"É Preciso Gritar. No dia 15 de Setembro, quem Ficar Calado não Tem Razão"
"Assistir ao trabalho dos criados do capital é deprimente, mas a falta de esperança é irmã gémea da falta de coragem. As razões para a indignação são demasiadas. É preciso gritar. No dia 15 de setembro, quem ficar calado não tem razão.
JOSÉ LUÍS PEIXOTO"
JOSÉ LUÍS PEIXOTO"
E O COMÉRCIO? VAI OU NÃO VAI?
Ontem, na Baixa, pelos becos
esconsos, ruelas mal-amanhadas e ruas que já foram o centro do centro comercial
de Portugal, a pergunta, como bola de pingue-pongue, saltitava na boca de
empregados e patrões comerciais: “Sábado, vais à manifestação?”
A maioria, divida entre a dúvida
metódica e a certeza inconsequente, faz a interrogação sem saber muito bem por onde optar, se para o ir ou não ir. Um dos comerciantes até me formulou assim a
pergunta: “eu acho que deveria ir… isto está tão mau! Nem sei bem até se vou
aguentar muito tempo… sei lá!? E se aquilo, às tantas, é uma manifestação da esquerda,
dos comunistas ou do Bloco?... É pá, eu nunca andei metido em manifestações de política
partidária… estás a entender o que eu digo?”
Tal como a este, respondi a todos
por igual: cada um, responsável pelos seus actos, faz o que entende. Eu irei.
Estarei no próximo sábado, pelas 17h00, na Praça da República. Posso dizer
também que, se o que me foi afirmado por vários for cumprido, pelo menos,
uma vintena de comerciantes estarão presentes.
Indo aqui mais longe do que
respondi aos colegas, sem pretender aliciar ninguém, na minha singela opinião,
perante o que se está a passar no comércio tradicional, os comerciantes
deveriam comparecer em força. Em quase quatro décadas de democracia, os
profissionais da compra e venda nunca estiveram tão entregues à sua sorte como
agora.
Não vou nomear o nome, mas,
apenas para se entender, este mês, aqui na zona, vai encerrar uma loja. O
comerciante tem cerca de 45 anos de idade. Trabalha no comércio desde criança.
Há cerca de oito anos, tentando a sua sorte como todos, juntou todas as suas
economias e em associação com um companheiro do mesmo serviço adquiriram um edifício com loja no rés-do-chão.
As vendas começaram a cair e logo em 2006 e a sociedade desfez-se. A partir daí
o negócio foi sempre em plano descendente e, naturalmente, o incumprimento com o
banco, com o fisco, com a Segurança Social foi a consequência lógica de uma
vida de trabalho. Quando, daqui a dias, este mercador encerrar a porta pela
última vez, para além de um sofrimento atroz, certamente materializado num mar
de lágrimas, e muitas recordações de uma aventura mal sucedida, não levará mais
nada consigo. Não terá direito a subsídio de desemprego. Não poderá vender nada
do que tem porque está tudo hipotecado. Dizia-me há dias, em palavras
atormentadas, saídas a custo e emolduradas em rosto macilento: “estou cego para
isto acabar. Já não aguento mais! Vou para o estrangeiro. Se permanecer qui, no
país, enlouqueço. Estou de rastos! Quero esquecer este filme no qual fui actor,
porque acreditei que valia a pena contribuir para a riqueza da Nação.”
Não te abatas, camarada,
QUADRAS POR UMA VIDA
Com Cavaco fomos estrangeiros,
com Barroso albaneses,
com Sócrates brasileiros,
com Coelho somos chineses.
Fui orgulhoso comerciante,
hoje sou só observador,
não passo de uma consoante
numa mera estrofe sem amor.
Na loja sinto o meu dia
a passar sem vibração,
cada hora é uma agonia
que apaga meu coração.
Durante o dia adormeço
a pensar no meu dever,
durante a noite enlouqueço,
só me apetece morrer.
Quem matou a minha esperança,
cambada de homens falhados,
não provoquem a minha vingança,
filhos de puta, mal-amanhados.
Fui sempre um bom português,
honrado, aplicado, trabalhador,
hoje sou mera peça de xadrez
presente com futuro ameaçador.
Quero gritar bem alto, ao vento,
que este sistema é destruidor,
procuro as forças de alento
nas rugas do cavador.
Queremos as nossas vidas,
queremos o nosso sonhar,
fora esta política apodrecida,
que nos tenta acorrentar.
Somos comerciantes profissionais,
a quem roubaram até a dignidade,
mas, tendes cuidado, não abusais,
a paciência pode passar a bestialidade.
não submerjas neste mar,
ergue o punho em assentada,
não te deixes acorrentar.
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