O semanário Campeão das
Províncias da semana passada noticiava que a concessão do café “Cartola”, “sito
na Praça da República, Coimbra, deverá facultar à Câmara Municipal (CNC) uma
receita anual aproximada a 140 000 euros. O montante é quase oito vezes
superior ao da concessão cessante (…). À proposta mais baixa correspondia uma
receita inferior a 25 000 euros.” –o Diário de Coimbra (DC) de hoje escreve que
o montante a pagar por mês será de 14.426,21 euros. O que dá um valor anual de
173.114,52 euros. Acrescenta também o DC que a segunda melhor proposta era de
pouco mais de oito mil euros e as seguintes de seis mil euros e 4.600,00 euros.
Como ressalva, declaro que nem
conheço os novos adjudicantes nem nada me move contra o sucesso de terem saído
vencedores nesta oferta pública promovida pela CMC. O que gostaria de analisar
é a forma deste concurso e de outros no mesmo género e desencadeados por
instituições públicas. Quase sempre, a ordem seguida é a de aceitar ofertas sem
base mínima. Como se sabe, este procedimento carrega consigo uma obsessiva
preocupação de isenção. Pelo que se apregoa, supõe-se que mesmo que a verba afetada
pelo particular possa raiar o absurdo a entidade pública, como Pilatos, lava
daí as suas mãos. Tão pouco lhe importa que a importância prometida possa
jamais ser consignada em depósito pela incapacidade de ressarcimento no negócio.
Em nome de uma neutralidade perdida no horizonte, assim se desliga
completamente da realidade e parte para a ficção.
Todos sabemos que, pelo Código de
Procedimento Administrativo, todos os organismos públicos estão vinculados,
entre outros, ao princípio da imparcialidade. Ou seja, as regras, através da
equidade, têm de respeitar todos por igual no acesso, sendo portanto a
probidade um meio, e de modo a que todos, nas mesmas condições, possam atingir
um fim.
O problema começa quando esta imparcialidade,
perdendo o espírito independente, se transforma em obsessão igualitarista,
deixa de ser um meio e passa a ser totalitariamente o objeto da acção. Isto é, larga
o âmbito racional e passa para o campo metafísico da sobreavaliação. Ao
transcender a realidade, sem se aperceber, discrimina negativamente a maioria e,
aparentemente, favorece uma ínfima minoria. Mais, para além de não levar em
conta a competência dos candidatos e arriscar nada receber e tudo perder, neste
“dolce far niente”, deixando a decisão a jusante, para quem concorre, inflaciona
despudoradamente em seu proveito próprio a prova. Porque é preciso não esquecer
que uma entidade estatal, para além de estar obrigada também ao princípio da
boa-fé, na prossecução do serviço público, contrariamente aos privados, não
visando unicamente o lucro, o fundo social é (deveria ser) a sua meta, e aquele,
o proveito, em bom rigor, é uma consequência remanescente da sua atividade. Ao
não ser consequente com este primado está a comportar-se como um mero
especulador.
Vou ser mais claro, socorrendo-me
deste exemplo da concessão do “Cartola”. Seguindo o Campeão das Províncias, o
atual concessionário pagará anualmente cerca de 17 500,00 euros. Por
conseguinte a CMC, tendo em conta a crise que se vive, deveria estabelecer um
preço fixo igual ou não muito distante desta verba e, publicitando o acesso a
todos os munícipes que o desejassem, em tômbola, seria sorteado o vencedor –que
é o método, aparentemente, praticado para a atribuição de habitação social. Ao não proceder
assim, deixando a oferta ao sabor de vontades individuais, em abstrato, estará
sempre a excluir o utilizador de uso. E ainda mais um pormenor, neste caso a
verba oferecida pelo novo adquirente é de oito vezes mais. Sem querer pretender
ser ave de mau agoiro, mas imaginemos que, no futuro, se verifica incumprimento
e os créditos vencidos se tornam incobráveis. Sendo a edilidade a representante
dos munícipes e estando mandatada para o efeito, quem responde pelo prejuízo
sofrido perante a má opção anteriormente tomada?
1 comentário:
Deviam informar os cidadãos a quem pertence essa empresa que apresentou a melhor proposta, sim apresentou só, ainda não venceu até porque tem de apresentar e cumprir certos e determinados requisitos e garantias.
Tenho uma duvida, segundo me parece, o Cartola é para desaparecer da Praça da Republica, pelo menos daquele sitio por causa do fantasma do Metro Mondego. E se essa ideia vier mesmo para a frente quem vai pagar a indemnização a essas pessoas que fazem parte da empresa. Cá fico atento e vigilante e mais não escrevo sobre este assunto.
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