco tempo um meu amigo, já com alguma
idade, pedindo-me ajuda, alertou-me para duas premissas que contribuíam
enormemente para a sua angústia e isolamento e que eu nunca tinha pensado. A
primeira é a precisão de saber comunicar na Internet e a segunda é a
necessidade de saber dançar. O meu amigo, de cerca de sete décadas mas com aspeto
de ter menos idade, mostrou-me a sua impotência para arranjar uma companheira
para os dias que teimam em ser curtos e noites que, por não conseguir dormir,
são demasiadamente compridas.
Nem nos passa pela cabeça os dramas que
acontecem entreparedes de silêncio e retiro na terceira idade. São tragédias
que, por sermos mais novos e ainda nos mexermos bem, nos passam ao lado. Há uma
imensidão invisível à espera de um simples sorriso de alguém. No Dia de
Namorados, que já foi, pensemos nisto.
UMA PALMADA DE LESTE COM CLASSE
Na quarta-feira da semana passada, logo ao
abrir dos estabelecimentos, visitaram algumas ourivesarias e uma loja de
velharias e antiguidades. Eram dois homens e uma mulher com idades entre os
cinquenta e os sessenta anos. Bem vestidos, com fatos de bom corte, e a
arranhar o português de modo a conseguirem ser entendidos, pareciam turistas em
trânsito. Só com muita sorte, pela pronúncia, se poderia adivinhar que eram
bandidos.
Passava pouco das 10h00 quando entraram na ourivesaria
Ágata. Enquanto um homem entretinha António Cruz, para lhe mostrar uma salva de
prata, a mulher dava a “palmada” a
uma pulseira e um colar, ambos de ouro maciço e no valor arredondado de 2000
euros. A vigarista saiu com o acompanhante e o segundo homem, “entretainer”, continuou a falar com o
proprietário do nobre estabelecimento. Certamente quando o casal já se tinha
afastado o suficiente para não ser apanhado, o segundo burlão, com cortesia e
elegância, despediu-se do lojista com a recomendação de que voltaria mais
tarde. Andavam a ver peças para um amigo. Foi então que o reputado comerciante
da Baixa se apercebeu do furto. Ainda correu as ruas em redor mas dos ladrões
nem sombras.
António Cruz tinha um ar
combalido, como se, de repente, lhe acrescentassem mais uma vintena de anos. “Bolas! Estou a vender cerca de 10 por cento
do que comercializava há uns anos atrás e, sem que se conte, uma pessoa leva
uma “chapelada” destas!”, enfatiza. Sinto-me
agredido, com um mal-estar impossível de descrever”.
As lojas, na maioria, detém apenas uma pessoa.
Por isto mesmo escrevo esta crónica. É preciso muita atenção aos grupos e à sua
apresentação. Qualquer um de nós está preparado para suspeitar do malvestido e
deixar à vontade o bem aprumado. Como tantas vezes tenho escrito, a vida de um
comerciante de rua é cada vez mais uma espécie de roleta russa. Nunca se sabe
quando, por motivos vários, pode tombar.
O CORTÊS JÁ TEM UM “ORGON”
Passavam poucos minutos das nove quando o
telemóvel tocou. Era o senhor Olímpio Medina, o proprietário do mais
identificativo estabelecimento, com o mesmo nome, de instrumentos musicais da
Baixa. “Alô, Luís? Queria pedir-lhe um favor.
É o seguinte: ontem ligou para aqui um senhor de Miranda do Corvo a dizer que
leu no jornal O Despertar o que você escreveu e tem um órgão para oferecer ao
Luís Cortês mas que só o pode trazer para Coimbra quando vier cá. Acontece que
o Cortês anda desesperado, até já me quer comprar um órgão de qualquer jeito
–sei lá onde vai ele buscar o dinheiro? Precisa de trabalhar e ganhar.
Entende-se! Então liguei ao senhor de Miranda a propor-lhe ir lá buscar o
instrumento mas ele, como não me conhece, pareceu receoso. Então pensei que se
você fosse comigo seria mais fácil. Íamos no meu carro. Pode ir comigo?”
E, como dois catraios em busca de uma solução
que pode ajudar a salvar um amigo, lá fomos
–interessante como, por algo que consideramos bom, largamos tudo sem olhar a tempo
e a despesas. É como se, passando o devido exagero, corrêssemos em busca de um
medicamento que pode salvar uma vida –foi isto mesmo que senti no
entusiasmo manifestado pelo senhor Olímpio.
Chegámos a Miranda do Corvo e ligámos ao benfeitor
que se tinha disponibilizado para oferecer o instrumento ao Luís Cortês. Veio
então o senhor Jorge Santos com um teclado Yamaha
debaixo do braço. Pelas feições, reconheci-o de Coimbra, já lá vão muitas
décadas. Disse-nos que estava aposentado por invalidez e que ao ler o apelo no
jornal ficou muito sensibilizado. Por que o podia fazer, tinha muito gosto em
contribuir para um dia-a-dia melhor do músico de rua, da Baixa de Coimbra.
Mesmo contra a sua vontade -por não gostar de publicidade, disse-, lá consegui
tirar uma foto do momento. Expliquei porque o fazia. Este seu gesto pode levar
outras pessoas a fazer o mesmo para situações análogas. Comportamento gera
comportamento. Apenas por isso e nada mais. Um agradecimento do tamanho do
mundo para este benemérito, Jorge Santos, e um grande abraço para o senhor
Olímpio. Neste dia, durante a tarde, o Cortês já manifestava um sorriso de
felicidade. Não é tão bom quando tudo acaba bem?
FURTARAM O “ORGON” DO CORTÊS
Hoje, quarta-feira, durante a tarde, alegadamente,
um indivíduo pegou no órgão do Cortês, o músico de rua que costuma estar em
frente à Igreja de Santa Cruz, colocou-o debaixo do braço e abalou em direcção
à Praça do Comércio. De salientar que este instrumento musical foi oferecido há
cerca de uma semana por um benemérito de Miranda do Corvo, de nome Jorge
Santos.
Segundo pessoas presentes na Praça 8 de Maio,
indignados com a acção do energúmeno que teria surripiado o “orgon” ao Cortês, não deixaram de contar
que o instrumentista é muito desleixado e não cuida dos bens à sua guarda. “Muitas
vezes deixa o seu ganha-pão abandonado ao sol e à chuva sem levar em conta a
importância para a sua sobrevivência. Depois acontece isto!”, referiram.
Foi apresentada participação do furto na PSP.
Se o leitor tiver alguma informação que possa ajudar, por favor, informe a
polícia.
FALECEU OSVALDO FERNANDES
No último fim-de-semana, Osvaldo Augusto
Fernandes, de 83 anos, partiu do nosso meio. O seu funeral, com missa de corpo
presente no Centro Funerário Nossa Senhora de Lurdes, realizou-se nesta
segunda-feira. Pessoa muito conhecida na Baixa, nasceu no Beco das Canivetas,
morou na Rua das Rãs e, durante muitos anos, até final da década de 1980, foi
fabricante de malas com oficina na Rua Corpo de Deus onde veio a residir até há
cerca de sete anos quando se transferiu para o Lar Graça de São Filipe, em
Bencanta, São Martinho do Bispo. Sei que foi muito bem cuidado nesta casa e,
até ao último minuto de vida, muito bem acompanhado pela sua filha Isabel
Fernandes a quem, naturalmente, deixa um oceano de saudade.
O Senhor Osvaldo era irmão de João Fernandes,
ex-delegado da Fundação Inatel, a quem, do meu cantinho, endereço um grande
abraço de solidariedade nesta hora de angústia e sofrimento.
À Isabel Fernandes, aos filhos desta e netos
do desaparecido, ao meu amigo João Fernandes, em nome da Baixa, que vê partir
mais um dos seus obreiros, um enorme carinho de solidariedade e os sentidos
pêsames.
LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..." leia o texto "UMA MULHER PRECIOSA" e na rubrica "OLHAR PARA SUL..." "CARTA AO CHEFE DE ESTADO"
UMA MULHER PRECIOSA
Recuando no tempo, para a década de 1960,
parece-me estar a vê-la, a caminhar na rua principal de Barrô. Passo seguro,
ondulante e libidinoso, envolta numa timidez que lhe conferia uma aura de
mistério e graça inexplicável. Aquele rosto bem modelado de mulher trintona, de
olhos expressivos, e emoldurado, sempre, de cabelo curto bem arranjado em “permanente”. Com corpo de boneca parecia
um manequim. Tinha uma sensualidade imanente. Era como se tivesse um espírito
de luz que, sobressaindo das suas entranhas, lhe concedia um fino e cortês sublinhado
pela natureza.
Era a Preciosa, como todos a tratavam na
altura. Nenhum suplemento titular fazia acompanhar o nome principal. Estranho
isto acontecer numa aldeia. Nesta época todas as pessoas tinham um apêndice em
função do estatuto social que ocupavam no lugarejo. Se era solteira, fosse nova
ou idosa, seria sempre “menina”. Se
fosse casada, e de importância redobrada no lugar, seria sempre a “senhora”. Cada estado civil funcionava
como título de cortesia e respeito, logo seguido do nome principal. Se não
tinha grande importância social seria sempre acompanhada de uma alcunha. Era
assim que se conhecia a “cascoa”, a “velhaca”, a “tasqueira” e tantas outras pessoas modestas.
Acontece que esta musa, que
aqui vou contar a sua história, era somente tratada pelo nome de Preciosa. Que
segredo envolveria esta beleza? Foi graças a esta diva que eu, juntamente com
outras crianças pobres do concelho da Mealhada, durante vários anos, tive a
possibilidade de usufruir de 15 dias de praia e de, pela primeira vez, ver o
mar. Hoje em dia, em que, pela facilidade de acesso e meios de locomoção, as
distâncias encurtaram, parece quase impossível uma criança de cinco anos nunca
ter ido ver o oceano. Mas, nessa altura, em que a pobreza falava mais alto que
qualquer vontade, poucos infantes se poderiam dar a esse luxo. Foi tão
importante, para mim, essa viagem até à Figueira da Foz que, passado meio
século, ainda guardo na memória cada bocadinho do caminho. Lembro de o percurso
ter sido feito em transporte numa camioneta de caixa-aberta. Cerca de uma
vintena de miúdos, numa grande algazarra, ao som de “o mar enrola na areia”, trauteado por todos, chegámos então à praia da claridade. Recordo, então, ter
chegado àquela casa antiga em Buarcos, perto do Largo Beira-mar. Percorrendo o
tempo ao contrário, revejo-me, à hora do lanche, sentado na areia fina, com o
mar azul em fundo, numa grande roda, conjuntamente com duas a três dezenas de
crianças. No centro, acompanhadas de duas enormes cafeteiras de esmalte cheias
de café com leite a fumegar e prontas a despejar nas canecas já na posse de
cada um de nós, estão três ou quatro mulheres –uma delas é a Preciosa. Num
cesto de verga, ao lado, estão cerca de trinta sandes de queijo de barra e
cortadas às fatias de grandes pães de centeio. O leite é em pó e de sabor
indescritivelmente bom e adocicado.
QUEM ERA?
Mas quem era a Preciosa? E qual a razão de os
habitantes da povoação a chamarem simplesmente pelo nome próprio, num misto de
ostracismo e respeito?
A Preciosa Pereira Morais
nasceu em 1924, em Barrô, entre as cercanias de barro cinzento que viria a dar
o nome ao pequeno burgo. Era herdeira de gente muito humilde e muito cedo, pela
necessidade, começou a servir nas
casas de lavradores mais abastados. Fazia um pouco de tudo. Ora sachava milho,
ora arrancava batatas, ou fazia limpeza e cozinhava para os patrões. Como era
muito bonita, depressa começou a ser cortejada pelos moços contratados pelos
grandes agricultores. Apaixonou-se perdidamente por um que lhe viria a fazer
dois filhos. Mas quisera o destino que este rapaz que lhe coubera em sorte não
correspondesse e preenchesse os anseios desta rapariga sonhadora. E num tempo
em que todas as mulheres que parissem tinham de casar, esta catraia preferiu
manter-se solteira e sozinha com dois rebentos a seu cargo. Um escândalo para a
época. Mas ela era forte e nunca se importou com o “diz-que-disse” e o “cortar na
casaca”.
Com o tempo, devido ao esforço dobrado
da terra, impróprio para o corpo feminino, começou a sofrer da coluna e a ter
muitas dores nos ossos. Um dia, já quase com quarenta anos, em que se sentiu
pior, foi ao hospital da Mealhada a uma consulta. Foi atendida pelo doutor
Artur Navega, então por esta altura de 1960, Subdelegado de Saúde do distrito
de Aveiro. Este médico gozava de uma grande reputação no concelho por ser muito
generoso para com os pobres.
Quando Preciosa o viu pela
primeira vez no hospital foi amor à primeira vista. Mas havia um grande problema:
o clínico era casado. Mas amor não escolhe estados, é um sentimento indomável
que a racionalidade não explica. Estava dado o primeiro passo para a grande
paixão da vida desta habitante da aldeia entre a Mealhada e o Luso. Ali começou
uma relação que só a terra há de comer e o tempo fará esquecer.
Como a Preciosa precisava
de praia para curar as suas dores mas não tinha possibilidades financeiras,
naquele velho hospital, e nas sucessivas consultas, nasceu a ideia de, a
expensas do seguidor de Esculápio, ela ir para banhos juntamente com as
crianças pobres do concelho.
A partir dali, na aldeia e
nas terras em seu redor, Preciosa passou a ser a ponte entre a pobreza e o
poder decisório, marcado pelo velho médico apelidado de “pai dos pobres”. As necessidades multiplicavam-se para quem nada
tinha. Umas vezes, era o adolescente que precisava de ir trabalhar para a
hotelaria mas não tinha o “Cartão de
Sanidade”, essencial para exercer na labuta. Outras vezes, era a criança
que precisava de cuidados médicos mas os progenitores não tinham dinheiro. A
todas essas aflições esta mulher dava conta ao clínico que, para além de
satisfazer os seus anseios, consultava gratuitamente e ainda oferecia os
medicamentos.
A casa de Preciosa, em Barrô, naquela
época, era o porto de abrigo dos necessitados. Um dia, uma mulher do lugar foi
bater-lhe à porta muito preocupada. A filha, pouco mais que adolescente, andava
a engordar muito. Para além disso, tinha dado em vomitar. Será que a
Preciosa não poderia falar com o senhor doutor, lá na Mealhada, para ver se
este lhe receitaria alguma coisa para o enjoo? Claro que a mulher de boa vontade,
mesmo sem ser médica, diagnosticou imediatamente a doença, mas não disse nada
para não criar preocupações. E lá foram as três mulheres para o hospital.
Quando a velha mãe foi posta perante a evidência de uma gravidez, ia-lhe dando
o “fanico” mas emendou logo: “Ó senhor Doutor, eu juro que a minha filha
nunca teve nada com ninguém! Isto só pode ser desígnio divino. Acredite senhor
Doutor!”. Respondeu o velho e experiente médico, “não há problema, senhora, eu acredito, é um milagre da vida. Case a sua
filha com urgência e tudo se resolve!”.
O Doutor Artur Navega nunca dizia não a
ninguém. Era uma pessoa boa e com uma sensibilidade à flor da pele. O segundo
amor do clínico ia com ele para todo o lado, ao Porto, a Lisboa. Como ele
gostava muito de pescar, levava-a sempre com ele para a Figueira. Gostava de a
ensinar a lançar o fio no mar. Preciosa sempre o tratou por “senhor Doutor”. Ele pedira-lhe, numa
bela altura, que jamais o tratasse por tu.
Um dia, estava na aldeia, em
Barrô, e teve uma visita surpresa. Era alguém mandado pela Dona Aurora, esposa
do velho médico, com uma mensagem: o
senhor doutor Artur Navega estava a morrer no hospital. Quereria ela ir
despedir-se dele nos últimos momentos de vida? Preciosa não foi. Mas
naquele gesto sublime de carácter, de uma esposa atraiçoada, entendeu a imensa
generosidade daquele ato impossível de descrever. Foi uma grande lição que
recebeu com sofrimento. Nunca mais se esqueceu. Mas a consciência não a acusa
de nada. Coração apaixonado não escolhe o seu amor.
A Preciosa Pereira Morais, de 92 anos, foi
sepultada a semana passada no Cemitério de Luso. Deixo este texto elogioso em
memória de uma mulher simples que tanto bem fez a muitos e, sobretudo, marcou a
minha infância. Uma grande salva de palmas!

CARTA AO CHEFE DE ESTADO
Meu caro presidente da República, Aníbal
Cavaco Silva, estendo votos para que Vossa Excelência, ao receber estas minhas
palavras, se encontre bem na companhia de todos os seus. Pelo respeito
institucional que me merece, e porque não nos conhecemos, começo por me
apresentar: Luís Fernandes, comerciante, 58 anos de idade, a trabalhar desde os
10, nascido e criado em Portugal e, por isso mesmo, cidadão de pleno direito.
Escrevo-lhe esta carta para que me informe das
razões que o levaram a condecorar a semana passada 15 ex-autarcas com o grau de
comendador da ordem de mérito. Antes de prosseguir vou lembrar o espírito que
subjaz esta distinção: “A Ordem de Mérito
é uma ordem honorífica Portuguesa que visa distinguir atos ou serviços
meritórios que relevem desinteresse ou abnegação em favor da coletividade, no
exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas.”
Estou em crer que não me vai levar a mal por
lhe colocar várias questões: a primeira, depois de ler em cima os princípios que devem
nortear a atribuição, nomeadamente “que
relevem desinteresse ou abnegação em favor da coletividade”, pergunto-lhe:
algum destes ex-autarcas, que exerceram até três mandatos à frente das suas câmaras,
reuniu esse transcendente sentido do dever? Isto é, para além da sua obrigação
enquanto eleitos que se candidataram ao lugar público realizaram factos de
notoriedade que os tornaram merecedores de serem diferenciados dos restantes
293 –muitos destes ainda com um currículo curto? Será que distinguindo esta
minoria, de dezena e meia, não está a discriminar a maioria? Porquê estes e não
outros? A segunda, como afirmou Vossa Excelência na cerimónia, se com esta ação
de relevo pretendia homenagear o poder autárquico e dar conhecimento público,
por que não atribuiu esta ou outra condecoração à Associação Nacional de
Municípios Portugueses? Tenho a certeza que a circunstância da presidência
deste organismo estar sob orientação Socialista não contribuiu para essa não
decisão, não é verdade?
Perante tantas dúvidas levantadas, pode
interrogar: afinal o que pretendo? Vou então explicar melhor. Como ressalva, no
universo de ex-presidentes camarários contemplados apenas conheço um: Carlos
Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, eleito em 2001 e nos
dois mandatos subsequentes. Veio a renunciar a favor do seu vice em Dezembro de
2010. Dentro da minha subjetividade e do meu direito a opinar, Carlos Encarnação,
enquanto edil, não fez absolutamente nada para merecer o privilégio consignado.
Estou à vontade para o afirmar, votei no seu projeto no primeiro mandato e
acompanhei todo o seu percurso político. Por mim escrevo, foi uma completa
desilusão. Foi mais do mesmo, senão pior que o antecedente –que agora, para meu castigo, tenho de gramar
outra vez, mas isso não é chamado para aqui. Salvo melhor opinião, ao
atribuir-lhe o grau de Comendador da Ordem de Mérito, com esta ligeireza, está
a concorrer para a vulgarização de um efeito oficial que deveria constituir a
exceção. Já que os honorificados não têm a superior ordem moral de recusar, porque
teima Vossa Excelência em usar as comendas a esmo e sem critério?
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
A ÚLTIMA TREMOCEIRA PROCURA UM NOVO BANCO
À hora do almoço, a dona Adelaide, a última
tremoceira como lhe chamei, tendo por fundo os manifestantes a exigirem o seu
dinheiro anteriormente depositado no BES –que Deus tem em má guarda pelo Novo Banco- sentada num assento de pedra,
pelos traços do rosto e ainda que silenciosamente, manifestava algum
descontentamento com o seu velho banco. “Fosca-se!
No próximo dia 12 de Março comemoro 91 anos. Apesar do meu falecido marido ter
sido sacristão, nunca tive informações privilegiadas divinas e, apesar de ter
trabalhado toda a vida, continuo pobre. Coloquei todas as minhas acções neste
merdoso tamborete de pedra e nunca cresceram. Investi aqui todo o meu
dinheirinho e estou cada vez mais lisa! Seria contágio? Porra! Já há muito
tempo que deveria ter mudado de banco! Agora, se calhar, já não vale a pena! Se
ao menos me fizessem uma festa de aniversário no próximo dia 12, ainda vá que
não vá! Caso contrário, sou obrigada a mandar umas “caralhadas” que abana tudo!
Homessa! Isto irrita! Carago!”
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...
JPG deixou um novo comentário na sua mensagem "FURTARAM O "ORGON" AO CORTÊS":
Não sou conhecedor detentor da forma como o Luís Cortês "estima" o seu "ganha pão", mas acredito que o possa fazer de forma mais cuidada.
No entanto, não nos podemos esquecer que além de invisual, não tem um braço, pelo que tudo se torna mais difícil para ele e mais execrável para quem ostensivamente lhe roubou o órgão.
Escrevi "roubou" e não "furtou", pois considero que subtrair um bem (que lhe foi oferecido) utilizado para, de forma honrada, conseguir mais um dinheirinho para ajudar nas despesas domésticas, a uma pessoa invisual e deficiente motor, é uma violência por si mesmo!
Caro Luís, irei tentar junto de uns "contactos" da noite da Baixa, saber quem fez tal desumanidade.
Abraço!
"QUEREMOS O NOSSO DINHEIRO"
“Ladrões! Gatunos! Queremos o nosso dinheiro!”,
os gritos amplificados por um megafone, de cerca de uma vintena de clientes
alegadamente prejudicados, ecoavam hoje, por volta das 11h30, nas instalações
do antigo BES e agora Novo Banco, na rua Visconde da Luz, em Coimbra. Dentro do hall de entrada alguns manifestantes
ostentavam cartazes e slogans de
indignação. Cá fora, muitos jornalistas e, à vista desarmada, muitos agentes da
PSP pareciam de prevenção e a contarem com o pior.
Olhando rapidamente sobre o cenário
que se passava em frente aos nossos olhos, dá para ver que alguma coisa não
bate certo. Dá para entender que as falências do BPP e do BPN não serviram para
nada. Dá para perceber que não foram assegurados os direitos legítimos dos
pequenos depositantes e, como o mexilhão ao bater na pedra, foram lixados. Pelo
que se leu na imprensa, os grandes aforradores, avisados e com informações
privilegiadas, puderam, nas vésperas, levantarem milhões. É uma vergonha para o
país a forma como são tratadas estas pessoas.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
O "INGINHEIRO" VENDEDOR DE CASTANHAS
Tem um ar magrote,
esquálido, como quem se alimenta mal. A calça rota nas duas pernas e junto
aos joelhos apresenta um ar cansado como objecto que já correu muito nesta
vida. As suas mãos, com dedos compridos, são calejadas, mais que certo robustecidas
pelas arestas de muitos tijolos que lhe tocaram em beijos de ganha-pão, parecem de
operário pendurado num ilusório cabido e à espera de uma oportunidade. Senhoras
e senhores, apresento-vos o “inginheiro”
Paulo Dias. Aviso já que não tem canudo passado por qual faculdade, mas tem uma
formação obrigatória para vender castanhas na Praça 8 de Maio. Façam o favor de
não rir porque o caso é sério e o “inginheiro”
pode sentir-se incomodado. Vou ligar o gravador e transcrever a história do “inginheiro” Paulo:
“Até há quatro anos trabalhei na construção civil. O trabalho começou a
rarear e passei a fazer parte do universo de desempregados. Recebi subsídio de
desemprego até há dois anos. A seguir foi-me atribuído o rendimento mínimo.
Como não chegava para pagar a renda de casa, que é de 200,00 euros, tive de fazer
pequenos biscates para ver se me aguentava com a minha companheira, a Sónia
Margarida –que você conhece bem desde criança. Em Maio do ano passado foi-me cortado o RSI,
Rendimento Social de Inserção, e a renda de casa começou a não acompanhar as
minhas necessidades. Fui às Finanças colectar-me para vender bolas de Berlim na
praia da Figueira da Foz. Fiz o mesmo para a minha Sónia, para poder vender
bolos de Ançã junto à Loja do Cidadão. Mas a renda da casa, por falta de pagamento,
teimava em crescer e a ameaçar o nosso bem-estar. Pedi uns dinheirinhos e
comprei um carrinho de assar castanhas por 400,00 euros. Fui novamente às Finanças
fazer um acrescento na colecta, agora como vendedor de castanhas. A seguir, fui
à Câmara Municipal para tratar da licença. Era preciso um termo de
responsabilidade e uma formação. Paguei 50,00 euros para o processo dar
entrada. Fui então tratar da formação profissional para ser “inginheiro” e
poder vender castanhas na Praça 8 de Maio. Encaminhei-me para a Palheira, uma
localidade nos arrabaldes da cidade, para um técnico da especialidade. A troco
de mais 25,00 euros para a formação e mais 50,00 euros pelo termo de
responsabilidade, e após umas escassas horas, passei a licenciado. Por ser
obrigatório, adquiri um extintor por 31,00 euros, que tenho de manter no carro.
Fui à autarquia e paguei mais 30,00 euros por ocupação de espaço público até
Abril e mais 6,50 euros por mês.
Ser “inginheiro” custa muito! Nunca tinha imaginado quanto! Sabe o que
lamento? É a falta de sensibilidade de tantas pessoas –incluindo pessoal da
fiscalização que, volta e meia, vão ter com a minha Sónia, junto à Loja do
Cidadão, e a fazem arrumar tudo por falta de licença de ocupação. Ninguém pensa
no esforço que faço para aguentar e estar aqui. Ninguém se preocupa se ganho o
suficiente para pagar as licenças. É um absurdo! Não consigo arranjar dinheiro
para tanta obrigação. Parece que querem obrigar-me a ir roubar. Repare, estou a
pagar o quilo de castanhas a 4,00 euros. Num saco de vinte quilos, muitas delas
vêm podres, vão à vida cerca de 15,00 euros. Diga-me? O que resta? Quase não dá
para comer uma sopa! Acho que a edilidade deveria ter outro tratamento para os
vendedores como eu, que sou pobre e mal tenho sítio para cair morto. É só mesmo
para nos comer dinheiro! É muito triste, sabe?”
FURTARAM O "ORGON" AO CORTÊS
Hoje, quarta-feira, durante a tarde, alegadamente,
um indivíduo pegou no órgão do Cortês, o músico de rua que costuma estar em
frente à Igreja de Santa Cruz, colocou-o debaixo do braço e abalou em direcção
à Praça do Comércio. De salientar que este instrumento musical foi oferecido há
cerca de uma semana por um benemérito de Miranda do Corvo, de nome Jorge
Santos.
Segundo pessoas presentes na Praça 8 de Maio,
indignados com a acção do energúmeno que teria surripiado o “orgon” ao Cortês, não deixaram de contar
que o instrumentista é muito desleixado e não cuida dos bens à sua guarda. “Muitas
vezes deixa o seu ganha-pão abandonado ao sol e à chuva sem levar em conta a
importância para a sua sobrevivência. Depois acontece isto!”, referiram.
Foi apresentada participação do furto na PSP.
Se o leitor tiver alguma informação que possa ajudar, por favor, informe a
polícia.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
NESTE CARNAVAL, OS CARETAS DO COSTUME
Hoje, terça-feira, dia solarengo, e Dia de
Carnaval, em que o Governo não tornou feriado nem deu tolerância de ponto à
função pública mas que muitas autarquias –incluindo a de Coimbra- deram, só
cerca de dez por cento das lojas de comércio tradicional, na Baixa, estiveram
abertas.
Com esta introdução já posso escrever
sobre onde quero chegar:
Primeiro, fará algum sentido o executivo
ministerial não dar tolerância de ponto quando, a seguir, pelas competências de
independência do poder local, é ultrapassado e desvalorizado por muitas câmaras
municipais? Será que este Governo é masoquista? Gosta de ser chicoteado? Ou
será autista (sem ofensa para os familiares dos próprios) e prefere caminhar
predestinadamente sem olhar ao que se passa em redor?
Segundo, estando toda a função pública a
trabalhar, como a Loja do Cidadão por exemplo, e não tendo Coimbra tradição
carnavalesca, em que fundamento assentou a decisão de encerrar os serviços
camarários? Até se entendia, se tivesse grandes festividades em curso, como é o
caso de outras cidades como Mealhada, Torres Vedras e outras. Ora, como escrevi
atrás, a cidade dos estudantes não tem. Como entender esta decisão num tempo de
crise, em que se deveria apelar ao trabalho dando o exemplo e mostrar entrega pessoal
e colectiva para sairmos deste estado letárgico que nos tem mandado para o
charco? Nesta decisão do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, só se podem
extrair estas razões: política partidária no pior, utilizada como afronta e
arma de arremesso ao Governo, falta de bom senso na governação local e
necessidade de agradar a todo o custo ao pessoal da autarquia.
Terceiro, estando o comércio de rua no estado miserável
em que se adivinha –porque está mesmo! Sei que está! Não é invenção minha! Se
bem que, às vezes, comece a pensar que é! Que só eu mesmo tenho dificuldades!-
como entender que só uma ínfima parte deste universo comercial estivesse
aberto? Argumentar que a urbe fica vazia neste dia e não haverá negócio só em
parte pode aceitar-se. Todos os dias são imprevisíveis, por isso mesmo o Dia de
Carnaval não é diferente dos demais. Acho que os comerciantes ainda não
entenderam que devem ser menos egoístas e darem um pouco de si à cidade. Abrir
o estabelecimento não pode assentar apenas no deve e haver –bem sei que
é o essencial, o húmus, mas para além desta essência tem de restar alguma
prestabilidade em nome da sociabilidade e do respeito colectivo. Fazemos parte
de um todo. Não estamos isolados. Somos fios que se entrelaçam e formam uma
teia. Nem que fosse para mostrar às entidades públicas que, mesmo coxos e
debilitados, estamos cá para o que temos e vier. Perante este comportamento
maioritário, como é que se argumenta contra o pensamento geral de que o
comércio está muito bem e a ganhar muito dinheiro? Não tenho dúvida de que
estamos em face de uma adversidade muito maior do que a crise financeira: o desalento
endémico, o baixar os braços, o enfiar o chapéu de vencidos da vida.
Não seria melhor, o Governo, as
autarquias, os comerciantes, todos desafivelarem a máscara e mostrarem a cara
tal como ela é? Sem jogos faciais, sem contorcionismos, sem falsidade? É que
assim, se continuamos a fingir com a mesma careta, o Dia de Carnaval não faz
qualquer sentido.
AURÉLIO "CAMISEIRO" DEIXOU-NOS
O último Sábado foi para mim um dia muito
atarefado. De tal modo que nem consegui ler os jornais diários da cidade e, por
isso mesmo, não soube da morte de Aurélio Augusto dos Santos, com 85 anos, mais
conhecido como Aurélio “Camiseiro”.
Só hoje, ao consultar os anúncios necrológicos espalhados por esta zona velha,
me apercebi. O Aurélio foi um importante comerciante na Baixa da cidade até
sensivelmente 1990. A sua loja foi no Largo do Poço, junto ao também
desaparecido Salão Brazil, e hoje ocupada pela Ourivesaria Silva. Embora não tivesse grande confiança com ele –do
meu ponto de vista, era uma pessoa austera e altiva, mas muito respeitada pelas
suas posições de esquerda –segundo o Diário as Beiras de hoje, era militante do
PCP. Lembro-me que a seguir ao 25 de Abril os comerciantes da Baixa estavam
divididos em dois blocos: direita e esquerda. A direita era maioritária por
aqui. Nos partidos políticos, a direita era representada pelo CDS-PP e PPD/PSD,
com os seus líderes Freitas do Amaral e Sá Carneiro. A esquerda era irmanada pelo
PS, com Mário Soares à frente, e o PCP, com Álvaro Cunhal. Mas,
verdadeiramente, o medo dos comerciantes identificados com a direita estava
projectado nos comunistas. Repare-se que estava em curso o PREC, Processo
Revolucionário em Curso, em que as ocupações selvagens e as comissões de
trabalhadores, de fábricas, negócios, quintas e habitações, estavam ao rubro.
Nesta altura, de 1974/75/76, Cunhal era o demónio vermelho que tirava o sono a
muitos comerciantes desta zona. E o Aurélio “Camiseiro” era apontado como uma sua extensão e olhado de revés
pela maioria dos colegas de profissão.
Tinha eu então cerca de 18 anos, recordo-me de
o meu patrão, já falecido e na altura um grande comerciante, com cerca de 15
funcionários em 1974 - e com 38 em 1982- fazer grandes discursos ao pessoal: “dos comunistas só vem miséria! Eles
distribuem o que os capitalistas aferrolham. Votem em Sá Carneiro! Este será o
garante dos vossos empregos!”. De tal modo ele dizia mal dos comunistas que
acabou por me despertar a curiosidade e, durante alguns anos, comprar o Diário,
o jornal do Partido Comunista, para tentar perceber o que era esta ideologia
–claro que nunca levei o matutino para a loja. Por esta altura aconteceu uma
coisa do arco-da-velha. Desde que me conheço, sempre gostei de ler um pouco ao
deitar-me e antes de adormecer. Então uma bela noite destes anos
revolucionários comecei a ler o livro “A
25ª Hora”, de Virgil Gheorghiu –que
conta a história de um agricultor romeno que se vê requisitado para trabalhos
forçados como se fosse judeu –que não era. Foi tal o entusiasmo na leitura
que só parei na última página e pouco antes da hora de me levantar como
normalmente. Uma das frases que nunca tinha ouvido falar e que li no enredo foi
“carne para canhão” –que significa
aqueles que vão tombar em primeiro lugar na frente inimiga, a infantaria, os
que vão dar o corpo às balas. Então, sem dormir, fui trabalhar como era costume.
Estava combinado que na semana seguinte eu iria para férias e já tinha tudo
planeado com a minha então namorada -e a seguir esposa. Nesse dia foi-me comunicado
pelo encarregado que, afinal e por uma razão que não lembro, já não poderia ir
de férias. Mandei-me aos arames e
disse ao gerente que não aceitava esta decisão. Ele descartou-se com o patrão.
As ordens tinham sido dele. Quando chegou o dono da loja, cara-a-cara,
disse-lhe que não estava certo o que estava a decidir em cima do joelho. Eu já
tinha programa marcado. Ele insistia que quem mandava no seu estabelecimento
era ele. Eu argumentava que mesmo sendo seu empregado também tinha vida
própria. Ele estava inflexível e não se demarcava. Às tantas atirei: o senhor
pensa que nós somos “carne para canhão”?
É? O que eu fui dizer! Então aconteceu uma coisa incrível, o comerciante ficou
possesso. À minha frente tinha um homem a bailar freneticamente a dança dos pezinhos e a praguejar num
lancinante e pungente murmúrio: “Meu Deus! Eu
tenho um comunista na minha casa! Tenho aqui um comunista! Como é que pode
ser?”
O que sei, tanto quanto me lembro, é que fui
para férias conforme o anteriormente combinado e, mesmo depois disto, o dono de
oito lojas na Baixa –hoje algumas encerradas- sempre me respeitou. Quando saí,
por minha iniciativa, em 1982, tentou tudo, desde aumentar o ordenado até
oferecer-me sociedade numa futura loja. Não aceitei por uma questão de honra.
Estavam em causa princípios que não abdicava por dinheiro nenhum. Para não me tornar
aborrecido não vou contar aqui.
Bem sei que me desviei do assunto que me levou
a escrever. Ou seja, o desaparecimento de um ilustre comerciante da nossa
praça: Aurélio dos Santos, popularmente conhecido por Aurélio “Camiseiro”. À sua família enlutada, em
nome da Baixa, se posso escrever assim –embora o executivo municipal ontem
aprovasse um voto de louvor, a título póstumo-, os nossos sentidos pêsames.
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
ABRIU O CAFÉ DA LOJA
Até 31 de Janeiro, e durante cerca de um ano, aquele
encantador recanto do Edifício Azul,
no Largo das Olarias, deu pelo nome de Pastelaria
Chiado. Agora, e desde hoje segunda-feira, passou a chamar-se Café da Loja. É um projecto idealizado
pelo casal Pedro Almeida e Filomena Cotelo. Aquando da abertura deste espaço,
por conta do anterior concessionário, Pedro foi durante alguns meses
funcionário. Partiu para outras vidas mas esta casa ficou-lhe sempre
atravessada no coração e, mesmo à distância, nunca lhe perdeu o rasto. Então surgiu
a oportunidade e, com o apoio de Filomena, não hesitou em criar quatro postos de trabalho e apostar no centro do
centro da Baixa da cidade.
Depois de obras de remodelação, com muito mais
luz e cor, a área ficou mais ampla e muito agradável à vista. O serviço é de
grande qualidade, garanto. Presenciei e almocei –afinal, tenho de escrutinar, é
ou não é?- tão bem que até me parece impossível pagar tão pouco. Só para se
perceber, tive uma entrada, couvert, à leão, entrei numa boa sopa de legumes, comi um bitoque de fazer estalar o
palato, atestei com um doce da casa e rematei com um bom café, paguei por tudo
somente 7,00 euros. Amanhã vou outra vez, até porque a sua esplanada é de
sonho, com o Sol a beijar quem se acomoda ali e a fazer esquecer as mágoas.
O Café da Loja vai estar aberto diariamente,
de segunda a domingo, das sete da matina até às 24h00. Vamos encontrar-nos lá
amanhã?
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