Sobre um estrado implantado no
espaço onde ruíram dois prédios em Dezembro de 2006, ao fundo das Escadas do
Gato, em Fevereiro último, escrevi que em alternativa a este projecto, em vez
desta plataforma em madeira, se deveria ter optado pelo arranjo do chão e então
sim colocar lá uma esplanada. E porque volto eu ao mesmo assunto? Será que mudei
de opinião?
“Não, não pode ser” –dirão vocês, leitores! Uma pessoa deve ser sempre
coerente com o que escreve. É ou não é? Mesmo que mais tarde, em face de novos
dados apreendidos, em nome dessa tal coerência e mesmo que até errada, deve
continuar a teimar. É assim?
Toda a gente sabe que quem
escreve é uma espécie de pássaro, nefelibata, que anda nas nuvens. De lá de cima
olha cá para baixo e tenta sempre ver o que os outros não vêem. Quem escreve é
um emotivo sem emoção. Ou seja, tanto plasma com o coração como friamente e
completamente desapegado de sensações pode fazer exactamente o contrário. Muitas
vezes tudo depende da corrente social. Se esta, como rio em direcção à foz,
caminha no mesmo sentido, o escritor, tentando desvendar o movimento faz o
percurso inverso. Isto tudo para dizer que, eu que não sou escritor, apenas sou
coerente na minha constante incoerência. Não estou agarrado a dogmas de espécie
alguma e, na maioria das vezes, a minha convicção, prega-me partidas.
E comecei este arrazoado em jeito
de sermão aos peixes, porque há dias passei novamente nas Escadas do Gato e
deparei-me com o estrado ornamentado com uma alcatifa, com mesas e cadeiras. E,
apesar de lá passar todos os dias, como se o fizesse pela primeira vez, ao ver
aquele quadro de cor na paisagem decrépita, parei estático. Foi como se a
imagem que estava perante os meus olhos tocasse os meus sentidos. Dei um passo
atrás e fotografei. Aquele enquadramento estava bonito. Era um remanso na
paisagem. Quebrava o aspecto de abandono. Admito perfeitamente ter errado na
minha primeira apreciação genérica. Tenho razão? Não tenho? Não sei. O que
achei é que, em face do que senti naquele dia desta semana e o que escrevi
anteriormente, deveria transcrever e partilhar convosco.
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