A história começa assim: antes de
ontem, na quarta-feira, perante algumas perguntas que alguns comerciantes me
faziam na rua sobre a manifestação de amanhã, sábado, na Praça da República e
sobre o mote de mobilização “Que se lixe a Troika! Queremos as nossas vidas”,
escrevi aqui um texto com o título “E o comércio? Vai ou não vai?”.
Na quinta-feira, talvez porque
tenha lido ou não o que escrevi, o Arménio Pratas, comerciante meu amigo e um obstinado
sonhador, estando comigo, com o Armindo Gaspar e o Francisco Veiga, disse: “ó
pá, perante as desgraças anunciadas no comércio, acho que deveríamos tentar
convidar os colegas a estarem presentes na manifestação. Se nós não marcarmos
presença lá, dá a impressão que está tudo bem. Já viste o caso de fulano, que
está em vias de perder tudo? E de sicrano, que vai ficar na miséria? Acho que
deveríamos mandar fazer um cartaz grande e uns “flyers” e espalhávamos por aí
em todas as lojas. O que é que acham?”
Em face desta proposta, o grupo unanimemente concordou em avançar. Pedimos a um amigo que nos ajudasse no
projecto e coube à Raquel Misarela, neta de reputados comerciantes na Baixa, a
criação da obra gráfica. Pelo pouco tempo até ao dia da manifestação,
desistimos do cartaz e optámos apenas pelo “flyer”. Mandámos executar numa
tipografia e dividimos o custo pelos quatro. Ontem, durante a noite, o Arménio
e o Armindo, durante várias horas, espalharam os panfletos pelos
estabelecimentos. Como cresceu uma grande quantidade e para que não se perdessem,
durante mais de uma hora, hoje e durante a manhã, andei a convidar pessoalmente
algumas dezenas de comerciantes. Vou deixar uma amostra da maioria de respostas
que recebi:
-Ó pá, não posso! Tenho de ir ver
uma colecção a Lisboa.
-Quando? Amanhã? A que horas? Ah…
não posso tenho um compromisso!
-Não sei se posso ir. Só amanhã
posso ver.
-É muito em cima. Não estava a
contar. Tenho umas coisas para tratar.
-Ó Luís, tu já sabes o que penso,
porque já falámos várias vezes. Isto não vai lá com manifestações. É preciso
eliminar… matar…estás a perceber? É preciso limpar o sarampo a meia dúzia. Isto
com gritos não vai lá. Eu não vou!
-Quando? Amanhã às 17h00 na Praça
da República? É assim, eu vou lá passar, mas se vir algum cartaz ou bandeiras
de partidos nem páro, estás a ouvir? Eu não alinho em manifestações partidárias.
Nem pensar!
-Ora, ora, isto não vai lá com
manifestações. É o que se tem feito nos últimos quase 40 anos. Só lá vai à pancada. Eu não alinho em gritarias.
-Eu não sei se posso, mas é-me
muito difícil poder estar lá. Tenho uma coisa prometida. Não posso falhar.
Temos de optar. É ou não é?
Numa altura em que o nosso burgo,
hipócrita como virgem imaculada, anda todo abespinhado com o facto de um
adjunto do presidente da Câmara Municipal de Coimbra ter mandado o povo para o “carvalho”
–vitupério assim escrito no semanário Campeão das Províncias-, eu também mando
foder –sem evitar o vernáculo- os comerciantes que responderam assim. É por
isto mesmo que o comércio se encontra no estado em que está. É por comodistas
como estes, para não lhes chamar cobardes, egoístas rendidos, que numa modorra
continuada, numa insensibilidade atroz se verifica este “deixa arder que o meu
pai é bombeiro”. Onde quer que estejam os ancestrais destes comerciantes, homens de
têmpera rija e bigodes retorcidos, devem estar a arder de vergonha de tais
filhos que não movem uma palha por nada. No mínimo nem que fosse pelo respeito
que merecem o Arménio Pratas, o Armindo Gaspar e o Francisco Veiga, que, sem
interesse partidário ou vinculação de cor política, estão sempre prontos a dar
uma mão pelos mais necessitados. Fazem-no, que fique escrito também, porque
para além da sua imensa generosidade, sentem na pele, tal como eu, as agruras
de um infeliz final de vida comercial. Uma grande salva de palmas para estes três comerciantes
que tanto dignificam a profissão que escolheram. Para os outros, para os que
deram as respostas que ilustro –apenas para estes, saliento-, vão-se foder!
2 comentários:
Mas ó Sr. Luis! acha mesmo que vale a pena manifestarmo-nos? no próximo dia de eleições vai tudo ficar na mesma: ou fica "A", ou fica "B", ou fica "B", ou fica "A", e os "C", "D", "E", etc..., também ficam representados e com os devidos TACHOS!, por isso esta indiferença! Talvez quando a indiferença chegue ás urnas e estas ao fecho fiquem vazias porque todos estivemos ocupados a tratar de outras coisa..., e não importa o quê, talvez se resolva, ou não! o que nós queremos todos é um país sem politica e preferencialmente DESTA!!
Ola Luís boa tarde,apetece-me dizer quatro por todos,todos contra quatro.
Eu la estarei como cidadão comum a defender a justiça social,emprego, saúde,e ate o comercio,que essas maquinas capitalistas,e outros grupos de interesses que devoraram e aniquilaram o comercio ate ao Cotulo.
contra este governo que não dialoga,arrogante,incessível,e outros adjectivos..!!!!la estarei,na minha,vossa e nossa luta.
Mas será que vale a pena?E claro que vale a pena,o que não vale a pena e ficar em casa com o sentimento de culpa,de não ter lutado.Gostava de acordar amanha sem a sensação,que ia trabalhar para ser roubado.
PS.sou apartidario e não gosto quando dizem que tenho ideais comunistas.
Aquele abraço. Paulo Sa
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