Sem pompa, sem elogios sobre uma vida
dedicada ao comércio, encerrou hoje a casa Ruben, na Rua Visconde da Luz.
Depois de cerca de quatro décadas estabelecido, e agora com 78 anos, pela força
das circunstâncias deste ciclone económico que varre o comércio tradicional,
foi obrigado a fechar de vez o livro com um epílogo que deixa, em quem aqui
trabalha, uma grande tristeza, um sentido de perda, como se uma parte de nós se
apagasse. O que mais entristece é este sentimento de incapacidade em poder
ajudar uma pessoa boa.
Não falei com o senhor Ruben,
escrevo esta crónica um pouco à revelia, mas, mesmo correndo o risco de ser
invasor de uma privacidade legítima e intimista, há qualquer coisa que me
impele a contar mais um drama do nosso quotidiano. Além de mais, todos sabemos, a nossa existência é marcada por momentos, imagens guardadas na nossa mente, e
eu tenho uma boa acção deste comerciante que não posso esquecer. Nos primeiros
dias de fevereiro, deste ano, juntamente com mais dois colegas, andei, de loja
em loja, a apelar à solidariedade e auxílio para um outro comerciante, o
Armindo Gaspar, que fora assaltado e que, com urgência, necessitava de ajuda
imediata. Quando cheguei ao estabelecimento do senhor Ruben hesitei –tal como
os presentes, sabíamos das dificuldades que este profissional estava atravessar-,
assim naqueles balanços que antecedem uma decisão, … “entro… não entro, temos o
direito de estar a pedir socorro a quem precisa dele?”. Entrámos, e, para nossa
surpresa, numa generosidade sem limites, numa lição de partilha, o senhor
Ruben, puxando de uma nota de 50 euros, mostrou ali, a todos nós, o quanto um
homem de virtude, mesmo na desgraça, pode ser grande. É por este gesto,
sobretudo por este estender a mão a quem estaria ainda mais aflito, que sinto
uma impotência sem limites.
Bem sei que a lei dos homens, na
maioria dos casos, não se rege pelo que é ético e moral, mas sim pelo que está
prescrito nos códigos. No entanto, considerando que estamos perante uma
imoralidade, não podemos ficar impávidos e serenos a olhar sem, no mínimo,
lamentar que um homem que, tal como a maioria dos comerciantes, vindo dos
interstícios da humildade, começou a trabalhar com 11 anos, e agora, que
deveria ter direito, por recompensa, a um acabar dos dias em paz, num trambolhão
ciclópico, vê-se nas malhas da indigência. Já o escrevi muitas vezes: o que
está acontecer ao senhor Ruben dever-nos-ia fazer pensar a todos. Não está
certo, ponto e parágrafo. É que o problema nem sequer é linear: há muitos mais
casos em fila de espera aqui na Baixa da cidade.
Sobretudo os comerciantes que vão
resistindo, precisamos de, urgentemente, fazer alguma coisa para acudir a quem,
sem rede, está a cair nas malhas da penúria.
Mesmo sem uma sede atribuída em
definitivo, está constituída uma comissão instaladora e os respectivos
estatutos para fazer nascer a “Casa do Comerciante da cidade de Coimbra”.
Dentro de alguns dias, contamos levar ao conhecimento público este empreendimento
sem fins lucrativos. Pelo reconhecimento humano, pelo sentimento de justiça que
temos dentro de nós, temos todos de fazer alguma coisa. Seguindo o exemplo do
senhor Ruben, agora caído nas malhas da insolvência, temos obrigação de
distribuir um pouco do que temos pelos outros que já nada têm. Como
espectadores insensíveis sentados na plateia a ver a peça de “Os Miseráveis, de
Victor Hugo, não podemos continuar a ver cair os nossos vizinhos e nada fazer. Um
homem cresce ao baixar-se para ajudar alguém.
1 comentário:
A JUNTA E FREGUESIA DE SÃO BARTOLOMEU, FICA TRISTE AO LER ESTA NOTICIA.
DESEJAMOS AS MAIORES FELICIDADES AO SR. RUBEN E FAMILIA.
COMERCIANTE DA BAIXA DE COIMBRA, É COM TRISTESA QUE VIMOS ENCERRAR ESTE NOBRE ESTABELECIMENTO COMERCIAL. ONDE O COMÉRCIO TRADICIONAL ESTÁ A CHEGAR.
QUEM OS APOIA?
O EXECUTIVO
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