segunda-feira, 14 de maio de 2012

BAIXA DE LUTO: ENCERROU O RUBEN



 Sem pompa, sem elogios sobre uma vida dedicada ao comércio, encerrou hoje a casa Ruben, na Rua Visconde da Luz. Depois de cerca de quatro décadas estabelecido, e agora com 78 anos, pela força das circunstâncias deste ciclone económico que varre o comércio tradicional, foi obrigado a fechar de vez o livro com um epílogo que deixa, em quem aqui trabalha, uma grande tristeza, um sentido de perda, como se uma parte de nós se apagasse. O que mais entristece é este sentimento de incapacidade em poder ajudar uma pessoa boa.
Não falei com o senhor Ruben, escrevo esta crónica um pouco à revelia, mas, mesmo correndo o risco de ser invasor de uma privacidade legítima e intimista, há qualquer coisa que me impele a contar mais um drama do nosso quotidiano. Além de mais, todos sabemos, a nossa existência é marcada por momentos, imagens guardadas na nossa mente, e eu tenho uma boa acção deste comerciante que não posso esquecer. Nos primeiros dias de fevereiro, deste ano, juntamente com mais dois colegas, andei, de loja em loja, a apelar à solidariedade e auxílio para um outro comerciante, o Armindo Gaspar, que fora assaltado e que, com urgência, necessitava de ajuda imediata. Quando cheguei ao estabelecimento do senhor Ruben hesitei –tal como os presentes, sabíamos das dificuldades que este profissional estava atravessar-, assim naqueles balanços que antecedem uma decisão, … “entro… não entro, temos o direito de estar a pedir socorro a quem precisa dele?”. Entrámos, e, para nossa surpresa, numa generosidade sem limites, numa lição de partilha, o senhor Ruben, puxando de uma nota de 50 euros, mostrou ali, a todos nós, o quanto um homem de virtude, mesmo na desgraça, pode ser grande. É por este gesto, sobretudo por este estender a mão a quem estaria ainda mais aflito, que sinto uma impotência sem limites.
Bem sei que a lei dos homens, na maioria dos casos, não se rege pelo que é ético e moral, mas sim pelo que está prescrito nos códigos. No entanto, considerando que estamos perante uma imoralidade, não podemos ficar impávidos e serenos a olhar sem, no mínimo, lamentar que um homem que, tal como a maioria dos comerciantes, vindo dos interstícios da humildade, começou a trabalhar com 11 anos, e agora, que deveria ter direito, por recompensa, a um acabar dos dias em paz, num trambolhão ciclópico, vê-se nas malhas da indigência. Já o escrevi muitas vezes: o que está acontecer ao senhor Ruben dever-nos-ia fazer pensar a todos. Não está certo, ponto e parágrafo. É que o problema nem sequer é linear: há muitos mais casos em fila de espera aqui na Baixa da cidade.
Sobretudo os comerciantes que vão resistindo, precisamos de, urgentemente, fazer alguma coisa para acudir a quem, sem rede, está a cair nas malhas da penúria.
Mesmo sem uma sede atribuída em definitivo, está constituída uma comissão instaladora e os respectivos estatutos para fazer nascer a “Casa do Comerciante da cidade de Coimbra”. Dentro de alguns dias, contamos levar ao conhecimento público este empreendimento sem fins lucrativos. Pelo reconhecimento humano, pelo sentimento de justiça que temos dentro de nós, temos todos de fazer alguma coisa. Seguindo o exemplo do senhor Ruben, agora caído nas malhas da insolvência, temos obrigação de distribuir um pouco do que temos pelos outros que já nada têm. Como espectadores insensíveis sentados na plateia a ver a peça de “Os Miseráveis, de Victor Hugo, não podemos continuar a ver cair os nossos vizinhos e nada fazer. Um homem cresce ao baixar-se para ajudar alguém.

1 comentário:

Anónimo disse...

A JUNTA E FREGUESIA DE SÃO BARTOLOMEU, FICA TRISTE AO LER ESTA NOTICIA.
DESEJAMOS AS MAIORES FELICIDADES AO SR. RUBEN E FAMILIA.
COMERCIANTE DA BAIXA DE COIMBRA, É COM TRISTESA QUE VIMOS ENCERRAR ESTE NOBRE ESTABELECIMENTO COMERCIAL. ONDE O COMÉRCIO TRADICIONAL ESTÁ A CHEGAR.
QUEM OS APOIA?
O EXECUTIVO