sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PARA ALGUNS COMERCIANTES: VÃO-SE FODER!


 A história começa assim: antes de ontem, na quarta-feira, perante algumas perguntas que alguns comerciantes me faziam na rua sobre a manifestação de amanhã, sábado, na Praça da República e sobre o mote de mobilização “Que se lixe a Troika! Queremos as nossas vidas”, escrevi aqui um texto com o título “E o comércio? Vai ou não vai?”.
Na quinta-feira, talvez porque tenha lido ou não o que escrevi, o Arménio Pratas, comerciante meu amigo e um obstinado sonhador, estando comigo, com o Armindo Gaspar e o Francisco Veiga, disse: “ó pá, perante as desgraças anunciadas no comércio, acho que deveríamos tentar convidar os colegas a estarem presentes na manifestação. Se nós não marcarmos presença lá, dá a impressão que está tudo bem. Já viste o caso de fulano, que está em vias de perder tudo? E de sicrano, que vai ficar na miséria? Acho que deveríamos mandar fazer um cartaz grande e uns “flyers” e espalhávamos por aí em todas as lojas. O que é que acham?”
Em face desta proposta, o grupo unanimemente concordou em avançar. Pedimos a um amigo que nos ajudasse no projecto e coube à Raquel Misarela, neta de reputados comerciantes na Baixa, a criação da obra gráfica. Pelo pouco tempo até ao dia da manifestação, desistimos do cartaz e optámos apenas pelo “flyer”. Mandámos executar numa tipografia e dividimos o custo pelos quatro. Ontem, durante a noite, o Arménio e o Armindo, durante várias horas, espalharam os panfletos pelos estabelecimentos. Como cresceu uma grande quantidade e para que não se perdessem, durante mais de uma hora, hoje e durante a manhã, andei a convidar pessoalmente algumas dezenas de comerciantes. Vou deixar uma amostra da maioria de respostas que recebi:

-Ó pá, não posso! Tenho de ir ver uma colecção a Lisboa.
-Quando? Amanhã? A que horas? Ah… não posso tenho um compromisso!
-Não sei se posso ir. Só amanhã posso ver.
-É muito em cima. Não estava a contar. Tenho umas coisas para tratar.
-Ó Luís, tu já sabes o que penso, porque já falámos várias vezes. Isto não vai lá com manifestações. É preciso eliminar… matar…estás a perceber? É preciso limpar o sarampo a meia dúzia. Isto com gritos não vai lá. Eu não vou!
-Quando? Amanhã às 17h00 na Praça da República? É assim, eu vou lá passar, mas se vir algum cartaz ou bandeiras de partidos nem páro, estás a ouvir? Eu não alinho em manifestações partidárias. Nem pensar!
-Ora, ora, isto não vai lá com manifestações. É o que se tem feito nos últimos quase 40 anos. Só lá vai à pancada. Eu não alinho em gritarias.
-Eu não sei se posso, mas é-me muito difícil poder estar lá. Tenho uma coisa prometida. Não posso falhar. Temos de optar. É ou não é?

Numa altura em que o nosso burgo, hipócrita como virgem imaculada, anda todo abespinhado com o facto de um adjunto do presidente da Câmara Municipal de Coimbra ter mandado o povo para o “carvalho” –vitupério assim escrito no semanário Campeão das Províncias-, eu também mando foder –sem evitar o vernáculo- os comerciantes que responderam assim. É por isto mesmo que o comércio se encontra no estado em que está. É por comodistas como estes, para não lhes chamar cobardes, egoístas rendidos, que numa modorra continuada, numa insensibilidade atroz se verifica este “deixa arder que o meu pai é bombeiro”. Onde quer que estejam os ancestrais destes comerciantes, homens de têmpera rija e bigodes retorcidos, devem estar a arder de vergonha de tais filhos que não movem uma palha por nada. No mínimo nem que fosse pelo respeito que merecem o Arménio Pratas, o Armindo Gaspar e o Francisco Veiga, que, sem interesse partidário ou vinculação de cor política, estão sempre prontos a dar uma mão pelos mais necessitados. Fazem-no, que fique escrito também, porque para além da sua imensa generosidade, sentem na pele, tal como eu, as agruras de um infeliz final de vida comercial. Uma grande salva de palmas para estes três comerciantes que tanto dignificam a profissão que escolheram. Para os outros, para os que deram as respostas que ilustro –apenas para estes, saliento-, vão-se foder!





2 comentários:

Anónimo disse...

Mas ó Sr. Luis! acha mesmo que vale a pena manifestarmo-nos? no próximo dia de eleições vai tudo ficar na mesma: ou fica "A", ou fica "B", ou fica "B", ou fica "A", e os "C", "D", "E", etc..., também ficam representados e com os devidos TACHOS!, por isso esta indiferença! Talvez quando a indiferença chegue ás urnas e estas ao fecho fiquem vazias porque todos estivemos ocupados a tratar de outras coisa..., e não importa o quê, talvez se resolva, ou não! o que nós queremos todos é um país sem politica e preferencialmente DESTA!!

paulo sa disse...

Ola Luís boa tarde,apetece-me dizer quatro por todos,todos contra quatro.
Eu la estarei como cidadão comum a defender a justiça social,emprego, saúde,e ate o comercio,que essas maquinas capitalistas,e outros grupos de interesses que devoraram e aniquilaram o comercio ate ao Cotulo.
contra este governo que não dialoga,arrogante,incessível,e outros adjectivos..!!!!la estarei,na minha,vossa e nossa luta.
Mas será que vale a pena?E claro que vale a pena,o que não vale a pena e ficar em casa com o sentimento de culpa,de não ter lutado.Gostava de acordar amanha sem a sensação,que ia trabalhar para ser roubado.

PS.sou apartidario e não gosto quando dizem que tenho ideais comunistas.



Aquele abraço. Paulo Sa