Hoje, domingo, durante a tarde, a
Praça 8 de Maio foi invadida por uma espécie de teatro ambulante. Nada de mais,
diríamos, não fosse o facto de as “palhaçadas” envolverem Jesus de Nazaré,
Filho de Deus, e figura central do cristianismo.
Antes de prosseguir, em ressalva
gostaria de dizer que sou agnóstico. Quero dizer, portanto, que não acredito,
mas também não nego a crença e, sobretudo, pelo respeito de quem tem fé. Por
outro lado, tenho para mim que tudo é criticável e passível de ser levado ao
teatro e até apresentado em peças de humor. Logo, naturalmente, as religiões,
como tudo, entram neste leque da minha apreciação. Bem sei que vou ser
paradoxal, mas, essencialmente as religiões já que tocam tanto a humanidade,
sempre que sejam abrangidas pela sátira, sem as excluir, deve haver algum
cuidado –bem sei que não é fácil esta apreciação, uma vez que entra no campo
estritamente subjectivo do sujeito interpretador, o que quer dizer, então, que,
na mesma forma como outra performance qualquer, haverá sempre bom e mau, cabendo
àquele a responsabilidade do seu bocejo ou ovação.
Depois desta salvaguarda, que,
acredito, só serviu mesmo para criar confusão, vamos lá explanar o que me
trouxe aqui. É que o desempenho que vi na Praça 8 de Maio, da responsabilidade
de uma denominada “crisenomundo”gmail.com”, era tão sem jeito, tão fraquinho e
ridículo, que até eu, afastado das crenças religiosas, me senti ofendido por
aquele pseudo-espectáculo na praça do fundador. Só para dar um cheirinho dos
diálogos, em cima de umas cadeiras estava, um orador e duas pessoas. Mais ou
menos isto, perguntava o arguente: “vocês já tentaram o suicídio hoje? Ainda
não? Têm de o fazer! Vocês têm de tentar o suicídio. Vamos lá!” –e os dois
jovens atiravam-se da cadeira a baixo, e o povo presente, mais que certo que
não perceberam patavina mas gostaram muito, batiam palmas em grande aclamação desenfreada.
Para além disso, numa mesa ao
lado estavam uns panfletos em desdobrável que tinham por título: “Como
enfrentar a Crise”. Lá dentro tinha mensagens interessantes. Saliento algumas.
No referente ao casamento dizia o seguinte: “O casamento, instituído por Deus,
deve dar-se somente entre um homem e uma mulher”. A seguir vinha sobre a
homossexualidade: “Não existe uma só referência em toda a Bíblia que apoie tal
coisa, mais pelo contrário. “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é
abominação” –Levítico 18:22”.
Continuando, “E Mais… chamamos ao
“bom” mau e ao “mau” bom, “política” ao abuso de poder, “ajuda social” ao facto
de recompensar a preguiça, “ter ambição” a cobiçar os bens dos outros, “liberdade
de expressão” ao conteúdo imoral violento, pornográfico e grosseiro que hoje
reina em todos os meios de comunicação (televisão, Internet, rádio, imprensa…)
definitivamente, escondemos uma multidão de acções injustas debaixo de um
bom-nome.” –Valha-nos Nosso Senhor Jesus Cristo e todos os santos apóstolos,
digo eu, que até sou herege.
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