(FOTO DE ARQUIVO)
Ontem, com início cerca das 21h00,
realizou-se uma tertúlia-debate –que praticamente não ouve por imperativos de
horário- no “BE fado”, na Rua Adelino Veiga, e promovida pelo Lions Clube de
Coimbra. O tema era “Coimbra, Património Mundial da Humanidade”.
Com a “sala das arcadas” deste
bonito estabelecimento praticamente repleta, a exposição foi muito bem
apresentada quer pela vice-reitora e responsável do processo de candidatura,
Clara Almeida Santos, quer por outro senhor, engenheiro, de nome Hélder Rodrigues. Clara Almeida Santos, pela simplicidade, pelo brilhantismo
imanente, é um espectáculo. Gosto desta mulher –aliás, não é a primeira vez que
a ouço falar.
Quanto às intervenções
institucionais, falou o presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, Carlos
Clemente e o presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz, António Pinto
Santos. “In extremis”, quando parecia não haver intervenção do público
presente, Clemente passou a bola para José da Costa, um reputado comerciante da
Baixa. A seguir falou José Castanheira, advogado e membro do grupo de fados Advocat,
e também dinamizador daquele espaço no Centro Histórico.
Quanto às intervenções do
público, se da parte de Carlos Clemente já conheço bem a sua posição em relação
ao que se passa nesta zona velha e, portanto, para mim não foi surpresa, já da
parte de Pinto dos Santos, presidente da Junta de Santa Cruz, tenho de
confessar que me surpreendeu. Com um discurso muito racional, frio e desprovido
de cálculos, disparando flechas sem preocupações de atingir qualquer um, foi
contundente na sua verbalização de defesa da sua freguesia e da nossa Baixa.
Quanto ao ambiente em si –não do
estabelecimento, ressalvo, que é muito bom-, do público presente, tenho de
dizer que não gostei. Era algo plástico, formal e pouco acessível. Vamos lá ver
se consigo explicar, porque, mesmo até para mim, não é fácil. Vou tentar. Naquela
sala, com cerca de quatro dezenas de pessoas, estava a nata da cidade, e até o
presidente da Câmara Municipal, Barbosa de Melo. Havia mais doutores por
centímetro quadrado do que cabelos negros na minha cabeça. Ora bem, e isso é
mau? Penso que não. O problema é o que infiro neste tipo de cerimónias: a falta
de autenticidade. Falta ali povo –mas também, sendo honesto, como?, se o homem
simples, da rua, da loja, do café, provavelmente não teria sido convidado? E mesmo se fosse, se calhar, também não iria. Então como resolver isto? –Interrogo
eu. Eu sei lá! Porque as coisas são mesmo assim: faz-se uma tertúlia popular,
promovida pelo Gabinete do Centro Histórico, e aparecem cerca de uma vintena de
pessoas, contando com os funcionários camarários. Faz-se uma outra promovida
por uma entidade –como o Lions, com a sua aura de elite- e comparecem 40 ou 50
pessoas. Então e o que é que eu quero dizer com isto? Então eu sei lá?! Ando
para aqui às voltas para ver se me saio bem na explicação, mas não “dou uma
para a caixa” –é certo que tenho de ser sério, ou pelo menos parecer, com quem
me lê, eu tenho um certo apriorismo em relação a estes agrupamentos. E que tem
o leitor a ver com isso? Interrogará. O problema é meu, não é de mais ninguém.
E já agora, falando para mim, explica-te “home”! Porquê este “a priori”? Não
sei bem explicar, mas olho para estas instituições e parecem-me a Maçonaria –desculpem-me
a franqueza e isto sem ofensa para o Lions. Sem o saber confinar, tenho algum “ressentimento”
contra grupos especiais da sociedade. Mas terá algum mal o facto de existirem?
Pergunto a mim próprio. Não, claro que não. Mas é como se verdadeiramente no
seu âmago, certamente sem o desejarem, acabam a discriminar pessoas simples,
como por exemplo, sei lá, o senhor Urbano, engraxador do Café Santa Cruz. Será
só isso mesmo? Continuo a interrogar-me –fosca-se, que até já estou a
transpirar com tanta questão. Talvez não. Talvez isto seja mais profundo. Talvez
seja o complexo de pobre –o hardware que está gravado no chip e por mais, que
se lave o disco nunca sai. Está lá até ao último suspiro. Não sei se estou a
ser claro, mas quem nasceu muito pobre, por mais voltas que a vida dê, jamais deixará
de ser o “Carlitos” do filme de Manuel de Oliveira, de 1942, Aniki Bóbó. Mas será por isso
que eu embirro com os clubes especiais tão naturais nas sociedades hodiernas?
Então eu sei lá? Que mania que eu tenho de estar para aqui a formular interrogações?!
Será que uma parte da minha pessoa pertence ao SIS?! Sei lá! Se calhar!...
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