O Diário de Coimbra (DC) de hoje
noticia: “Adjunto demite-se após “ofensa” no Facebook”. Continuando a citar o
DC, “O adjunto do presidente da Câmara de Coimbra, João Francisco Campos,
apresentou ontem a demissão do cargo que ocupava há cerca de ano e meio na
sequência de um comentário que colocou há poucos dias na sua página do
Facebook. No dito comentário, depois de recordar momentos em que alertas feitos
pelo PSD foram desvalorizados e até criticados pelos eleitores (dá o exemplo de
Manuela Ferreira Leite), João Francisco Campos termina com a frase: “Agora esse
mesmo Povo, ou parte dele, queixa-se que afinal o Rei vai nu. Vão p’ro
carvalho.”
Continuando a citar o DC, “A
polémica terá levado vários elementos do partido, e não só, a chamarem a
atenção do presidente da Câmara e, segundo o Campeão das Províncias, um
munícipe dirigiu mesmo uma carta a João Paulo Barbosa de Melo a exigir uma
posição deste. O presidente da Câmara de Coimbra esteve ausente do país,
regressou ontem de manhã e ao final da noite chegava às redações a confirmação
de um desfecho que se assumia, nos últimos dias, inevitável.” –ao lado, em
coluna assinada pelo próprio, João Campos, em título “Não era minha intenção”,
pede desculpa a quem “por ler o meu texto, se sentiu ofendido pelo que disse.”
Ora bem, antes de prosseguir com
a minha prosa, em metáfora, começo por mergulhar o bastão no balde água benta e
aspergir sobre João Campos –que não conheço. Ao mesmo tempo, como se estivesse
a executar um ritual de exorcismo, expulsando os demónios da desvirtude e
purificando-o da influência impura ou nociva do desvio, lanço estas palavras: “eu
te absolvo pecador arrependido, para que salves a alma e o espírito de quem te
obrigou a passar por penitente!
Agora, depois desta ressalva em
jeito de ironia –e que ninguém se ofenda, caso contrário, como não tenho
partido e não me posso demitir, ainda vou malhar com o cabedal no pelourinho da
Praça do Comércio-, vou escrever mesmo em tom sério. Em todos os lugares habitados
do mundo existe sempre uma Dona Pombinha –quem não se lembra desta figura na
telenovela “Roque Santeiro”, que passou por cá entre 1985/86? É uma figura
emblemática, defensora da moral e dos bons costumes. Purista dos sete costados,
tudo para esta personagem é ofensivo ao Criador. Ora, em analogia, não vou
designar ninguém com este estapafúrdio apelido, mas depois do celebérrimo caso
do ex-comandante da Polícia Municipal, Euclides Santos, em que este, por
engano, enviou a todos os funcionários da autarquia as boas festas com mulheres
seminuas, e em que foi demitido, dá para perceber que estamos perante outra
narrativa de desfecho similar. Será que ninguém vê que acontecimentos destes, sendo tão
insignificantes, dando-lhes uma importância desproporcionada e desmesurada, só
tornam ridículos quem os decide sancionar? É que para risível, com graves
custos pessoais e familiares, já deveria ter chegado os danos causados na
imagem de Euclides Santos -e foram enormes. Incomensuráveis. Não escrevo ao sabor da pena, porque tenho conhecimento dos seus efeitos. Foi uma bomba de neutrões na sua intimidade. É caso para interrogar: as pessoas com responsabilidade perderam o bom
senso? Foi? Onde pára o tão apregoado respeito pela liberdade de expressão?
Era altura destes responsáveis, nomeadamente políticos eleitos, tomarem conta de que são tão pecadores como qualquer um e, numa hipocrisia consentida, despirem o capote de virgens imaculadas. Além de mais, era bom saberem que os eleitores querem olhar para eles como terrenos, homens que bebem uns copos nas tascas, dizem umas “caralhadas” se preciso for. Querem pessoas humanas, vulneráveis, na mesma semelhança, com os mesmos gostos e vícios, e não seres puros e metafísicos. Para isso, para se embarcar na transcendência, vai-se à igreja. Pelos vistos, quase quatro décadas não ensinaram nada aos políticos profissionais da nossa terra. Bem sabemos que aparentemente, no geral, os cidadãos, todos, clamam por imagens de virtude. Mas, quem anda por cá há muitos anos e observa o que se passa à sua volta, sabe que os humanos, verdadeiramente, nunca expressam claramente a sua vontade. Pedem uma coisa mas querem outra. É preciso usar de hermenêutica para os entender.
Era altura destes responsáveis, nomeadamente políticos eleitos, tomarem conta de que são tão pecadores como qualquer um e, numa hipocrisia consentida, despirem o capote de virgens imaculadas. Além de mais, era bom saberem que os eleitores querem olhar para eles como terrenos, homens que bebem uns copos nas tascas, dizem umas “caralhadas” se preciso for. Querem pessoas humanas, vulneráveis, na mesma semelhança, com os mesmos gostos e vícios, e não seres puros e metafísicos. Para isso, para se embarcar na transcendência, vai-se à igreja. Pelos vistos, quase quatro décadas não ensinaram nada aos políticos profissionais da nossa terra. Bem sabemos que aparentemente, no geral, os cidadãos, todos, clamam por imagens de virtude. Mas, quem anda por cá há muitos anos e observa o que se passa à sua volta, sabe que os humanos, verdadeiramente, nunca expressam claramente a sua vontade. Pedem uma coisa mas querem outra. É preciso usar de hermenêutica para os entender.
Se Diácono Remédios, o personagem
criado por Herman José, existisse e viesse a Coimbra diria: “Valha-os Deus,
criaturas!”
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