(IMAGEM DA WEB)
Para gáudio de todos nós, há cerca de uma semana, a Unesco declarou o nosso fado como Património Imaterial da Humanidade.
Como se sabe o processo foi desencadeado, e acompanhado, por uma série de entidades ligadas a esta expressão popular portuguesa, entre outras, a Câmara Municipal de Lisboa.
Antes de avançar vou lançar a primeira questão: haverá apenas um fado enquanto género e de manifestação popular? Se é assim, sabendo nós que esta canção triste se divide em dois estilos diferenciados, entre Coimbra e Lisboa, como qualificar esta distinção da Unesco? Será que esta proclamação é universal, e por isso mesmo envolvendo Coimbra e Lisboa, isto é, classificando o fado numa classe e grupo único protegido e deixando a nomenclatura dos subgrupos à discussão das entidades nacionais? Penso que será assim. Pelo menos é o que me parece mais lógico, mas esta minha posição pode não ser unânime –do ponto de vista egoísta, e até de legitimidade, não estará certo a cidade de Lisboa ter investido muito nesta classificação e depois, a reboque, Coimbra vir a apanhar os efeitos de rentabilidade turística mundial num trabalho transpirado por outrem.
Antes de avançar vou lançar a primeira questão: haverá apenas um fado enquanto género e de manifestação popular? Se é assim, sabendo nós que esta canção triste se divide em dois estilos diferenciados, entre Coimbra e Lisboa, como qualificar esta distinção da Unesco? Será que esta proclamação é universal, e por isso mesmo envolvendo Coimbra e Lisboa, isto é, classificando o fado numa classe e grupo único protegido e deixando a nomenclatura dos subgrupos à discussão das entidades nacionais? Penso que será assim. Pelo menos é o que me parece mais lógico, mas esta minha posição pode não ser unânime –do ponto de vista egoísta, e até de legitimidade, não estará certo a cidade de Lisboa ter investido muito nesta classificação e depois, a reboque, Coimbra vir a apanhar os efeitos de rentabilidade turística mundial num trabalho transpirado por outrem.
Mas, aceitando ser assim, não deveria “alguém” da cidade universitária vir dizer alguma coisa aos conimbricenses? –Coloco “alguém” entre aspas porque não será fácil de escrever a quem cabe este esclarecimento. Será à Câmara Municipal, enquanto representante social e económico de todo um distrito? Será à Associação Académica de Coimbra (AAC), enquanto “madrasta”-em oposição de mãe- da canção coimbrã? É que na urbe, como em Lisboa, as reminiscências do fado perdem-se no tempo, com cada cabeça sua sentença, mas uma coisa parece certa: nasceu na rua. Mais tarde, para o bem e para o mal, veio a ser acolhido pelos estudantes da Universidade, sobretudo através da sua associação centenária. Para o bem, porque se não fosse albergado poder-se-ia ter perdido enquanto estilo muito próprio e, quem sabe, não teria ido muito além de modinha popular. Para o mal, porque esta hospedagem não foi gratuita. Os estudantes, com o tempo, transformam-se em seu “dominus” por “usucapião”, fazendo dele escravo da sua vontade, e, contrariando a sua essência comum, para além de o usarem como arma política durante o Estado Novo, tornaram-no erudito e selectivo –para uma certa elite- e impediram que enquanto canção do povo descesse às tascas e tabernas da cidade –já para não falar no escândalo de há duas décadas, quando a academia impediu que uma mulher cantasse num festival promovido pela Previdência Portuguesa.
Voltando à entidade que deve um esclarecimento, e reconhecimento, inclino-me que deveria ser a autarquia. Não sei se o estará a fazer, mas, a meu ver, politicamente, deveria contactar a “comissão proponente de Lisboa” e, numa conversa franca –quanto mais não fosse através de uma moção camarária para agradecer o trabalho desenvolvido na rentabilização turística para Portugal inteiro- interrogar até que ponto poderá “utilizar” o seu esforço na declaração do fado como Património Imaterial da Humanidade em prol da cidade universitária. Mais ainda, depois deste preliminar contacto, deveria a edilidade aproveitar esta maré de glorificação e apostar um pouco na divulgação da trova coimbrã. E ainda, mais uma vez aproveitando os ventos favoráveis à canção mondeguina, deveria desencadear meios de licenciamento simples para tabernas ou restaurantes que incluíssem fado. E já agora, como fez há muitas décadas no Chiado, para captar novos valores –e até retirar legitimamente o feudo à A.A.C.- deveria criar uma escola de fado na cidade. Bons professores de canto e guitarra não lhe faltam, assim tenha o executivo camarário vontade política. É que é preciso não esquecer que, do ponto de vista comercial, no rigor contratual, o fado desenvolvido, saído e tratado na AAC é notoriamente amador. Apesar de já há muito ter ultrapassado as nossas fronteiras, na cidade, é encarado sem grande profissionalismo. Ora é exactamente aqui, em defesa do futuro, que é necessário actuar com rapidez.
É certo que nos últimos anos surgiram três ou quatro locais na Baixa onde se pode ouvir fado de Coimbra. Naturalmente que, em qualidade, uns melhores do que outros. Mas sabe-se da extrema dificuldade em assegurar a pontualidade e o cumprimento de alguns grupos. Para além do elevado custo.
Uma coisa é certa, este silêncio por parte da cidade, no mínimo, é confrangedor. Dá impressão que, perante o sucesso de Lisboa, Coimbra prefere enterrar a cabeça na areia e deixar passar a onda. O que acontece é que, como quem pratica surf, é preciso obrigatoriamente aproveitar o momento. E uma região, sobretudo numa conjuntura de declínio económico como o que atravessamos, não se pode dar ao luxo de desperdiçar oportunidades. E esta ocasião é única. Vamos lá, senhores, é preciso pôr mãos à obra.
E, naturalmente, como não poderia deixar de ser, muitos parabéns a Lisboa pelo sucesso alcançado.
E, naturalmente, como não poderia deixar de ser, muitos parabéns a Lisboa pelo sucesso alcançado.
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