No princípio foi o verbo “abancar”,
quando os bancos, como tortulhos, cogumelos, em solo fecundo e promissor,
tomavam conta de todas as ruas da Baixa –ainda se lembram desse tempo, na
década de 1990 e princípio do novo milénio, quando o dinheiro, como símbolo de
progresso e prosperidade, passava de mão em mão? Agora, há cerca de uma dezena
de anos para cá, sobretudo depois de o Euro ter substituído o Escudo, o verbo é
outro: minguar, minguar, minguar.
E lembrei-me disto, exactamente, porque verifiquei que o Multibanco da Praça do Comércio desapareceu das
existências da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Verifiquei também que a caixa
que se encontra junto ao restaurante “Josepe & Joaquim, na Rua da Sota,
está com uma grande marca de “calhoada” no visor, o que, mesmo sem saber mais
nada, dá para intuir que a decisão do banco público de extinguir a máquina da “praça
velha” tem a ver com o vandalismo e falta de segurança que a Baixa apresenta
durante a noite.
O QUE DIZEM OS COMERCIANTES?
Consultado o funcionário de um
restaurante na Praça do Comércio, e que pediu o anonimato, disse o seguinte: “olhe,
por um lado faz falta, mas por outro nem por isso. A máquina só tinha dinheiro
no primeiro dia da semana. A partir daí era um “verbo-de-encher” que estava
para aí.”
Diz outro comerciante, “olhe,
ainda bem que retiraram essa coisa daí. Com os assaltos com gás que estamos
todos os dias a ler na imprensa, ainda bem que a levaram. Como sabe os meus
estabelecimentos são próximos e todos os dias olhava para ela com preocupação.”
Diz outro, “ai, senhor Luís, faz
muita falta aqui na praça. Sabe que a mais próxima é lá em cima, nas ruas da
calçada, e o que acontece é que os clientes dizem que vão lá levantar mas não
voltam mais. Você já viu? É tudo a dar-nos nas bentas para trás. Ora bolas!
Mas, tenho de confessar, compreendo a decisão da CGD, nos últimos meses, esta máquina retirada agora, apareceu toda danificada, por duas vezes. Durante a noite, por aqui, não se vê
um polícia. Durante o dia andam aos pares. Você entende isto? Eu não?”
A BAIXA, DURANTE A NOITE, ESTÁ
ENTREGUE AOS BICHOS
Quem aqui mora facilmente se
apercebe de que se por um lado, durante a noite, não há pessoas a circular
também não se vê um agente de autoridade. Sendo assim, é óbvio, perante o sentimento de impunidade, dá para compreender o constante vandalismo em paredes, através de grafitados, e, como neste
caso, contra as máquinas de Multibanco. Aliás, perante esta ausência de
vigilância, até se pergunta como é possível haver tão poucos casos de
banditagem.
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