(Imagem da Web)
(RETIRADO DO FACEBOOK, COM A DEVIDA VÉNIA, E COM ALGUNS ARRANJOS ESTILÍSTICOS, MAS SEM ALTERAR O SENTIDO DO TEXTO)
Coimbra, 26 de maio, de 2012, por
volta das 21 horas!
Entro no Hospital da Universidade de Coimbra (HUC) e dirijo-me imediatamente ao guichet de atendimento. Lá dentro duas funcionárias discutiam entre si, calmamente, o horário e os turnos que ambas teriam de suportar numa semana próxima. Olhei para trás e para os lados e só estava eu ali para ser atendido. Falavam disto, daquilo, e eu não era mais que uma miragem. Passei ali cerca de 10 minutos a olhar para a indiferença pela minha pessoa por parte destas duas profissionais de tarimba. Bolas, pá! Pensei. Eu até reclamava, mas nem consigo abrir a boca com tantas dores que aqui trago num dente. Por fim, uma delas lá se sentou e pediu-me o cartão de cidadão. Com tanta dor enganei-me e dei-lhe a carta de condução…
Entro no Hospital da Universidade de Coimbra (HUC) e dirijo-me imediatamente ao guichet de atendimento. Lá dentro duas funcionárias discutiam entre si, calmamente, o horário e os turnos que ambas teriam de suportar numa semana próxima. Olhei para trás e para os lados e só estava eu ali para ser atendido. Falavam disto, daquilo, e eu não era mais que uma miragem. Passei ali cerca de 10 minutos a olhar para a indiferença pela minha pessoa por parte destas duas profissionais de tarimba. Bolas, pá! Pensei. Eu até reclamava, mas nem consigo abrir a boca com tantas dores que aqui trago num dente. Por fim, uma delas lá se sentou e pediu-me o cartão de cidadão. Com tanta dor enganei-me e dei-lhe a carta de condução…
-Ó senhor, tenha lá paciência! Não
traz consigo outra identificação? Olha, ó Carmo, vem aqui tu que eu já estou
farta disto!
A outra senhora, quente como um
glaciar, lá pegou no cartão de cidadão e perguntou:
- Então, de que é que se queixa?
Apontei para o abcesso que quase me desfigurava
a cara.
Perguntou isto, aquilo, mais aqueloutro e eu lá ia respondendo a custo.
Perguntou isto, aquilo, mais aqueloutro e eu lá ia respondendo a custo.
-Agora vá ali para dentro, para a
sala de triagem, que alguém o irá chamar!
Porreiro, pensei, destas já me
livrei! Ao fim de cerca de meia hora lá fui chamado e entrei. Então, numa
espiral de acontecimentos rocambolescos, que ao fim desta desventura me levaram
a pensar se não estaria na urgência de um qualquer hospital de um país sul-americano,
em plenos anos de 1970, lá fui chamado.
-Então é do dente não é? -Interrogaram. Olhe, o
serviço de estomatologia só passará a funcionar aqui a partir de 2ª feira, pelo
que temos de o enviar, a si, e a outras 3 pessoas numa ambulância para o
Hospital dos Covões, sendo que a partir desta segunda este serviço será extinto
naquele hospital e tudo passará para aqui para os HUC.
Avisei a minha Margarida e o meu
Tiago: -Olhem, passa-se isto assim, assim, e é melhor irem já para os Covões,
que eu já lá irei ter!
Esperei junto a um ancião que
tinha a boca toda ensanguentada e estava ali desde as 8h00 da manhã! Ao ver tal
moldura, perguntei a uma enfermeira que passava, porque razão ali estava aquele
homem naquelas condições e ninguém tivera pelo menos a preocupação de verificar
o estado daquele ser humano, e, pelo menos, ir limpando aquele sangue.
-Eu entrei agora, já vou tentar
saber! –atirou a profissional de saúde.
Nunca mais vi esta senhora
enfermeira! Passou-se mais algum tempo até que me levantei e pedi uma gaze num
balcão em frente. Deram-ma! Molhei-a em água e limpei o rosto do acidentado que
me agradeceu vivamente, dizendo que não percebia o que lhe tinha acontecido.
-Comecei a sangrar de repente, e
vim aqui. Até agora a única coisa que me disseram foi para esperar. Somos uns
sacos velhos que para aqui andamos de um lado para o outro! Retorquiu o homem
com tristeza.
Ao fim de cerca de mais uma hora
lá nos chamaram para irmos para a ambulância que nos levaria aos Covões! O
condutor, homem de meia idade, barafustava com a enfermeira que nos iria
acompanhar:
-Bolas, Ana! Pá, são precisas
três horas para colocar 3 pessoas dentro da ambulância?
-Ó António, que é que tu queres?
Eu estou aqui sozinha, e, afinal, não são só três, são quatro. Estou á espera de
uma senhora que tem problemas psiquiátricos e que temos, antes de ir aos Covões,
de deixar em Celas! –Defendeu-se a enfermeira.
Já dentro da ambulância esperámos
mais uma hora. A dita senhora, alegadamente com problemas psíquicos, era muito
problemática e andava de muletas! Enquanto caminhava, ia despejando impropérios
contra o mundo e todos os seres que nele habitavam, e demorou bastante a chegar
até nós.
- Filhos deste e daquele –despejava
veneno. Eu não preciso de ajuda para subir para a ambulância! Seus crápulas, “bandalhos”,
ando aqui a sofrer há mais de 40 anos e estou-me bem marimbando para todos vós,
corja de incompetentes! –Semeava a mulher ao vento.
Não deixei de pensar que esta
senhora, pelos vistos doente psiquiátrica, era a voz da razão de todos nós, que
feitos ovelhas lá íamos moendo as dores em silêncio! Nisto vem a correr a
funcionária que me atendeu no guichet, que tinha passado o trabalho à outra, e
interrogou:
-O senhor Óscar Dinis? Indagou.
-Sou eu –Respondi.
-O senhor não pagou a taxa moderadora! São 20
euros e mais uns trocos!...
Não conseguindo irritar-me devido
ao estado febril em que já me encontrava, disse-lhe:
-Taxa moderadora de quê minha
senhora? A única coisa que até agora tive de assistência médica foi ter de
esperar mais de 2 horas aí dentro e mais uma na ambulância!
-Então paga depois, é? Enfatizou.
Não quis retorquir mais.
Levantei-me do assento do veículo hospitalar e fui com a senhora ao guichet
fazer o pagamento!
-Pronto! Agora já pode seguir! -Disse,
zelosa do seu profissionalismo. Não deixei de sentir que houve por ali, naquela
alma, a soberba sensação de quem apanha um caloteiro!
Após paragem em Celas para deixar a tal doente mental –diziam que era, mas fiquei com dúvidas-, lá fomos para os Covões!
Após paragem em Celas para deixar a tal doente mental –diziam que era, mas fiquei com dúvidas-, lá fomos para os Covões!
-Têm todos o cinto posto? Temos de
ser rigorosos! Ponham lá o cinto se fazem favor! –Retorquiu o condutor numa
espécie de ladainha que, verdadeiramente, ninguém levou a sério.
Aquelas palavras, ditas assim,
com aquele descaramento, bateram-me forte, isto é, deixaram-me a reflectir. Afinal, sempre havia rigor e firmeza
em algum ponto desta história -senti-me como aquele aluno da 1ª classe que sem
ter feito mácula alguma, e estando a ser vítima de várias incompetências, ainda
levou uma esfrega daquelas, porque não tinha o cinto posto! Não pude deixar de
pensar: "temos de ser rigorosos!".
Cheguei aos Covões por volta da meia-noite. Mais uma vez, mais do mesmo: triagem, espera e por fim, ao cabo de algum tempo, lá um doutor me chamou!
Cheguei aos Covões por volta da meia-noite. Mais uma vez, mais do mesmo: triagem, espera e por fim, ao cabo de algum tempo, lá um doutor me chamou!
-Tem isso muito infectado. Vou dar-lhe
um antibiótico e uns comprimidos para as dores e depois passa cá na 2ª feira.
Se for caso disso, e se estiver em condições, retiro-lhe o dente! Abismado,
olhando fixamente o médico, disse:
-Pois, ó doutor, na 2ª feira? Pelo
que sei, neste dia este serviço será incorporado no hospital central, nos HUC! –Remoí
com alguma indisfarçável secura.
O homem olhou para mim incrédulo:
-O quê? É já na 2ª feira?...
Levantou-se que nem uma mola e
foi perguntar a alguém num corredor contiguo à sala onde me encontrava. Entrou
minutos depois e disse:
-Olhe, se calhar, então é melhor
apresentar-se nos HUC... leva este papelinho e depois lá deverá ser direcionado
ao serviço de estomatologia!
Moral da história: gastei 40 euros, e 4 horas. Trouxe o dente, e também um receituário que me haverá de ficar mais oneroso ainda!
Segunda-feira vou a um dentista na Baixa de Coimbra... e, tenho a certeza, vou pagar mais 40 euros... mas, decerto, desta vez, não trarei este maldito dente, nem entrarei em lista de espera. Assim no género do “espera e daqui vais para ali, para acolá e continuas a esperar!". Isso acabou!
Óscar Dinis
(Peço desculpa pela escrita, que pode ser pouco coerente... mas dói-me o dente!)
Moral da história: gastei 40 euros, e 4 horas. Trouxe o dente, e também um receituário que me haverá de ficar mais oneroso ainda!
Segunda-feira vou a um dentista na Baixa de Coimbra... e, tenho a certeza, vou pagar mais 40 euros... mas, decerto, desta vez, não trarei este maldito dente, nem entrarei em lista de espera. Assim no género do “espera e daqui vais para ali, para acolá e continuas a esperar!". Isso acabou!
Óscar Dinis
(Peço desculpa pela escrita, que pode ser pouco coerente... mas dói-me o dente!)
6 comentários:
Posso considerar que sou um sortudo, sempre que tenho de ir às urgências sou muito bem atendido, mas já a minha esposa tem razões de queixa.
Existe falta de profissionais em todas as áreas.
Caro Luís, antes de mais deixe-me parabenizá-lo pelo excelente trabalho que faz no seu blog. Costumo acompanhá-lo, mas foram alguns posts que li recentemente, este em especial, que me levaram a comentar no seu blog.
Os meus avós faleceram ambos em Outubro do ano passado com cancro. Em relação aos cuidados médicos do meu avô não tenho nada a apontar. Tanto a sua médica de família como o médico que o seguia nos Covões eram excepcionais (e o meu falecido avô era uma pessoa com um feitio um pouco especial…).
No que toca á minha avó, a situação era diferente. Tinha uma médica de família que é a incompetência em pessoa (não sei que outro adjectivo utilizar para descrever uma profissional que, numa consulta de urgência, em vez de estar com atenção a mim e ao problema que ali me levava esta mais preocupada em discutir com outra médica se o enfermeiro A era mais “jeitoso” que o enfermeiro B, que nem um exame com o diagnóstico já feito foi capaz de ver em condições e que me medicou mal para a cura de uma pneumonia – convém dizer que tenho asma e que não posso tomar qualquer tipo de medicamento), uma médica que mesmo após a minha avó se queixar que cada vez tinha mais dificuldades em andar, sempre descartou o problema e nunca a mandou fazer um exame. O mesmo aconteceu na urgência do hospital dos Covões. Tivemos que levar a minha avó para o referido hospital de urgência pois deixou de conseguir andar, literalmente e por duas vezes, de um momento para o outro. Nunca lhe fizeram nada, limitaram-se a dar-lhe soro e a mandá-la para casa. Só à terceira vez e com uma cunha lhe fizeram um exame e se descobriu a doença de que padecia.
Eu pergunto-me: será que se estes senhores se esquecem que fazem um juramento? Será que se esquecem que não somos meros pedaços de carne? Será que ela estaria viva se estes senhores tivessem feito o seu trabalho?
A minha avó, que era uma mulher cheia de vida e que não dependia de ninguém para nada, viu-se presa a uma cama durante quase dois anos. Teve que ser levada para uma unidade de cuidados continuados por causa das escaras com que ficou por estar acamada. Nessa mesma unidade de cuidados continuados deixaram-na definhar com uma infecção urinária por quase uma semana. Foi novamente levada para os Covões e dessa vez sim encontrou médicos excepcionais, mas infelizmente a negligencia que fora cometida já não pode ser revertida.
Eu sei que se um dia tiver filhos não quero que eles vivam num país assim. Mas infelizmente não me parece que isto vá mudar.
Um bem haja,
AF
Tenho tido imensa sorte.Fui ás urgencia do h.u.c.no principio deste ano tres vezes porque estive a urinar sangue(não com dores de dentes)e fui atendido com grande profissionalismo e humanismo por todas as categorias de profissionais.Estive lá algum tempo,tive que fazer RX e diversas analises como se calcula levam o seu iempo pois que não era o unico doente eram varias pessoa com várias doenças.-
Aconselho aos senhores que dizem que foram mal atendidos irem as urgencias quando não estiver lá nen
hum doente,espreitam e vejam se não á doentes se não houver entrem assim tem todos os profissionais só para você.Pensavam que a redução de funcionarios publicos não nos afectavam . Havemos muita vez por estar horas á espera de ser atendidos por não haver pessoas para nos atender .rogerio.r.
Bom dia,
Tive um episódio infeliz nos HUC que terminou com a morte do meu avô. Entretanto criei uma página para partilha de experiências entre utentes e familiares de utentes dos HUC para que este tipo de histórias (e positivas se houverem) seja partilhado pelo máximimo número de pessoas. Poderia ajudar a promover a página e, quem sabe, até a dinamizar ? https://www.facebook.com/utenteschuc
Tenho três histórias com atendimentos nos HUC, e qual delas a mai dramática. A mais recente foi com a minha mãe, entrou no hospital pelo seu pé para uma cirurgia à catarata na qual lhe perfuraram a membrana vítrea. Saíu do hospital cega do olho intervencionado e graves problemas neuro-psiquicos. Não mais andou,está acamada, e só se desloca com muito esforço e ajuda de terceiros.
qual é o nome do dentista na baixa??? e como foi atendido?
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